As séries nacionais da Netflix costumam ser uma caixinha de surpresas. A ficção científica 3% teve sucesso fora do país, mas, por aqui, não agradou tanto ao público. Algumas outras atrações passaram despercebidas da maioria da audiência, até que Coisa mais linda conseguiu engajamento entre os brasileiros. Desde a última sexta-feira, a plataforma de streaming viu Boca a boca, outra aposta nacional, aparecer no topo das produções mais vistas do fim de semana. A atração estreou exatamente na sexta, 17 de julho.
Mas por que Boca a boca conseguiu furar essa bolha e se tornou num possível hit brasileiro da Netflix? Há alguns motivos. O primeiro é o perfeito timing do lançamento. Apesar de ter sido pensada muito antes da pandemia do novo coronavírus — o criador Esmir Filho contou ao Correio que levou a proposta da série há dois anos para a Netflix –, o seriado tem como tema um surto epidêmico de uma doença desconhecida transmitida pelo beijo.
Só essa sinopse já cria uma curiosidade em torno da história por conta da atualidade. Além disso, a série utiliza muito bem todas as fases de um epidemia, que são parecidas com de uma pandemia, e isso torna Boca a boca ainda mais relacionável. Há na narrativa o desconhecimento da doença, a acelerada disseminação, o pânico, a diferença social, entre outros aspectos comuns aos surtos ao longo dos anos. Isso tudo graças a um estudo do criador de Boca a boca dos principais quadros de epidemia que aconteceram no mundo.
Outro mérito é a forma como essa história é contada. A tal doença permeia a narrativa de três protagonistas bastante interessantes. De certa forma, tudo começa a partir da perspectiva de Fran (Iza Moreira), que é a primeira personagem a ter contato com a primeira pessoa a ter os sintomas da doença revelados, Bel (Luana Nastas).
Fran é uma menina mais retraída e se afeta muito com a doença de Bel. Ela é filha de Dalva (Grace Passô), uma das funcionárias da principal fazenda da fictícia cidade de Progresso, ambas estão correndo o risco de serem despejadas da Colônia, local onde os servidores da fazenda moram, por conta de problemas no braço de Dalva que a impedem de trabalhar. Sem trabalho, não há moradia. Fran traz vários assuntos à tona. O entendimento da sexualidade e a questão social, por exemplo.
Outro protagonista é Alex (Caio Horowicz), filho do principal fazendeiro de Progresso. O jovem vive em conflito com a família por ter ideais opostos, como ser vegano enquanto o ofício maior do clã está no gado. Ele é um dos garotos que, junto com Fran, começa a tentar mapear os próximos infectados da doença, já que antes de Bel ter os sintomas, a maioria dos personagens da trama participaram de uma rave, em que vários deles se beijaram. Aqui também há uma discussão sobre sexualidade, mas a mais forte está no conflito mesmo com a família.
No outro lado da tríade, há Chico (Michel Joelsas), jovem mais transgressor que veio da cidade “grande”, amigo de Alex e Fran e um dos envolvidos no “beijaço” da rave. Chico é um dos personagens mais carismáticos. Ele traz à tona a sexualidade, também, principalmente, em meio a uma cidade conservadora como é Progresso e à comunidade da qual ele e os outros personagens fazem parte. Chico, inclusive, é filho de um homem completamente ligado à religião.
Já pelo enredo dos protagonistas, que vão ao longo da história de certa forma buscar a origem e a “cura” para a epidemia, dá para perceber que Boca a boca traz discussões atuais de um ponto de vista maduro, apesar de ser uma trama voltada para o público mais jovem. Os conflitos não são bobos. Mas é claro que nem tudo é perfeito. Há a problemática na abordagem de alguns assuntos, o que não chega a prejudicar.
Visualmente a série tem acertos e erros. Os momentos dedicados à rave são muito bonitos e expõem uma bela fotografia. A questão da doença, em si, e os sintomas soam um pouco trash, mas têm uma certa coerência com as decisões tomadas pela trama.
Em relação à atuação, o elenco principal está muito bem, principalmente porque são novos atores. A presença de artistas de peso também serve para dar força à narrativa. Denise Fraga como a diretora da escola está impagável. A atriz, de fato, rouba a cena em Boca a boca. O problema fica mais nas atuações de coadjuvantes ou até de figurantes que são mais forçadas. No entanto, de novo, não é algo que prejudique a história.
A resolução de epidemia também é feita de forma muito interessante e conectada com as discussões do mundo atual. Além disso, a série tem uma cena extra que deixa um gancho para uma eventual segunda temporada, até então não confirmada.
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