Atores falam sobre a nova versão de Pantanal que tem a cara de novidade, mas referências que remetem ao passado
Por Pedro Ibarra
Mais de 30 anos se passaram desde que o Brasil se encantou com o Pantanal. Graças a novela que levava o nome do bioma, pessoas do Brasil inteiro se encantaram com a vegetação, animais e a vida do local que ocupa parte do território do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul do Brasil. As histórias de Juma, Jove, Joventino e do Velho do Rio na imensidão da mata tornaram-se muito populares e a novela, uma das mais cultuadas da TV Manchete e que ganhou posteriormente uma reprise no SBT.
De março de 1990 para março de 2022, Pantanal volta às telas com um novo elenco e uma adaptação da história amanhã, no horário das 21h da programação da Globo. Nomes como Alanis Guillen, Juliana Paes, Jesuíta Barbosa e Osmar Prado assumem Juma, Maria, Jove e Velho do Rio. Outros nomes dividem personagem , como no caso de Renato Góes e Marcos Palmeira e Bruna Linzmeyer e Karine Telles que fazem respectivamente os personagens Joventino e Madeleine em idades diferentes.
A história foi remodelada para encaixar no novo contexto três décadas depois. Para a tarefa foi escolhido Bruno Luperi, autor e neto de Benedito Ruy Barbosa. “A gente vai fazer essencialmente a mesma história que o meu avô contou lá atrás, mas levando em consideração o advento do tempo”, explica o escritor em coletiva. “O grande desafio é justamente adaptar esse clássico, porém 30 anos para frente no tempo”, acrescenta
Bruno afirma que é um grande fã de toda a carreira do avô, principalmente da novela para a qual foi convidado a adaptar. “A obra é a mais importante do currículo do meu avô, na minha opinião”, afirma o novo autor. “Meu avô me deu a benção e o voto de confiança. Ele falou: ‘Vai com que Deus te deu, acredita no seu talento, com que seu coração diz’”, lembra Luperi que dedica o esforço ao avô. “É uma forma de retribuir tudo que ele fez pela nossa família. Hoje os bisnetos dele vão ver a história que ele contou há anos atrás”, completa.
A novela continua propondo a história de amor entre Juma e Jove embalada pelas questões familiares de Jove com o próprio pai e com o legado da família na fazenda cercada pelas matas do Pantanal. O embate entre campo e cidade também é ponto central na trama, que recebe uma roupagem para conversar mais com a atualidade.
Interessante ressaltar que nomes como Paulo Gorgulho, Almir Sater e o próprio Palmeira fizeram parte da primeira versão da novela e agora tem a chance de viver personagens mais velhos no remake. “É muito legal estar fazendo parte de um remake de uma novela que foi tão importante para mim naquela época que foi lançada”, diz Marcos Palmeira, mas não deixa de pontuar que a novela deve ser considerada um novo produto. “Estamos fazendo uma nova novela. Então, a liberdade é total”, pontua.
Protagonista do principal núcleo da novela Juma, a mulher vira onça ainda é a peça mais importante da novela. Além de ser parte da história de amor que move o roteiro, Juma é uma representação da alma da floresta, uma mulher que todos em volta acreditam que vira uma onça. “Acredito que toda a novela e os personagens dela giram em torno da figura da Juma”, afirma Jesuíta Barbosa. “O meu personagem mesmo, o Jove é algo criado para complementar a Juma”, adiciona.
Com essa responsabilidade de ser figura central na produção, Alanis Guillen estudou a fundo o Pantanal, entendeu os detalhes e foi buscando dentro de si a personagem principal. “Aos poucos a personagem veio no corpo, na minha voz e nos meus gestos”, conta a artrista. “O Pantanal é vivo, tem que ser bicho para viver ali”, reflete a atriz, que disse que foi encontrando formas de encontrar a harmonia com as locações escolhidas.
Protegendo a natureza
A diferença que os mais de 30 anos entre uma versão e outra da novela é marcante não só pelas escolhas de enredo, mas pelas alterações físicas sofridas pelo Pantanal. “Gravamos na mesma fazenda da primeira versão, então as paisagens são as mesmas, mas o tempo mudou muito as características”, explica o autor da novela.
Tanto os criadores quanto o elenco da novela concordam no que diz respeito a grandiosidade do pantanal e a importância da preservação do local, que já sofreu muito durante os 32 anos que dividem as duas estreias. “A novela é um portal do público para o Pantanal e vendo as cenas o próprio Pantanal fala por si só”, afirma Marcos Palmeira que acredita que é muito visível o sofrimento do bioma.
“Estamos no vermelho. O Pantanal sofre, com queimadas, com a seca. Se a gente não começar agora a fazer um novo amanhã, não teremos um mundo para viver no futuro”, alerta Gabriel Sater que assume o papel de Trindade, vivido pelo pai em 1990. “Vê-se agora a urgência de pensar no equilíbrio ambiental no mundo”, complementa Dira Paes, que vive Filó na segunda fase da novela. “Nós agora não somos mais taxados de eco chatos como era taxado o pessoal do elenco há 30 anos atrás”, comenta.
“Falo para o meu avô que o que ele alertou lá atrás as pessoas não ouviram. Tem uma paisagem e uma natureza que não existe mais”, aponta Bruno Luperi. Agora, ele busca a sobrevida do texto criado pelo avô colocar novamente em pauta um discurso pela preservação da região que há muito estava esquecido. Afinal, como diz o diretor artístico Rogério Gomes: “Apesar de todo esse sofrimento o Pantanal se mantém soberano e muito maior que o homem”.