Um amor impossível embalado por lágrimas e música instrumental ao fundo. Vilões maus feito pica-paus. Um núcleo engraçado para quebrar o dramalhão. Quem foi que disse que novela não tem fórmula? E as autoras de Órfãos da terra, as craques Duca Rachid e Thelma Guedes, seguiram os passos direitinho, acrescentaram um assassinato misterioso e uma fotografia de encher os olhos. O resultado é uma novela das 18h com cara de trama das 21h. Aliás, bem melhor do que a moribunda O sétimo guardião.
O amor impossível em questão em Órfãos da terra é o dos árabes Jamil (Renato Góes) e Laila (Julia Dalavia). Ainda na Síria, ela teve que deixar o país por causa da guerra. Num campo, de refugiados, ela chama a atenção do sheik Aziz (Herson Capri), que a compra para se casar com ele, e de Jamil, que se apaixona por ela à primeira vista. Mas ela foge no dia do casamento com Aziz e ele manda Jamil, que é capanga dele, a capturar. O detalhe é que Jamil não sabe que Laila é a noiva de Aziz. Quando ele descobre, resolve fugir com a amada.
A fuga de Laila e as cenas na Síria e no Líbano foram caprichadas ー da fotografia à cenografia, tudo estava no devido lugar. A dramaticidade também estava na dose certa. Pena que Renato Góes e Julia Dalavia não estavam em tanta sintonia. Bons atores, eles podem melhorar.
Além do fato de Jamil ser empregado de Aziz (o que ele não revela a Laila), o amor dos mocinhos tem outros entraves. O primeiro é o próprio Aziz, vilão que em poucas cenas mostrou a que veio: mandou matar, mandou roubar e deu um show de atrocidades machistas. Herson Capri deita e rola em seu melhor papel em muito tempo. Quem também está muito bem é Alice Wegmann, intérprete de Dalila, filha de Aziz a quem Jamil estava prometido.
No Brasil, o destaque da primeira semana de Órfãos da terra ficou para a família de Miguel (Paulo Betti) e Rânia (Eliane Giardini), prima de Missade (Ana Cecília Costa), mãe de Laila. Os dois atores estão muito bem ー ele mais ainda, porque Eliane vem fazendo o papel da mãe que, de tão dramática, é cômica com frequência na televisão. O núcleo acaba sendo, ao mesmo tempo, dramático e engraçado.
Outro alívio cômico de Órfãos da terra é a rivalidade entre o israelense Jacó Fischer (Osmar Prado) e o palestino Mamede Al Aud (Flávio Migliaccio). Como é bom ver os dois atores em cena! Mas bastou uma semana para perceber que, se ficar no rame rame étnico, essa trama vai cansar. Deve vir daí outro amor impossível, já que os netos deles, Sara (Verônica Debom) e Ali Al Aud (Mouhamed Harfouch), já trocaram olhares e devem se apaixonar.
Com um tema que pode ser árido, o dos refugiados, Órfãos da terra acerta em não pesar demais na tinta. Tem interpretações luminosas (Letícia Sabatella também merece destaque) e texto bem resolvido, apesar de um primeiro capítulo didático demais. Vale a pena dar uma chance ao novelão de Duca Rachid e Thelma Reston.
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