A atriz Patrícia Costa nasceu no samba. Neta de Cláudio Bernardo da Costa, um dos fundadores da Portela, ela já foi rainha da bateria da Viradouro e premiada como a melhor passista do carnaval carioca. Por isso, Patrícia está tão à vontade no papel de Esther na novela Bom sucesso, a terceira de sua carreira de mais de 25 anos.
“Empresto à personagem minha essência de sambista com naturalidade. Trago na Esther a memória afetiva de muitas mulheres que conheci de perto nas escolas de samba e na minha família”, afirma Patrícia, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Patrícia comemora o fato de estar em Bom Sucesso pelo fato de a novela evidenciar “um retrato mais fiel da nossa sociedade” com a presença de um elenco negro maior do que o de costume em papéis que têm história própria: “o caminho aberto por Ruth de Souza e Milton Gonçalves foi o começo da reciprocidade entre nossa TV e nossa sociedade. Entretanto, ainda é preciso buscar um modo consistente de corresponder à diversidade do povo brasileiro, para podermos nos ver na telinha para além dos estereótipos.”
Sua personagem em Bom Sucesso, Esther, é ligada ao samba. Você é neta de um dos fundadores da Portela. Qual é a sua ligação com o carnaval?
Sou neta de um dos fundadores da Portela, Cláudio Bernardo da Costa. Lá nos primórdios da agremiação, meu avô era quem entoava o canto para o grupo desfilar. Dei asas ao samba que carrego na veia, brincando muito nas rodas de passista das quadras de várias escolas de samba. Despontei em 1997 como rainha de bateria da Viradouro e tenho prêmios como melhor passista do carnaval carioca. Participei de desfiles históricos e já tive a honra de prestar depoimento para o Museu do Samba Carioca sobre a minha trajetória no carnaval, que inclui uma fase que trabalhei no barracão projetando carro alegórico.
Já começou a se preparar para o desfile deste ano? Você sairá na Sapucaí?
Já vivi experiências tão incríveis no carnaval da Sapucaí que ando bem calma atualmente, focada na novela e em outros trabalhos de atuação, escrita e música. A princípio, não ia desfilar. Porém, convites irresistíveis já começaram a chegar. Quem sabe, né? (risos)
Essa ligação ajudou na composição da Esther?
Sim, empresto à personagem minha essência de sambista com naturalidade. Trago na Esther a memória afetiva de muitas mulheres que conheci de perto nas escolas de samba e na minha família.
Bom Sucesso é sua segunda novela de Rosane Svartmann e Paulo Halm. Como é sua relação com a dupla?
Eu já havia trabalhado com a Rosane no cinema em Como ser solteiro no Rio de Janeiro. A parceria dela com o Halm conheci em Totalmente demais, quando fiz a Cleide. Amo a escrita dessa dupla e de seus colaboradores. Identifico-me com a forma delicada, inteligente e bem-humorada que abordam temas difíceis e levantam reflexões importantes da vida em sociedade. Eu sempre me envolvo com as histórias que eles escrevem e fico confiante em fazer uma personagem criada por eles. Sinto essa reciprocidade da parte deles. Nossa parceria é instigante e divertida, gosto muito. A relação é de amor, carinho e respeito, assim como é com o público.
Com mais de 25 anos de carreira, ainda não viveu uma protagonista na televisão. Falta espaço para atores negros na telinha?
Comecei a carreira numa época em que tinha pouca participação de negros na televisão, tanto em frente quanto por trás das câmeras (diretores, escritores), mas isso não me impediu de ser atriz, pois meu desejo de ser artista foi forte. Achei um espaço mais democrático no teatro e escolhi exercitar minha arte nele. Desses 25 anos, o palco foi meu foco principal, onde construí uma carreira e realizei grande parte dos meus trabalhos, que foram bem recebidos pela crítica e pelo público. Quanto à televisão, o caminho aberto por Ruth de Souza e Milton Gonçalves foi o começo da reciprocidade entre nossa TV e nossa sociedade. Entretanto, ainda é preciso buscar um modo consistente de corresponder à diversidade do povo brasileiro, para podermos nos ver na telinha para além dos estereótipos. Bom Sucesso é minha terceira novela. Fico honrada de fazer parte desta talentosíssima equipe. Estou adorando as oportunidades que tenho tido na televisão, e quero papéis mais diversos. Que venham mais papéis e mais variedade!
Bom Sucesso tem um protagonista negro, o Ramon (Davi Jr.). Acha que a situação está melhorando?
Um dos principais fatores para a resposta positiva do público a Bom Sucesso é ter vários atores negros cumprindo com maestria diversos papéis, evidenciando um retrato mais fiel da nossa sociedade. Davi, Romeu Evaristo, Jorge Lucas e Carla Cristina são todos meus colegas de teatro. Fico orgulhosa em ver todos cumprindo seu papéis com muita competência e talento. Desde quando a Ruth de Souza protagonizou uma novela, em 1967, o caminho se abriu, mas é preciso que seja mais constante. E com a visão de aumentar o repertório de personagens para atores negros. Os negros brasileiros formam um grupo diverso na vida real em termos de profissão e atitudes. Ainda falta retratar essa realidade na TV.
Você fez muitos musicais na carreira. Esse gênero é o que mais te representa?
Eu sempre tive fascínio por filmes musicais e artistas com essa completude. E por ter desenvolvido esses talentos, fui sendo convidada para fazer inúmeros musicais. Mas já fiz drama e comédia e me considero uma atriz versátil. O gênero que me representa é o que toca o coração.
Você participa do projeto Joe Parker Jazz, em São Paulo. Como é o projeto? Tem planos de viajar com ele?
É um duo musical com o jazzista canadense Joe Parker, meu marido. Nosso repertório tem músicas autorais e releituras de clássicos da América de norte a sul: bolero, samba, jazz e cha-cha-chá. É um projeto independente e temos planos de rodar o mundo com ele, fazendo intercâmbio com artistas de cada lugar.
Você está em Tô ryka 2, filme de Pedro Antonio. O que pode adiantar sobre o projeto?
Foi uma delícia participar desse filme, que traz a Samantha Schmutz, dando um show de talento com a figuraça Selminha, sua personagem. Eu faço a despeitada Beth, e estou em companhia de grandes artistas da comédia brasileira. Aguardem boas gargalhadas, bom-humor e uma boa dose de crítica social.
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