Patrick Selvatti
Aos 26 anos e com uma carreira ascendente na tevê, no teatro e no cinema, Bruna Pinheiro se impressiona com o fato de dizer que é feminista ainda causar tantas dúvidas e preconceitos. Para ela, a pergunta é: como não ser? “Hoje não perco mais meu tempo explicando que feministas não são mulheres que não usam sutiã, que não se depilam, ou que são mal amadas e não transam”, explica a jovem atriz, que também tem talentos musicais e, vez ou outra, compartilha com seus 44 mil seguidores vídeos em que canta e toca piano.
O empoderamento feminino vem no DNA de Bruna. Ela é neta de Helô Pinheiro, a Garota de Ipanema eternizada na canção de Tom e Vinícius. Com uma ancestralidade forte, que inclui, ainda, a mãe, Kiki, e a tia, Ticiane, a artista comenta sobre a pressão pela manutenção da beleza e da juventude que é marca de sua família. “Envelhecer faz parte da vida e o caminho todo tem que ser bem aproveitado. Espero chegar nos 50, 60 ou 80 com a vitalidade, vontade e felicidade que enxergo nelas”, argumenta ela, que, recentemente, pôde ser vista na série Reis, da Record — onde também atuou na série Todas as garotas em mim.
Na produção bíblica, Bruna deu vida à Ayla, esposa de Mefibosete (Miguel Coelho), uma moça com deficiência audiovisual. Para interpretá-la, a atriz fez preparações sensoriais, e, em grande parte, voltadas para a mobilidade e locomoção no espaço e para o trabalho de um olhar “interno”, pois, em cena, ela não estabelecia contato visual com os outros atores. “O olho no olho é minha forma mais segura de atuar, então fui tirada completamente da minha zona de conforto. Além de ter aprendido muito com o processo todo, como atriz, comecei a perceber o set de outras formas, através de outros sentidos”, explica Buby, que também atuou no longa 30 anos Blues (2019), ganhador do prêmio especial do júri no Festival de Gramado, e nos curta metragens See things differently (2019) e Submerso (2018), além do clipe Runaway do cantor Zeeba, em 2020.
Em uma conversa com o Próximo Capítulo, Bruna Pinheiro — que se divide entre carioca e paulistana — conta, ainda, como é ser neta de um ícone e o trabalho de roteiro que está desenvolvendo com o namorado, Rafael Delgado, sobre a experiência no Instituto Benjamin Constant, referência em deficiência visual no Rio de Janeiro.
Tem muitas Brunas aqui dentro! A Bruna amiga, é uma ótima personalidade pra destacar (risos): amo estar rodeada de pessoas que me fazem bem, amo ajudar, escutar, incentivar, colocar quem eu amo pra cima. Como não moro perto da minha família, meu ciclo de amizades é muito importante pra mim…. Mas, meus momentos sozinha também me fortalecem muito. Além da atuação, da música, gosto muito de artesanato, de pintar e modelar ou esculpir, e também estou começando na escrita agora.
Ayla foi uma personagem importantíssima para mim. Foi uma experiência muito diferente de tudo que eu já havia vivido no audiovisual. Fiz preparações tanto com a Nara Marques, na Record, quanto no Instituto Benjamin Constant, o instituto dos cegos aqui do Rio de Janeiro. As preparações foram muito sensoriais, e, em grande parte, voltadas para a minha mobilidade e locomoção no espaço e para o trabalho de um olhar “interno”, pois, em cena, eu não estabelecia contato visual com os outros atores. O “olho no olho” é minha forma mais segura de atuar, então fui tirada completamente da minha zona de conforto. Além de ter aprendido muito com o processo todo, principalmente com relação ao entendimento de como melhor guiar ou auxiliar um deficiente visual da forma correta, seja na rua ou dentro de ambientes fechados (coisa que acho que todos nós deveríamos saber fazer), como atriz, comecei a perceber o set de outras formas, através de outros sentidos. Foi muito valioso pra minha construção como profissional!
