Plena aos 40, Julianne Trevisol transita entre a fé e a fantasia

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Atriz está no ar em Reis, na Record, nas séries Luz e Vicky e a musa, no streaming, e no cinema, com Nosso lar 2

Patrick Selvatti

Aos 40 anos, Julianne Trevisol vive um excelente momento na carreira. No ar há duas temporadas da série Reis, na Record, a carioca pode ser vista também nas séries Luz, da Netflix, e Vicky e a musa, no Globoplay, e no arrasta-quarteirão Nosso lar 2 — Os mensageiros. Revelada na tevê na novela infanto-juvenil Floribella (2005), da Band, a atriz ganhou notoriedade nacional ao dar vida à Gor, na trilogia de Os mutantes, da Record, e Lu, a secretária de Juliana Paes em Totalmente demais (2015)

O talento da artista vai além da dramaturgia. Em 2016, Julianne venceu o reality Super Chef Celebridades, do programa Mais Você e hoje faz cursos de gastronomia. Ela também é bailarina com formação em balé clássico, jazz, sapateado, danças de salão e contemporânea, canto e acrobacia em tecido aéreo.

Em entrevista ao Próximo Capítulo, Julianne Trevisol comenta sobre a espiritualidade presente na novela bíblica e no filme baseado na obra de Chico Xavier e também sobre a relação com o público infanto-juvenil — uma constância em seus trabalhos. “De tempos em tempos, a vida sempre me apresenta algum trabalho que eu volte a conversar com esse público, que nunca saiu da minha vida por completo”, declarou.

Julianne Trevisol | Crédito: Lineker Lenhard

ENTREVISTA | Julianne Trevisol

Você vem com mais uma personagem bíblica e está em cartaz com um filme espírita. Como a fé e a religiosidade se manifestam na sua vida?

Eu sou uma pessoa que tem muita fé em Deus, acima de tudo. Sou cristã, mas eu acredito na espiritualidade independentemente da religião. Eu acredito que a gente vem nesse mundo com as nossas missões, e que a vida não acaba aqui, que a gente tem um propósito maior. Tem algo além disso aqui, né? Existe algo muito além de tudo isso que a gente está vivendo e acho que o grande sucesso de Nosso lar 2, primeiro, que a gente está falando de uma obra que é Chico Xavier, e de um livro que tem uma dimensão muito grande dentro do público espírita, mas, para além desse público, ela fala sobre amor, perdão, união. Ela mostra a fragilidade dos seres humanos e, ao mesmo tempo, a esperança na regeneração da classe humana no geral. Ela aponta conselhos sobre auto responsabilidade, ela faz com que a gente reflita sobre os nossos próprios atos e atitudes. Ela traz um conforto de que os nossos afetos, nossos amores, estão com a gente independente dessa vida, que as coisas se perduram, não são totalmente finitas, que esses afetos e essa evolução que a gente vem passar na Terra tem propósitos muito maiores. Eu acredito que ela expanda muito a mentalidade das pessoas, eu acho que ela emociona muito por todos esses fatores. E justamente no pós-pandemia onde a gente também não via o cinema brasileiro revitalizado por completo, onde as pessoas ainda não estavam indo realmente ao cinema, é um grande privilégio poder participar de uma obra que realmente levou 2 milhões de espectadores ao cinema e ainda está levando. Ela conta uma história transformadora, então ela vai além da arte.

Você está na série Luz, a primeira infanto-juvenil da Netflix no Brasil. Sua primeira novela foi Floribella, uma novela com pegada teen. A novela Os mutantes também tinha esse viés de fantasia. Sua participação recente em Vicky e a musa também. Considera um reencontro com esse universo mais lúdico?

Eu não escolhi isso, mas indiretamente o público infanto-juvenil sempre me escolheu de alguma forma. Eu tenho uma conexão muito forte com criança, eu sempre gostei de criança. Quando eu me formei em dança, me formei em balé, jazz e sapateado, eu comecei a dar aulas para crianças e pré-adolescentes e, quando eu já tinha me formado na faculdade de teatro, eu dei aula para crianças durante muitos anos. Eu tenho ainda vontade de reativar esse projeto para crianças especiais. Eu sou uma das madrinhas do Instituto Vidas Raras, de crianças com doenças raras. Eu entendo que faz parte da minha vida me comunicar com esse público desde sempre e poder levar a arte para eles de alguma maneira. Acho que sim, é um reencontro, eu acho que é sempre uma constância: de tempos em tempos, a vida sempre me apresenta algum trabalho que eu volte a conversar com esse público, que nunca saiu da minha vida por completo. Acho que precisam existir mais produtos com qualidades artísticas, com bons roteiros e com boas histórias para este público, então, quando eu vejo que há um trabalho se propondo a fazer isso, eu adoro poder fazer parte.

A Fernanda de Luz é definida como “leve e com uma pitada de comédia”. Você viveu a memorável Lu, de Totalmente demais, que tinha um perfil voltado para essa curva. Existem semelhanças entre elas?

Muito interessante essa comparação entre a Fernanda de Luz e a Lu de Totalmente demais. Coincidentemente ou não, o nosso diretor geral Thiago Teitelroit foi o mesmo. Quando ele me convidou para fazer os testes para para fazer Luz, eu fiz para outra personagem, não foi para Fernanda, justamente porque nós tínhamos de alguma forma um receio de que ela pudesse ter alguma semelhança com a Lu. A Fernanda também ia ser uma secretária. A Lu tem uma pegada jovial; Fernanda também. A Lu tem uma pegada solar; a Fernanda também. A gente achou que podia ter muitas semelhanças. A Netflix que decidiu realmente por eu fazer a Fernanda e eu falei, “então, bora lá, vai ser interessante, vai ser um desafio”, porque é um personagem que tem semelhanças sim e o grande desafio vai ser encontrar a diferenças delas.

