Não é uma lista qualquer, é “melhor do melhor” no mundo das séries! O Próximo Capítulo apresenta aqueles episódios que marcaram 2022
Mais um fim de ano e o Próximo Capítulo apresenta a já tradicional lista de melhores episódios do ano (veja aqui as listas de 2021, 2020 e 2019). A ideia aqui é apurar a visão no “melhor do melhor” das séries: os episódios.
Afinal, para brilhar nas temporadas de premiações, cada série precisa eleger um único episódio. Sendo assim, cada capítulo tem o árduo desafio de contar uma história (com começo, meio e fim), além de completar a temporada, sendo um tijolinho dentro de uma grande construção.
Em 2022, a HBO Max liderou a briga dos streamings com maior número de episódios na lista, seguida da Star+. Também teve a presença inédita da Paramount+ e apenas uma posição para a Netflix.
Confira!
10º) Hacks — The click (2ª temporada, episódio 6) / HBO Max
A relação entre Ava (Hannah Einbinder) e Deborah (Jean Smart) sempre foi uma das bases de Hacks. Em The click, a produção explora ainda a complexa e confusa relação das duas, mas agora também com Nina (Jane Adams) — mãe de Ava.
Como em toda relação familiar, saber perdoar, relevar, entender e apoiar são ações básicas, dignas de uma boa convivência. Entretanto, para a maioria das pessoas, não são ações tão fáceis assim. Deborah ficou vulnerável com um estranho, Ava foi honesta com a mãe. As mudanças que ambas precisam não foram em vão, mas foram duras, muito difíceis de serem conquistadas. No final, nem importa se deram certo ou não.
A melhor parte de The click foi mostrar uma dinâmica diferente para as protagonistas. Foi desenhar como mudar e tentar ser honesto é um bom caminho. Definitivamente um episódio que deixou quem assistiu pensado sobre a própria humanidade por dias.
9º) 1923 — (Piloto) / Paramount+
A grande razão desta lista sair nos 45 minutos do segundo tempo de 2022 tem nome e sobrenome, ou melhor, tem data: 1923. O spin-off de Yellowstone era uma produção muito aguardada pelos fãs de séries, e não decepcionou. A grande verdade é que Yellowstone sempre teve um “embate silencioso” com a mídia norte-americana e até mesmo com as academias de premiações pelo conteúdo mais republicano que apresenta (e defende).
Concorde ou não com tais visões políticas, uma coisa é indiscutível: a qualidade e investigação humana do quase filme do piloto de 1923 foi revigorante. Harrison Ford e Helen Mirren estão muito bem e o piloto é um show de acertos e emoções.
8º) Reservation dogs — Roofing (2ª temporada, episódio 3) / Star+
É muito estranho como Reservation dogs termina a segunda temporada tão pouco conhecida do grande público. Além de estranho, é especialmente triste. A produção tem uma sensibilidade ímpar, sem ser piegas ou chorona.
Roofing segue como o exemplo maior dessa leveza ao focar no primeiro emprego de Bear (D’Pharaoh Woon-A-Tai). A priori, a construção civil não parece ter nada de mais. Na prática, entretanto, Bear encara não só a ausência do pai, mas também o suicídio do melhor amigo — pela dura perspectiva do pai de Daniel (Dalton Cramer).
É como entrar em um poço sem fundo de tristeza, traumas e medo. O trunfo de Roofing, contudo, é mostrar como tudo passa. No fim, Bear termina o dia, recebe o dinheiro e volta feliz para casa.
7º) Interview with the vampire — In throes of increasing wonder… (Piloto)
Sim. Todo roteiro com a palavra “vampiro” merece algumas reticências. Caso o substantivo esteja no título, então…
Mas calma, no caso de Interview with the vampire todo o “trauma” criado com as produções vampirescas ao longo dos anos 2000 se dissipa.
Nesta releitura do romance de Anne Rice (ainda de 1972) e do filme de Niel Jordan (de 1994), os vampiros têm uma abordagem bem diferente do lugar comum que Hollywood construiu para os seres fantasmagóricos.
E, sim, talvez em In Throes of Increasing Wonder… o público não seja tão surpreendido pelas reviravoltas vistas em The thing lay still — o último episódio da primeira temporada da produção —, mas, ainda assim é o episódio escolhido para figurar nessa lista graças à genial apresentação de seres tão amados e detestados como os vampiros dentro de um universo dantesco de Shakespeare à lá O grande Gatsby.
6º) The bear — Review (1ª temporada, episódio 7) / Star+
Este que vos escreve não é o maior fã de The bear. E inclusive sofreu para ultrapassar o piloto pedante e excessivamente “inspirado” no estilo atropelado de Aaron Sorkin — muito reciclado por Shameless, que inclusive tinha a presença de Jeremy Allen White, agora protagoniza de The bear.
Mas exatamente por isso que esse tipo de lista (apostando nos melhores episódios), é tão importante. Review é uma verdadeira obra-prima em meio a todo o ego que atrapalha The bear.
O plano-sequência, a tensão, os dramas, e o peso que aqueles personagens sustentam transformam os 30 minutos de Review em um grito que fica ressoando na cabeça dos telespectadores por dias e dias.
5º) Stranger things — Dear Billy (4ª temporada, episódio 4) / Netflix
Por mais que possa não parecer, existe uma maldição que nasce quando uma série alcança grande sucesso: a superficialidade.
E é impossível falar de séries de sucesso em 2022 sem citar Stranger things. A produção dos irmãos Duffer foi um hit sem precedentes em 2022 e redefiniu o termo “produção de massa”. Teoricamente, o caminho de Stranger things, então, seria apostar mais e mais em explosões, mortes e todos os recursos que levem a maioria das pessoas a “voltarem” à série, para o próximo episódio. Afinal, na era do streaming, perder conteúdo não é nada comparado a perder audiência.
