Num capricho do destino, temas sociais e de importância na vida real acompanham a atual fase da carreira da atriz Patrícia Elizardo, a médica Tônia de O outro lado do paraíso.
No enredo de Walcyr Carrasco (leia crítica da primeira semana aqui), ela vai se envolver diretamente com a trama do racismo visto na família de Nádia (Eliane Giardini). A megera vai ver na ginecologista a noiva perfeita para o filho Bruno (Caio Paduan), que está apaixonado por Raquel (Erika Januza). O romance dos dois (leia mais sobre os casais fofos da ficção) não é aprovado pela família do rapaz porque a menina é negra.
“Logo nos primeiros momentos, o espectador vai poder observar que para Tônia a alma não tem cor”, afirma Patrícia sobre o posicionamento que a personagem terá ao enfrentar essa polêmica.
No teatro, outro tema marca a carreira de Patrícia: a doença Esclerose Lateral Amiotrófica. Coincidentemente, a atriz interpreta outra médica no espetáculo ELA, pelo qual concorre ao 6º Prêmio Botequim Cultural como atriz coadjuvante. “Esse projeto vem estimulando várias pessoas portadores do Ela, trazendo informação e representatividade para muita gente”, orgulha-se Patrícia, que completa: “Como artista, é meu dever tocar em temas potentes para uma sociedade que precisa de tanta informação e educação”.
Como é sua personagem em O outro lado do paraíso? A Tônia vai participar de alguma forma da discussão sobre racismo que vai envolver o Bruno e a Raquel?
A Tônia é uma mulher independente, médica ginecologista obstetra, que vai iniciar um novo momento da vida em Palmas. Ela vai se relacionando aos poucos com outros personagens, até conhecer a Nádia, que enxerga nela uma futura esposa para seu filho, Bruno. Tônia é vegana e nunca perde a oportunidade de se posicionar sobre seu estilo de vida e sobre seus valores em relação ao preconceito racial. Logo nos primeiros momentos, o espectador vai poder observar que para ela a alma não tem cor.
O outro lado do paraíso aborda temas fortes como racismo e violência doméstica. Como vê o papel da dramaturgia na discussão de temas como esses?
Acho de extrema importância abordarmos esses temas em uma novela das 21h. Vivemos em uma sociedade onde as pessoas ainda se espantam quando sabem de alguma mulher que apanhou do marido ou do namorado. Como se isso quase não existisse. Vamos além, a violência psicológica que a personagem da Clara sofre é muito comum e velada, detona a autoestima de uma mulher que se sente responsável pela agressão e tem dificuldades para sair dessa relação doentia. Assim como o racismo, acho delicado eu Patrícia, branca, classe média, conseguir dimensionar o tamanho da dor de quem sofre preconceito racial ou qualquer outro tipo de preconceito. Porém, como artista, é meu dever tocar em temas potentes para uma sociedade que precisa de tanta informação e educação. Eu me sinto lisonjeada de fazer parte de um projeto como esse.
Em O outro lado do paraíso, há um encontro de várias gerações de atores. Como está sendo essa troca (mesmo que nos bastidores) com nomes como Fernanda Montenegro e Lima Duarte?
Está sendo uma oportunidade única para todos nós jovens atores. Tivemos um mês de preparação, onde tivemos várias aulas ao lado de nomes como: Fernanda Montenegro, Glória Pires, Marieta Severo, Eliane Giardini, Sandra Corveloni, Lima Duarte (leia mais sobre a participação do ator na trama). Era lindo poder trocar vivências e experiências com eles. Foi um período precioso antes de iniciarmos as gravações. E agora é ir para jogo.
No teatro, você também faz um trabalho com viés social, vivendo uma paciente com Ela. Como foi sua preparação para a peça ELA?
Eu comecei minha carreira no teatro e ele foi e é de extrema importância para mim. O espetáculo ELA fala sobre uma doença pouco conhecida chamada Esclerose Lateral Amiotrófica. Eu faço a Dra. Paula, uma médica neurocirurgiã em início de carreira que descobre o diagnóstico da doença na mulher de sua melhor amiga. Assim, Paula vive o conflito de ajudar sua paciente no tratamento ao mesmo tempo que tem uma relação pessoal com o casal (dualidade entre a medida do pessoal e o profissional). Esse projeto vem estimulando várias pessoas portadores do Ela, trazendo informação e representatividade para muita gente. É um espetáculo feito com recursos dos próprios artistas, sem incentivo algum privado ou do governo. Vivemos em um momento delicado nas artes em geral e o teatro está no centro dessa crise. Nós não vamos parar, vamos resistir a esse momento. O teatro vai transcender tudo isso! Esse é o papel dele. E agora não há de ser diferente.
I love Paraisópolis marcou sua carreira e era uma trama mais leve, cômica. Teve medo de ficar presa à comédia?
Não. Pelo contrário! A comédia é um grande desafio para mim. Sou do time do lado oposto (risos). Sou dramática na vida. E amo viver personagens mais verticais nesse sentido. Em I love Paraisópolis tive ajuda das minhas grandes parceiras de cena Zezé Barbosa e Tatá Werneck. Bom, elas dispensam apresentações, são maravilhosas. E sempre me davam dicas de como trazer a minha própria loucura para um lado mais cômico.
No início da sua carreira, você fez dois espetáculos do Oswaldo Montenegro, que começou a carreira aqui em Brasília. Chegou a ter algum contato com a cidade?
Sou apaixonada por Léo e Bia! Nunca fui a Brasília, mas Oswaldo trazia um pouco dela até a gente. Ficamos um ano em cartaz com essas duas peças aqui no Rio de Janeiro. Foi um belo início de carreira! Aprendi muita coisa.
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