Quando a novela O tempo não para estreou havia uma esperança de que a trama de Mario Teixeira levasse qualidade ao cambaleante horário das 19h. Veio a luminosa primeira semana, um eficiente primeiro mês e… pronto! O tempo não para tinha fôlego para 100 metros rasos e se aventurou numa maratona. Cansou, não teve jeito.
O mote para a trama da família que, congelada no anos de 1886 num iceberg, desperta em 2019 era divertido. Eles foram acordando e se assustando com o rumo que a sociedade e o mundo tomaram. O problema é que quando todos estavam acordados e acostumados de uma certa forma a 2019, O tempo não para não tinha mais trama principal. O casal Marocas (Juliana Paiva) e Samuel (Nicolas Prattes) tentou, mas não segurou uma novela sem boas tramas paralelas. Temas como condições de trabalho, escravidão e racismo foram abordados, mas sem profundidade.
Foi difícil engolir Carmem (Christiane Torloni) e Agustina (Rosi Campos) fingindo estarem grávidas ao mesmo tempo e do mesmo homem; Dom Sabino (Edson Celulari); um irmão gêmeo vindo vingar a desnecessária morte do outro; e tantos outros disparates de O tempo não para. Até no último capítulo, a inacreditável redenção de Petra (Eva Wilma) e a falta de coragem de um fim lírico para Marocas quando o vírus a envelhece foram bola fora.
Outro grande problema de O tempo não para foi a ausência de um vilão que despertasse ódio no público. Nem mesmo os personagens tinham medo das caras e bocas de Cleo ao interpretar Betina. Regiane Alves se saiu melhor como MariaCarla, mas a advogada não era tão má.
Nem só de coisas ruim viveu O tempo não para. O texto de Mario Teixeira era o que mais dava gosto de ver na telinha. Com poucos diálogos inúteis (coisa rara em novela!) até mesmo durante a enorme fase em que nada de importante acontecia, o autor mostrava-se inspirado.
Juliana Paiva e Edson Celulari vinham de apagados personagens em A força do querer. Deram a volta por cima. É bonito ver o crescimento de Juliana a cada trabalho. Outros dois jovens se destacaram: Carol Macedo (a Paulina) não teve a prometida virada, mas deu conta do recado; e Felipe Simas mostrou amadurecimento e timing pra comédia como Elmo, especialmente na dobradinha com Maria Eduarda de Carvalho, intérprete de Miss Celine.
Entre os veteranos, Milton Gonçalves teve (poucas) boas cenas e aproveitou todas elas. Mesma sorte não tiveram Rosi Campos, Eva Wilma, Christiane Torloni e Luiz Fernando Guimarães. Elenco bom não era problema para O tempo não para.
Agora é virar a página e torcer para que Verão 90 nos traga melhores ares.
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