É exatamente neste ponto que Stranger things pisa no freio. Com Dear Billy, a produção pausa todo o ritmo de ação estilo filmes da Marvel para olhar a perspectiva de Max (Sadie Sink), uma personagem até então secundária, sem poderes especiais, veia cômica ou grande apelo popular.
Max sustenta. E não só isso. Dear Billy se torna um refresco de ar no desgastado enredo das quatro temporadas de Stranger things. Que soube usar das necessidades de ser uma “série de massa” com uma investigação humana ao mesmo tempo tão delicada e tempestuosa.
Todo fã de Stranger things se lembrará de Dear Billy como um momento único da série.
4º) Ruptura — Good news about hell (piloto) / HBO Max
É estranho pensar que entre os temas favoritos de filmes, séries, músicas e livros estejam assuntos como “amor”, “vingança”, “traição” e até coisas mais fantasiosas como “vampiros”, “monstros do mundo invertido” ou “dragões”. É estranho perceber como assuntos muito mais presentes na vida de todos, como “dormir”, “dirigir” ou “trabalhar” raramente estrelam histórias em Hollywood.
A razão? É óbvia!
Temas chatos, ou sem a menor graça, não chamam a atenção de ninguém. Quem vai querer uma série sobre “trabalho” depois de passar oito horas por dia… trabalhando?
É exatamente aí que mora a genialidade de Ruptura: saber usar como ponto de partida um tema tão comum e chato para um enredo cheio de camadas, que mergulha nos mais sombrios e complexos cantos da natureza humana.
Good news about hell é o responsável por amarrar essas ligações tão inusitadas. Dirigido por Ben Stiller, o piloto de Ruptura é calmo, controlado e eficiente. Segura na mão do telespectador e o apresenta um novo planeta. Descobre as Américas sem um único tropeço.
3º) Abbott Elementary — Desking (1ª temporada, 11º episódio) / Star+
Ao pensar sobre Desking (e até sobre Abbott Elementary) em geral, é difícil perceber algo fora da curva, inusitado ou sequer diferente. Por um segundo, é como se a produção não tivesse um “valor-notícia”, não se destacasse por nada. Mas então como explicar a incrível sensação de leveza, humor e catarse após cada episódio da série que atualmente apresenta a segunda temporada?
Abbott Elementary tem como maior força o olhar aguçado para o simples, para o comum. E Desking é a perfeita representação desta força. Um viral de TikTok que acaba influenciando as más criações de crianças e tornam a vida dos professores um inferno.
A coisa mais simples e banal — e que por isso mesmo dificilmente seria tema de uma série ou episódio — é encarada, é percebida como importante. E por fim, rende um dos episódios mais sensacionais e divertidos de todo o ano de 2022. Depois de Desking, você provavelmente nunca mais olhará para uma simples mesa da mesma forma.
Fugindo do episódio, vale um ressalto: a genialidade de Quinta Brunson. Ao lado de outros grandes showrunners de Hollywood (como Ryan Murphy, Mindy Kelly e Mike White), a mulher é uma força da natureza ao criar, escrever e protagonizar Abbott Elementary.
2º) House of the dragon — The lord of the tides (1ª temporada, episódio 8) / HBO Max
A grande verdade é que House of the dragon mostrou em 10 episódios ter sido bem mais dinâmico, emocionante e amarrado do que todas as seis temporadas de Game of the thrones. The lord of the tides é uma grande representação disso.
O oitavo episódio da temporada de estreia não é o que tem o maior apelo técnico ou cinematográfico (algo que toda a franquia sempre soube investir bem), também não é o que tem mais reviravoltas, violência ou sensacionalismos (algo que geralmente choca e marca com mais facilidades os telespectadores).
The lord of the tides, contudo, apresenta o básico de toda grande produção: um excelente roteiro, uma história com começo, meio e fim, que faz sentido e caminha para algum lugar. É ter a certeza de estar assistindo a algo que faz sentido. É a natureza humana (com bondade, amor, vingança, ódio e desprezo) dentro de uma história muito bem amarrada, que sabe prender o público pela inteligência e profundidade.
1º) Euphoria — Stand still like the hummingbird (2ª temporada, episódio 5) HBO Max
Euphoria sofreu para criar, desenvolver e terminar a segunda temporada. Entre problemas decorrentes da pandemia e conflitos entre o elenco e o showrunner Sam Levinson, ficou claro o quanto o enredo deste segundo ano não primou pela excelência (como ocorreu na temporada de estreia). Nem por isso, contudo, Euphoria deixou de entregar qualidade — especialmente de atuação.
As cenas de Zendaya em Stand still like the hummingbird atingiram um nível de excelência cada vez mais raro na TV. A protagonista não segue sozinha. Stand still like the hummingbird também abriu espaço para o excelente elenco coadjuvante de Euphoria, e eles não se fizeram de rogados.
É no meio do caos que a produção tem regozijo. É entre gritos, choros, socos e intensidade que a produção sempre se saiu melhor e o estilo “neon-Kamikaze-new wave” de Euphoria — que só Levinson consegue manobrar — caiu como uma luva em Stand still like the hummingbird e deixou marcado em nossas retinas cenas icônicas, como o fim do relacionamento entre Rue (Zendaya) e Jules (Hunter Schafer) e a descoberta da traição entre Cassie (Sydney Sweeney) e Nate (Jacob Elordi). Um verdadeiro clássico.