Mais um ano chega ao fim e é claro que a tradição do Próximo Capítulo de celebrar os melhores episódios de 2024 não passaria batido. Assim como em 2023, 2022, 2021, 2020, 2019, 2018 e 2017 a ideia desta lista é apontar o “melhor do melhor”. Pensar em boas temporadas é fácil, o grande desafio é saber separar o que de fato vai para a temporada de premiações: os melhores episódios. Minissérie, série, comédia, drama. A regra é clara: foi ao ar neste ano, está valendo. Neste ano, a lista aponta produções estreantes, como English teacher e outras veteranas, como Hacks.
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Lista de melhores episódios de 2024:
10º lugar) The boys — 4ª temporada, episódio 5: Beware the Jabberwock, my son
Mesmo sendo apenas o 5º episódio da temporada, Beware the Jabberwock, my son fez uma ótima amarração de diversas pontas que a temporada estava deixando meio “soltas”. O pai de Hughie (Jack Quaid) finalmente teve um fim, Gen V fez a prometida entrada na trama e os personagens antagonistas realizaram a aguardada reunião — mesmo que em uma luta infernal contra ovelhas zumbis.
Beware the Jabberwock, my son conseguiu provar que The boys ainda tem repertório para seguir firme rumo a 5ª e última temporada, e ainda mais: tem a capacidade de se ir além das cenas gráficas e explosões (não que a gente não goste delas).
9° lugar) X-Men ‘97 — 5º episódio: Remember it
A ideia de grafismo me afastou de X-Men ’97 por um primeiro momento. Realmente parecia uma produção mais infantil. Ledo engano. Ao longo da primeira temporada (que pode se transformar em uma “minissérie”, já que existiu uma briga entre o showrunner e os estúdios Marvel), a produção mostrou, acima de tudo, muita maturidade.
Os temas adultos e contemporâneos deram um choque de realidade ao mundo de fantasia que toda produção de heróis tem de quebrar. Em Remember it, com o genócidio dos mutantes, o público ganha um “sacode” da origem de grandes vilões do universo X-Men (de certa forma, justificável).
8° lugar) Monsters: the Lyle and Erik Menendez story — episódio 5: The hurt man
The hurt man é um ótimo exemplo da importância desta lista dividida em episódios. Enquanto Monsters: the Lyle and Erik Menendez story tropeça em diversos momentos ao longo da temporada, The hurt man é um oásis no meio daquela confusão apelativa. Em grande parte graças ao roteiro afiado e ao talento de Ari Graynor e Cooper Koch, que resinificam a clássica relação entre advogada e assassino em um dos diálogos mais duros e equilibrados do ano. The hurt man é aquele momento em que gira toda a série: um assassinato pode ser justificado após uma série de abusos?
7° lugar) English teacher — episódio 4: School safety
Pelo trailer, a pequena produção do FX, que chegou ao Brasil pela Disney+, pode parecer infantil, até meio bobinha. Ao assistir a produção, contudo, fica claro o contrário. English teacher usa o cenário de uma escola de ensino médio para falar de temas como transfobia, machismo, sexualidade e tantos outros assuntos mais espinhosos, como tiroteios em escolas — que nos Estados Unidos já se tornou um problema epidêmico. School safety te faz prender a respiração, ter medo, dar uma risada e depois refletir de uma forma sucinta, mas marcante.
6° lugar) Baby reindeer — episódio 6: Episode 6
Baby reindeer talvez tenha sido uma das produções mais difíceis de trabalhar nesta lista. Isso porque a minissérie funciona brilhantemente como uma temporada, selecionar um episódio pode parecer… “incompleto”. Não obstante, o sexto capítulo dessa história consegue amarrar todas as angústias — e decisões erradas — do protagonista (Richard Gadd) em um monólogo pouco visto na história da TV. São mais de 10 minutos prendendo a respiração no maior vômito de verdade já jogado no rosto dos telespectadores. Um trabalho brilhante que precisa de um controle e intimidade cada vez mais difícil de se exercer em produções de streaming.
5° lugar) Disclaimer — 3º episódio: III
Mais do que trazer o “mundo” e os astros do cinema para a TV, o maior acerto de Alfonso Cuarón como roteirista e diretor em Disclaimer é fazer o que ele já faz há décadas: rir dos infortúnios de uma burguesia defasada. Disclaimer é engraçada e se debruça em uma tragédia para ficar mais cult. O resultado é memorável.
