Ator de 33 anos comentou sobre os trabalhos no audiovisual que vem emendando desde 2020 e a expectativa para a novela Beleza fatal, no Max
Patrick Selvatti
Presente no elenco da série do Canal Brasil No ano que vem como o chef de cozinha João, Drayson Menezzes, 33 anos, celebra o fato de estar em um dos maiores sucessos de crítica do momento. Protagonizada por Julia Lemmertz e Jeniffer Dias, a produção, dirigida por Maria Flor, traz temas relevantes sob a perspectiva feminina, com uma equipe 90% formada por mulheres. Ao Próximo capítulo, em um bate papo exclusivo e descontraído por telefone, o ator destacou a beleza da série, que coloca “a mulher sob um holofote bonito e necessário”, e também abre um “espaço belo e importante” para a comunidade negra.
“A Jeniffer (Dias, intérprete da protagonista Bel) e eu estamos em um lugar que, apesar da base da gastronomia brasileira ter origem negra, ainda é um meio muito composto por gente branca”, festejou o artista, que vive um personagem livremente inspirado em João Diamante, chef nascido na Bahia, criado no subúrbio do Rio de Janeiro, que se tornou uma das figuras de maior destaque da gastronomia brasileira — dividindo, inclusive, com Paola Carosella a bancada do programa Minha mãe cozinha melhor que a sua, da Globo.
Drayson acredita que o personagem traz um impacto positivo, especialmente pela cultura histórica de se colocar nas obras de tevê e cinema homens negros que reforçam estigmas. “Eu fiz um único bandido profissionalmente, mas eu tenho pele clara, reconheço esse lugar de privilégio dentro desse universo de estigmas. Mas o João é um cara que estudou, se formou, trabalhou e está em uma posição de destaque na sociedade como qualquer preto pode estar”, observou o gaúcho, que também será visto, em breve, na novela Beleza fatal, a primeira produção do gênero na América Latina feita pela Max (antiga HBO).
Vaidade das vaidades
Na trama assinada por Raphael Montes (de Bom dia, Verônica), Marcelo é um cirurgião plástico promissor, que trabalha na clínica comandada pelos personagens de Giovanna Antonelli, Herson Capri e Augusto Madeira. “A expectativa para a estreia de Beleza fatal é grande. É uma novela brasileira com cara latina, porque existe essa aposta no mercado internacional, tanto que ela tem esse formato de série, com muita reviravolta”, afirmou Drayson, que também atua como profissionalmente como modelo e viverá o segundo personagem gay no audiovisual — o primeiro foi na série Rio sem limites (2020), disponível no Looke. Porém, a orientação sexual não será o arco condutor do personagem, que está inserido diretamente no núcleo principal de uma narrativa que se desenrola em torno da vaidade.
Esse, aliás, é um assunto que permeia a imagem de Drayson. Além de ser uma figura nitidamente estilosa e estar à frente, desde 2018, de uma marca de roupas de saias masculinas que criou, a Galo Solto, estamos falando de um homem cuja beleza não chega a ser fatal, mas não passa despercebida. Ainda assim, o bonitão sarado de 1,84m observa que há uma diversidade muito grande de personalidades em seus trabalhos para que o encaixem na vitrine de galã.
“A beleza física é um facilitador, sim, e eu agradeço por meu corpo poder ter esse diferencial. Mas, por mais que se explore o corpo, é preciso que tenha a entrega como ator”, defendeu o rapaz, que se divertiu com a comparação feita pelo público da cena em que seu personagem sai do mar de sunga, na série Sem filtro (Netflix), como se fosse um participante do reality De férias com o ex, da MTV. “Há um olhar que é gostoso de receber, mas também uma valorização exacerbada dessa imagem sexualizada. Olhando o todo, hoje, eu digo que o Instagram dá uma pirada sobre o corpo. Isso não é saudável, porque envolve problemas sérios em diversos lugares e temperaturas. A busca pela perfeição, a objetificação, a distorção do que é real…”, ponderou o pisciano de 4 de março.
O seu discurso, porém, vai na contramão do que poderia ser uma problematização. “Sou fora da curva em relação a hipersexualização. Concordo que o homem negro vem desse lugar histórico da objetificação, mas eu mesmo nunca passei por isso. Tenho trajetória diversa, fui desenhando a carreira. Talvez eu tenha feito menos trabalhos do que se espera, mas eu dei nãos importantes porque quero deixar um referencial positivo”, avaliou Drayson.
De acordo com o artista, o público pode esperar cenas de nudez em Beleza fatal, produção que tem a direção assinada por Maria de Médicis e é protagonizada por Camila Queiroz e Camila Pitanga. “É uma história adulta, em uma temperatura sensual, então podem esperar muito bumbum na tela, sim, mas não é só o meu, porque eu sou o gay negro sarado do enredo ou algo dessa natureza. Não é só isso. A Maria de Médicis, com quem já trabalhei, tem uma direção extremamente sensível e madura, então não me incomoda”, assinalou o artista, que, desde 2020, está em diversos projetos audiovisuais, como os filmes Medida provisória (Globoplay) e O lado bom de ser traída (Netflix) e as séries A magia de Aruna (Disney+), As aventuras de José e Durval (Globoplay), Lov3 e 5X Comédia (Amazon Prime).
