Veredito: Muito bom
É difícil definir o filme Okja, do diretor Joon-Ho Bong (O hospedeiro e Expresso do amanhã). A produção do sul-coreano consegue reunir diversos gêneros (aventura, ficção científica, drama e comédia) e tem dois temas principais: a amizade e a crítica às indústrias pecuária e alimentícia (principalmente, em relação aos maus-tratos aos animais). Essa reunião de assuntos tem causado polêmica entre os espectadores (que se dividem na opinião sobre o filme), mas, na minha visão, esse é o grande trunfo de Okja, que consegue ser ao mesmo tempo sensível, engraçado e reflexivo.
O longa-metragem começa em 2007 com Lucy Mirando (Tilda Swinton), CEO da empresa Mirando, tentando mudar a cara da corporação do ramo alimentício ao anunciar uma nova espécie animal descoberta no Chile, os “superporcos”, com a promessa de que os animais mudarão a indústria pecuária. A empresa decide recriar os bichos em laboratório — mas, de forma natural, segundo eles — e enviá-los para serem criados em 26 fazendas de lugares diferentes do mundo. Cada fazendeiro ficará com os animais por 10 anos, quando a empresa escolherá o melhor superporco em uma competição.
Depois, o filme pula para 2017 e mostra a pequena Mikha (Seo-Hyun Ahn), que ganhou um nome americanizado de Mija na divulgação da Netflix, ao lado de seu superporco, a fêmea Okja — daí o nome do longa-metragem –, que foi criada nesses 10 anos por ela e o avô de Mija nas montanhas da Coreia do Sul. A (fofíssima) relação entre Mija e Okja é de amizade e companheirismo. Órfã, tudo que Mija tem e mais gosta é exatamente a superporca. Só que a jovem não faz ideia de que terá que abdicar de Okja por conta da competição da empresa Mirando. Até que esse dia chega.
Como era previsível pelo encaminhamento do roteiro, Okja é escolhida a melhor superporca da competição e precisa se separar de Mija indo para Nova York, onde será levada para estudos e apresentada ao grande público. E é aí que começa o lado mais dramático e crítico do filme, que, até então, estava apenas muito fofo.
Levar Okja para os Estados Unidos é garantir a sentença de morte do animal, até por isso a AFL, a organização que se intitula como a Frente de liberação animal, planeja sequestrar a superporca. Pois, no filme, fica bastante claro que as intenções da empresa Mirando definitivamente não são as melhores. A corporação visa o lucro por meio da exploração dos superporcos. É a partir disso que o longa passa a fazer uma crítica à indústria pecuária e alimentícia do mundo, principalmente, falando sobre os maus-tratos aos animais para garantir a carne que chega ao consumo humano — é até difícil para o espectador não começar a repensar o consumo de carne e refletir sobre a possibilidade de uma forma mais consciente. Há algumas cenas pesadas, que, depois, são bem dosadas com momentos de alívio cômico. O humor, inclusive, é uma característica interessante na trama.
Outro ponto forte de Okja são as boas atuações do elenco e, claro, a própria Okja, uma superporca que nos faz querer ter uma dessas em casa como bicho de estimação. A atriz mirim Seo-Hyun Ahn dá vida a uma personagem apaixonante. Mija é uma jovem que sabe o que quer, empoderada e que não mede esforços para defender a amiga Okja. Também é preciso destacar a presença de Tilda Swinton, que consegue transitar muito bem em suas duas personagens, as irmãs Lucy e Nancy. Além das presenças de Jake Gyllenhaal, na pele do caricato apresentador de tevê, Johnny Wilcox (responsável por apresentar a competição de superporcos); Paul Dano, interpretando Jay, o líder da ALF; e até Steven Yuen, o Gleen de The walking dead, vivendo K, outro integrante da ALF.
Um dos poucos defeitos do longa-metragem é a previsibilidade do roteiro. A partir do momento em que o espectador bate o olho na proposta de Lucy Mirando e, depois, na relação entre Mija e Okja, todo o enredo fica bastante óbvio e ele é realmente entregue no filme. O que não compromete a produção.
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