Comecei a escrever recentemente, muito por influência do meu namorado, que é, além de ator, roteirista. Logo após terminar minhas gravações como Ayla, em Reis, e de terminar, assim, minhas preparações no Instituto Benjamin Constant, desenvolvi uma vontade muito grande de escrever um projeto que abordasse a questão da deficiência visual em algum momento. Conheci, no instituto, atores cegos que disseram não ter muitas oportunidades de trabalho na área e logo quis desenvolver um projeto onde um ator cego pudesse protagonizar. O Rafael [namorado], que frequentou o Instituto comigo em uma das preparações, se interessou muito quando resumi um pouco do que havia pensado para esse roteiro e a partir daí, começamos a desenvolve-lo juntos. Sinto que estou conhecendo mais uma partezinha minha que me faz feliz!
Não sinto! A sociedade costuma ter um instinto de preservação bem forte, né? Que enxerga o envelhecer como algo ruim, limitante, feio… Vendo minha avó, ou todas as mulheres a minha volta, só tenho mais certeza de que estou no caminho certo, de que quero cuidar cada vez mais de mim com carinho, e de uma forma saudável. Envelhecer faz parte da vida e o caminho todo tem que ser bem aproveitado. Espero chegar lá nos 50, 60 ou 80 com a vitalidade, vontade e felicidade que enxergo nelas. Não costumo mesmo me preocupar com as rugas que terei… (risos)
Acho muito doido como se dizer feminista ainda causa tantas dúvidas e preconceitos. Basicamente, visitando o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, o feminismo é “a teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos”. Agora, visitando o Dicionário Jurídico da professora Maria Helena Diniz, é “o movimento que busca equiparar a mulher ao homem no que atina aos direitos, emancipando-a jurídica, econômica e sexualmente”. Então a pergunta é: como não ser? Hoje, não perco mais meu tempo explicando que feministas não são mulheres que não usam sutiã, que não se depilam, ou que são mal amadas e não transam. Li uma vez uma matéria onde a redatora perguntava: “O que pelos tem a ver com ideologias?” E o feminismo nos possibilitou votarmos, sermos votadas, trabalharmos, nos tornou capazes e independentes diante da lei. O feminismo segue lutando diariamente por uma sociedade mais justa para mulheres e homens, meninas e meninos que podem, e devem, brincar de carrinhos e bonecas…. Ou do que bem entenderem!
É demais! Amo essa mulher em tantos níveis… Engraçado que sempre me dizem que eu não tenho dimensão do “tamanho” que minha avó tem, e do tamanho da representação do Brasil que ela já levou para o mundo… Isso tudo é tão incrível! Acho que dizem isso para mim, porque a vejo e verei sempre como minha vovó! A mulher que me dá os melhores conselhos, que me apoia, que me ensinou a tabuada e as conjugações verbais, que sempre esteve ao meu lado, desde meus primeiros minutos de vida! Eu amo o carinho que ela recebe das pessoas e tudo que ela já construiu com muito trabalho até hoje, e por aqui, é só admiração!
Sempre me dediquei exclusivamente a minha carreira de atriz, estudo atuação desde muito nova, mas posso dizer que amo a comunicação no geral. Com certeza, seria muito feliz apresentando também, me jogo de cabeça em tudo! Mas, como nunca estudei para, precisaria separar tempo para focar um pouco nisso também.
Eu sou paulista, mas minha alma carioca! Eu amo SP, amo meus amigos paulistas e tudo que eu já vivi e construí por lá. Amo a explosão de cultura que a cidade proporciona, tantas peças de teatro, exposições, artes de rua, culinária… Mas, o Rio ganhou meu coração, ainda bem pequenininha! Sou muito apaixonada pela natureza carioca integrada a cidade grande, amo acordar e poder correr pra dar um mergulho no mar ou passear com minha cachorrinha na Lagoa no fim da tarde. Poder unir essa cidade ao meu trabalho é uma benção, e juntar isso com minhas visitinhas a SP….. Melhor dos dois mundos!
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