O isolamento social é tema de programas de humor como Vai passar, Sinta-se em casa e Zorra. São exemplos de como, em tempos como o que vivemos hoje, a comédia pode salvar
A rotina e fatos do cotidiano sempre foram fontes de inspiração para a comédia. Com o isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus em todos os estados do país não seria diferente. Atrações como Vai passar (Multishow), Sinta-se em casa (Globoplay) e Zorra (Globo) se valem da quarentena para divertir quem está em casa sem perder a conexão com a realidade e apresentando conteúdo inédito num tempo em que a teledramaturgia foi tomada por reprises.
Um dos diretores do Vai passar, Silvio Guindane afirma que “o humor vem da observação do mundo, é uma espécie de lente de aumento das situações e do comportamento humano”. Por isso, para Silvio é natural que um momento como este que estamos atravessando esteja na mira de roteiristas de humor. “Ter a possibilidade de fazer um projeto para alegrar as pessoas neste período é mais que uma honra, é a possibilidade de, por meio do nosso ofício e com a comédia, colaborar com um alento para a vida dos brasileiros”, completa, em entrevista ao Correio.
Silvio conta que, ao assistir a um programa como o Vai passar, em que moradores de um condomínio discutem como podem conviver e interagir uns com os outros, mesmo no isolamento, o público pode se ver na tela. O humorístico traz, no elenco, nomes como Patrycia Travassos, Rodrigo Sant’Anna e Leandro Hassum, entre outros — cada um no que seria o apartamento do personagem, sem que se encontrem para contracenar. Os personagens dos mais variados tipos se comunicam via telefone, interfone, teleconferência ou no grito mesmo.
“O meu barato é contar histórias, jogar, fazer com que o público se identifique, se observe, reflita o mundo. E, nessa brincadeira, vou refletindo também e amadurecendo como pessoa. Acredito que a busca do autoconhecimento é infinita e fascinante. Por isso, sou apaixonado por dramaturgia, exercendo a função que for”, afirma o polivalente ator.
Silvio é o próprio exemplo de que o período de quarentena pode ser produtivo. O professor Marco André, de Segunda chamada (outro trabalho dele que flerta com a realidade, mas sem passar pelo humor), garante que não parou de trabalhar: “Estou adaptando Tempo de despertar, de Oliver Sacks, para o teatro (projeto que irei dirigir também), escrevendo um espetáculo infantil, desenvolvendo dois projetos de séries e mexendo no roteiro do longa metragem que irei dirigir em 2021.”
Humor e realidade são marcas registradas de Adnet
Levar a realidade para esquetes e quadros de humor não é bem uma novidade para Marcelo Adnet. Ele fez isso com maestria durante as seis temporadas do Tá no ar: A TV na TV. Agora, ele está à frente do Sinta-se em casa, programete gravado diretamente da casa de Adnet que entra no Globoplay de segunda a sexta, às 19h, e é exibido no dia seguinte no Encontro com Fátima Bernardes.
Em Sinta-se em casa, Adnet usa sua verve crítica e o humor para falar sobre desde as investigações sobre a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal até as dificuldades do isolamento social, passando por declarações desastradas de vários governantes — tudo como se fosse uma grande crônica daquele dia.
“Uma nova realidade chegou pra todos nós, surpreendendo toda a humanidade. Temos que nos adaptar ao novo jeito de viver. São vídeos simples, feitos de casa, artesanalmente, apenas com o que tenho nas gavetas. A humanidade se reinventa e se adapta nas mais diversas áreas”, diz Adnet, no material de divulgação do programa.
Por causa da pandemia, as gravações do humorístico Zorra foram interrompidas às vésperas de uma nova temporada entrar no ar. O jeito foi exibir um compilado com o que já foi piada por lá. Mas, para não perder o frescor, o programa começa com uma esquete inédita, gravada da casa dos humoristas e tendo exatamente a quarentena como foco.
“Algumas cenas gravamos direto do aplicativo, outras, gravamos da câmera do próprio ator. Nem sempre é tão fácil, porque tem muitas variáveis interferindo. Desde a eficiência da conexão à rotina de cada pessoa. E tudo isso somado à necessidade de estar espontâneo e entregue ao trabalho”, afirma Mauro Farias, diretor do programa, em material de divulgação da atração.
Apostando na máxima de que rir é o melhor remédio, esses humoristas acabam ajudando a combater o tédio de ficar em casa. A gente agradece.