Óbvio que Cate Blanchett e Sacha Baron Cohen dão aula de atuação como um casal rico feito de aparências. III entrega, além das atuações classe A, uma vertigem entre passado e futuro que é a grande marca de Disclaimer. A morte de Jonathan, o grito dos pais. Um episódio que lembra as dores presas no tempo. Dores eternas.
4º lugar) Masters of the air — 3º episódio: Part three
É de conhecimento público: produções de guerra não estão na moda ultimamente. A passagem despercebida de Master of the air, ainda no começo de 2024, ajuda a ilustrar a teoria. Não obstante, é impossível negar a grandiosidade que este tipo de produção ainda consegue criar.
Talvez as cenas ensaiadas e a falta de uma boa dose de CGI deixem as guerras mais datadas, mas a minissérie da Apple TV+ deu o último suspiro do gênero com glórias.
Sim, sabíamos de grande parte das mortes ali. Sim, ainda choramos em todas.
3°lugar) Interview with the vampire — 7° episódio: I could not prevent it
É desafiador escrever sobre I could not prevent it. Não só do episódio, mas até de Interview with the vampire. É uma produção para poucos, com pouquíssima atenção do público. A série é aquele tipo de produção que entrega o excesso. Você nunca sai se sentido insatisfeito, ou querendo mais. I could not prevent it é isso: te leva à exaustão, às lágrimas, a uma catarse romana.
Spoilers à parte, o julgamento retratado neste episódio é há muito aguardado e a entrega é feita sem remorso, sem vergonha e sem amarras. Salta aos olhos a direção robusta de Emma Freeman sobre a visão aterrorizante de uma peça teatral escrita por Kevin Hanna e Rolin Jones. O cuidado com os detalhes, cada olhar, cada palavra, cada suspiro (e cada morte), brilhantemente pensado e executado deixam I could not prevent it como uma tatuagem na nossa memória.
Por falar nisso, a memória sempre foi um tema tão querido e importante para Interview with the vampire, que a lembrança desse episódio se torna uma macabra metalinguagem rara de se encontrar na TV atualmente.
2° lugar) House of the dragon — 2ª temporada, episódio 4: The red dragon and the gold
Com o passar do tempo, e assistindo muita televisão, é comum que a crítica especializada acabe julgando mais as produções de acordo com aspectos técnicos. Percebe-se mais as atuações, as decisões da direção, os melindres do roteiro. Não por mal, isso é importante, mas não é tudo.
A saga House of the dragon não esquece o mais importante em qualquer série: entreter.
Prender a atenção do telespectador por uma hora é quase impossível hoje em dia (aposto que você já deve ter trocado de aba algumas vezes até chegar nesta parte do texto), mas The red dragon and the gold conseguiu. Desde o primeiro momento com o “desaparecimento” de Rhaenyra (Emma D’Arcy) até o final literal e apoteótico de Rhaenys (Eve Best), The red dragon and the gold é uma das maiores memórias ao pensar sobre TV no ano de 2024.
1° lugar) Hacks — 3ª temporada, episódio 9: Bulletproof
Não é de hoje que Hacks dá um show de qualidade. Um roteiro afiado e contemporâneo casa com uma química única entre Jean Smart (que interpreta Deborah) e Hannah Einbinder (responsável por dar vida a Ava). Mais do que uma comédia, nesse novo ano, Hacks mostra uma espécie de lupa sobre o comportamento humano. Desde a dependência da “ajudante”, até a onipotência da “protagonista”. São visões muito afiadas sobre o bem e o mal das pessoas, mas de uma forma mais leve e real do que qualquer outro roteiro desenhado na atualidade.
Em Bulletproof, a produção decide ir mais longe. Que tal mudar a dinâmica das personagens para algo completamente diferente? Uma Ava vilã e uma Deborah subserviente? A ideia deixou quem assistia com a boca cheia de água e os olhos brilhando por todo o caos que isso pode trazer. Desde Ava indo contra todos os princípios feministas ao chantagear a chefe por um caso extraconjugal, até o sorriso de orgulho de Deborah por ter criado um monstro tão bem lapidado. Bulletproof beira a perfeição e é o que mais merece a medalha de ouro desta lista: não existe outro episódio tão bem amarrado no ano.