Músicas das trilhas sonoras de Onde nascem os fortes e de Segundo sol têm a importância de um personagem.
Sou de um tempo em que fãs de novelas disputavam tentando adivinhar quem estamparia a capa do LP da trilha sonora do folhetim. Estar ali representava status e sucesso para o ator. Isso porque comprávamos os discos e as músicas tocavam exaustivamente nas rádios e programas de auditório.
Os tempos passaram, os LPs saíram de moda ー se bem que eles estão voltando com ares vintage, né? ー e confesso que parei de prestar tanta atenção ao que tocava entre as cenas das novelas. Por isso me espantei ao me deparar com duas seleções musicais sensacionais que estão no ar. Mais do que embalar as tramas, as faixas escutadas na novela Segundo sol e na série Onde nascem os fortes são quase personagens.
Antes mesmo de Segundo sol estrear, me chamaram atenção o vozeirão de Alcione em O mais belo dos belos e uma versão em inglês para Swing da cor. Um dos primeiros sucessos de Daniela Mercury virou Swing all the colors, na batida de dupla de DJs I Koko (a descoberta de quem são mobilizou a redação do Correio na hora do almoço!). Ainda estou em processo de adaptação ao “No, don’t leave me waiting/Don’t you make me crying / Because I don’t wanna stay by myself”, devo confessar.
Mas a trilha de Segundo sol não é só isso. Tem todo o clima passado pela novela, indo dos bárbaros Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil a nomes ascendentes, como Johnny Hooker, Simone & Simaria e Anavitoria. O repertório recria clássicos da axé music e tem a inédita Axé Pelô, composta sob encomenda por Marquinhos Osósio e Rô Case e gravada por Emilio Dantas, ator que vive o protagonista Beto Falcão. E o ator não faz feio soltando a voz, não.
Trilha sonora de Onde nascem os fortes também chama a atenção!
Quem também se arrisca cantando é o sensacional Jesuíta Barbosa. Ator de olhar forte, ele apareceu pouco como Shakira do Sertão em Onde nascem os fortes, mas bastou para mostrar talento e conquistar não só os moradores da fictícia Sertão. Shakira é a identidade que Ramirinho assume para se apresentar numa boate cantando clássicos maravilhosos do nosso brega, como O amor e o poder e Meu sangue ferve por você.
Para trilha oficial, Jesuíta regravou Mal necessário, do repertório de Ney Matogrosso. Foi cantando versos como “Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher/ Sou a mesa e as cadeiras desse cabaré/ Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo” que Shakira, a contragosto explícito no tom e no olhar de Jesuíta, se transformou em Ramirinho para evitar um flagra do pai, o juiz de Sertão Ramiro (Fábio Assunção).
A abertura da série, ao som de Todo homem, com Zeca Veloso, dá o tom de toda a história: “Todo homem precisa de uma mãe”. Assim como todos nós precisamo de Jura secreta, com Fagner, e de Ave de prata, com uma jovem Elba Ramalho.
Não preciso nem dizer que Axé Pelô, como Mal necessário – e até Swing all the colors – estão não na minha vitrola, mas na minha playlist do Spotify.