O irmão da Sheron
Enumerar os trabalhos de Drayson não é por acaso. Irmão da também atriz Sheron Menezzes, 40, o rapaz conta que há 20 anos olha para o teatro, arte que estuda desde a infância. Profissionalmente, está no ramo desde os 16, praticamente a mesma idade que a irmã, oito anos mais velha, começou. Ele disse que não houve uma influência direta, mas que cresceu verificando as possibilidades indiretas de trabalho na própria família. “Sheron é mais velha e começou antes, mas eu já observava minha avó paterna, que era artesão, o meu pai, que desenha muito bem, minha mãe, que sempre teve muito apreço pela arte e é escritora. Eu queria ser dançarino, competi em festivais de hip hop, mas também gostava de cantar e atuar”, explicou ele, que também é irmão de Sol Menezzes, a caçula de 27 anos que protagoniza a série Dois tempos, do Star+.
Aos 17 anos, o irmão mais novo de Sheron saiu de Porto Alegre (RS) para fazer a mesma faculdade que ela fez no Rio. Na cidade natal, ele já fazia comerciais, espetáculos, mas precisou começar do zero. “Em 2009, o Sudeste não tinha esse reconhecimento de quem já era profissional de outra região. Eu caminhei como artista mesmo quando criei o Coletivo Preto, com a Sol e nossos respectivos companheiros. Essa auto profissão me fez começar a aparecer, como produtor, diretor, preparador de elenco. Sou professor também”, contou.
Para Drayson, é inevitável que as pessoas façam conexão da sua imagem com o nome forte da irmã, que acumula trabalhos na televisão e foi protagonista de Vai na fé (2003). “Muita gente já me conhece como irmão da Sheron, e isso já me atravessou de várias formas, positivas e negativas. Não vou negar que existam pessoas que acreditam que estou na aba da minha irmã, mas é só pesquisar para ver que eu sou bacharel em teatro, tenho formação, muitos trabalhos no currículo. Os meus trabalhos são uma resposta”, avaliou o ator, que esteve nas novelas Rock Story (2016) e Verão 90 (2019) e teve um personagem fixo em Segundo sol (2018) — como Wander, um dos garotos que trabalhavam para a vilã Laureta (Adriana Esteves) e desfilavam de dorso nu nas cenas de confraternização na piscina da mansão dela em Salvador.
Um Rei da Disney
Cria do teatro, o palco é um terreno familiar e confortável para Drayson Menezzes, especialmente quando o assunto são os musicais. Ele, que já atuou em dois musicais grandes — Forever young, em que entrou substituindo Carmo Dalla Vecchia, e Dancin Days, no lugar do Érico Brás —, agora brilha, após um intervalo de seis anos, desde o final de julho de 2023, na nova montagem do clássico O Rei Leão. E não é em qualquer papel: o artista dá vida a Musafa, o pai de Simba no musical da Broadway, que está de volta ao Brasil, dez anos depois de sua primeira passagem pelo Teatro Renault, em São Paulo.
“Eu queria muito fazer o Simba, mas não tenho esse registro vocal, o meu é grave. Foquei no Mufasa, mas acabei não conseguindo fazer o teste. Só que, o que tem que ser, é. A produção não encontrou o ator perfeito. Iam buscar um sul-africano, há 12 na produção, mas decidiram, para o Musafa, pela nacionalidade brasileira. Aí, por meio do Thiago Rodrigues, diretor musical, chegaram a mim. É uma experiência transformadora, eu choro sempre. Dá pra acreditar que estou vivendo um Rei da Disney?”, questiona, quase que ele próprio sem acreditar na magia do que tem acontecido.
Da Disney, aliás, é outro trabalho que traz Menezzes no elenco. Na série A magia de Aruna, ele vive o bruxo guerreiro Akashi. “Sou nerd, amo filme de heróis, aventura e ação. Eu sonhava fazer algo assim como ator. Sou fã de Harry Potter, sempre li muito fantasia a vida toda. Me senti uma criança feliz ao ser preparado para fazer esse trabalho mágico. E fui surpreendido, porque sempre fico entre o bom moço e o galã, mas meu tesão é buscar fazer isso de uma forma diferente, criar algo novo. E esse bruxo guerreiro foi o que mais deu essa possibilidade”, comemorou o gaúcho, que hoje se divide entre Rio e São Paulo e não nega: a carreira internacional é um sonho/objetivo, especialmente se for em um grande filme de ação.
Aproveitando a deixa, Drayson dá o spoiller: vai ter um novo O Rei Leão no cinema e o atual Musafa brasileiro gostaria muito de ser a voz do Musafa gringo. A coluna fica nessa torcida!