Qual a sua maior lembrança da longa jornada da Gór, de Mutantes?

A Gor foi uma porta de entrada para mim. Foi uma oportunidade muito grande. Eu cheguei para fazer uma participação de dois ou três meses, essa personagem não era necessariamente para ganhar dimensão que ganhou, e ela virou um desafio para mim. Então a minha maior lembrança dessa época foi que eu encarei um desafio de uma personagem que era pequena, mas eu acho que ali tive o espaço e consegui aproveitar essa oportunidade para que ela realmente virasse a grande vilã e se estendesse por três temporadas da novela. Esse processo da criação da personagem e do espaço que eu ganhei com ela e do retorno que eu tive de público foi o primeiro momento na minha vida onde eu me vi sem consegui andar na rua, de as pessoas realmente me reconhecerem muito e quererem ver como era o cabelo da Gor, chegar perto de mim e ver quem era essa menina, essa Julianne Trevisol. Foi minha terceira novela, mas talvez a primeira de maior repercussão no âmbito nacional. Acho que essa é minha maior lembrança.

Vencer o Super chef celebridades te tornou mais competitiva?

Super chef é um momento chave na minha vida porque, quando eu entrei, eu achei que eu não era competitiva. Eu entrei porque eu sou muito estudiosa e eu adoro aprender coisas novas. Eu sempre gostei de gastronomia, mas eu não tinha conhecimento sobre cozinhar. Tinha um instinto de gostar de cozinhar. Eu não tinha muito esse olhar de como era a gastronomia, como era esse universo dos chefs. E aí eu aceitei esse convite, logo quando acabou Totalmente demais, para participar do programa, que era o reality, muito no intuito de aprender porque eu vi que nós teríamos workshops com chefs diferentes, de diversas modalidades e estilos de gastronomia, e isso me fascinou. Quando eu fui vendo eu já estava imbuída naquilo, eu já estava dedicada aquilo. Eu não estava pensando em ganhar, mas a minha competitividade é muito grande comigo mesmo, porque ela trabalha numa exigência minha em querer me superar a cada momento, em ser melhor comigo mesmo. Foi o que fez eu ganhar esse programa. Eu eu me apaixonei pela gastronomia e é algo que eu faço até hoje, estudo. Faço curso na Le Cordon Bleu, faço experiências gastronômicas sempre que posso. Acabei conhecendo o universo da gastronomia. Tenho grandes amigos chefs, já viajei para outros lugares do mundo para conhecer gastronomias diferentes e ainda pretendo ter projetos voltados para gastronomia e arte futuramente.

Como você encarou a chegada dos 40 anos?

É uma delícia fazer 40 anos. Eu nunca pensei que eu fosse me sentir tão bem. Eu acho que é uma libertação. Vi uma vez uma frase do Caetano falando sobre a calma que você vai tendo com a chegada da idade, né? Você vai deixando de ser menos ansioso. Eu acho que está no artista ser questionadora acaba que é uma profissão que te traz muita ansiedade por conta da instabilidade, por conta de processos emocionais que a gente vai passando ao longo dessa jornada. Mas a chegada dos 40 me tornou mais equilibrada, ela fez com que eu tivesse a plena consciência de que a minha felicidade está relacionada à forma como eu me posiciono no mundo, à forma como eu faço as minhas escolhas e a forma como eu cuido dessa dessa Tríade, que é a minha vida profissional, o meu equilíbrio emocional e a minha saúde, também física e espiritual. Acho também que você passa a ficar mais seletivo com as pessoas, sem dúvida. Não que isso te exclua as possibilidades; pelo contrário, isso te abre novas possibilidades, às vezes de coisas que talvez você não se conectava e você passa a se conectar, você passa a rever e outras coisas que você achava que faziam muito sentido e deixam de fazer naturalmente no processo natural das coisas. Você vai afinando mais as suas escolhas e as suas buscas com os seus reais desejos que estão lá dentro da gente que nem sempre a gente dá voz. Então, outra coisa que desenvolveu muito nos últimos tempos para cá foi a minha intuição. Acho que a maturidade emocional e a segurança como mulher. No momento que eu fui me tornando mais segura, eu vou ficando mais leve pra vida e, naturalmente, fui ficando mais jovem.

A Isabel de Nosso Lar é mãe de três filhos. A maternidade faz parte dos seus planos?

Isabel vem trazendo para minha vida esse universo da maternidade. Eu já fiz personagens que eram mães, mas não eram boas mães, por elas terem uma característica de desvio de caráter por serem vilãs, naturalmente. Mexeu muito comigo fazer mãe dessas três crianças, porque isso veio numa fase onde eu tinha acabado de decidir fazer o congelamento de óvulos, porque eu tinha entendido que realmente ser mãe é um dos meus sonhos de vida e que eu gostaria de preservar a minha fertilidade, para que eu pudesse ser mãe quando eu achasse que que é o momento, dentro de um contexto familiar que eu acredito, com os valores de família que eu acredito. Eu ainda não tinha tido e ainda não tive a oportunidade de vivenciar essa experiência na minha vida real e ter podido vivenciar isso na arte foi uma experiência muito deliciosa. Tinha uma expectativa maternal naquele momento e a Isabel veio preencher o meu coração dessa expectativa.

Patrick Selvatti

Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.

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