Com abordagem leve e simpática, Kevin (probably) saves the world expressa toda a simbologia que a rede ABC aponta em suas séries
The Middle, Modern Family, Blackish. Com o passar do tempo começou a ficar claro que a rede norte-americana ABC tinha uma vontade de tentar imprimir uma espécie de padrão em suas comédias. Séries com uma temática leve, que não fosse muito direta, incisiva ou chocante, foram se consolidando. Muitas produções não conseguiram se adaptar as tramas a esta vertente, mas Kevin (probably) saves the world provavelmente foi o grande ponto fora da curva.
O primeiro ponto positivo da série é não ter um enredo tão simples assim. Kevin (Jason Ritter) é um jovem rapaz que – como a grande maioria de nós – sempre procurou uma definição simplória de sucesso na vida, ou seja: dinheiro, um relacionamento de capa de revista e fama. Também como a grande maioria de nós, Kevin não teve muito sucesso em alcançar tais objetivos e, após perder a namorada e o emprego em Wall Street, tenta o suicídio.
A experiência de quase morte o faz ir morar com a irmã gêmea, Amy (JoAnna Garcia), e a sobrinha Reese (Chloe East), no interior, e ter de aprender como seguir uma vida que agora está sem sentido. Só esse enredo já poderia ser interessante, mas K(P)STW vai um pouco além. O grande plot do piloto é a descoberta de que Kevin é, na verdade, uma “alma generosa”, ou seja, uma espécie de salvador do mundo. A cada geração a humanidade deveria ter 36 almas generosas para lidar com os problemas da terra, mas, por alguma razão, todas elas morreram e temos apenas o Kevin.
Para ajudar Kevin a lidar com a nova “função”, Deus envia à terra uma anja, Yvette. O personagem funciona como um importante escape cômico da produção, já que é uma enviada dos céus cheia de boas intenções, mas sem muita paciência para lidar com as falhas de Kevin. Essa, inclusive, é outra fonte de humor na produção. O homem não tem muitas qualidades positivas e, numa situação à la The Good Place, precisa aprender a deixar toda sua ganância, ambição, maldade, preguiça, inveja, decepções, rancor e mentiras para trás – pelo menos se quiser continuar sentido a maravilhosa sensação que lhe ocorre ao ajudar outro humano.
De uma forma leve e com um ritmo sutilmente bem desenvolvido, K(P)STW se posiciona como uma produção de qualidade, que é divertida e ainda é capaz de passar uma mensagem. Alguns erros poderiam ter sido evitados, como a chegada de Yvette no meteoro (isso foi constrangedor, na verdade) e as forçadas situações cômicas entre Kevin e ele mesmo, mas em geral, é uma produção que vale a pena acompanhar.