O contato genuíno com a arte de Robson Santos, de Reis

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Robson Santos, ator | Crédito: Cecília Vaz

Ator está no elenco da novela bíblica da Record e poderá ser visto em filmes protagonizados por Xuxa e Sérgio Mallandro

Patrick Selvatti

 

No elenco da oitava temporada de Reis, na Record, Robson Santos poderá ser visto, em breve, também no cinema. Ele está no elenco dos filmes Uma fada veio me visitar e Mallandro, o errado que deu certo. O primeiro é protagonizado por Xuxa e o segundo, por Sérgio Mallandro.

“Receber a notícia de que estaria nesses dois filmes foi algo muito singular. Xuxa e Sérgio Mallandro são dois grandes nomes da televisão brasileira e eu cresci os vendo na telinha”, comemora o ator de 45 anos e 20 de carreira que ministra, desde 2019, uma oficina gratuita de interpretação dentro de uma escola pública, no bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. “Sempre tive a intenção de ministrar uma oficina gratuita para qualquer pessoa interessada em ter um contato genuíno com a arte. Todas as idades são bem vindas. Cobro apenas presença, disciplina, comprometimento e espírito de grupo”, afirma Robson.

Formado em artes cênicas e em jornalismo pela PUC- Rio, Robson explica que, desde criança, sabia que seria ator. No entanto, devido à realidade de menino preto, pobre e filho de uma empregada doméstica, tal sonho parecia algo bem distante. “Mesmo assim, independente da descrença de alguns, inclusive de pessoas próximas, acreditei no meu objetivo e mergulhei na arte por conta própria”, relata.

 

ENTREVISTA / Robson Santos

O que te levou a iniciativa dessa oficina gratuita de artes em escola pública e como tem sido essa experiência?

Sempre tive a intenção de ministrar uma oficina gratuita para qualquer pessoa interessada em ter um contato genuíno com a arte. Então, desde 2019, uma vez por semana, dentro da escola Herbert de Souza, no Rio Comprido, fazemos um encontro com improvisações, exercícios vocais e corporais, jogos teatrais, imaginação e execução de cenas. Todas as idades são bem vindas. Cobro apenas presença, disciplina, comprometimento e espírito de grupo. O resultado tem sido muito positivo, pois os alunos, com experiência na atuação ou não, ressaltam que a oficina expandiu sua visão de mundo, melhorou sua escrita, sua oratória, sua leitura, diminuiu sua timidez, auxilia no trabalho como ator etc. É uma troca significativa para todos nós. Nosso lema em toda aula é: “Eu preciso de você e você precisa de mim”.

Como foi participar dos filmes com a Xuxa e com o Mallandro?

Receber a notícia de que estaria nesses dois filmes foi algo muito singular. Xuxa e Sérgio Mallandro são dois grandes nomes da televisão brasileira e cresci os vendo na telinha. No filme Uma fada veio me visitar, com estreia para outubro deste ano, faço um professor de matemática e não tive a oportunidade de contracenar diretamente com a Xuxa, mas estou ansioso para ver o resultado desse trabalho. Em Mallandro, o errado que deu certo, que estreia em janeiro de 2024, atuo diretamente com Sérgio Mallando, dando vida a um policial que precisa conter uma confusão armada pelo protagonista. Diversão garantida.

Por que decidiu atuar e não trabalhar como jornalista?

Desde criança sabia que seria ator. No entanto, devido à minha realidade, um menino preto, pobre e filho de uma empregada doméstica, tal sonho parecia algo bem distante. Mesmo assim, independente da descrença de alguns, inclusive de pessoas próximas, acreditei no meu objetivo e mergulhei na arte por conta própria. Fiz cursos, me profissionalizei, investi em mim, os trabalhos foram surgindo e não parei mais. O jornalismo entrou em minha vida com a intenção de ter uma segunda carreira. Fiz um pré-vestibular comunitário e acabei passando pra PUC. Estagiei na Rádio Digital da instituição e também estagiei na Rádio MEC. Anos depois de formado, fui apresentador do programa Almanaque Saúde, exibido no Canal Futura, onde pude colocar em prática o que aprendi na faculdade de Jornalismo. No entanto, apesar de ser muito interessado pelas possibilidades da área jornalística, a paixão pela atuação sempre falou mais alto aqui dentro.

Reis é uma novela bíblica que retrata um tempo em que, como o próprio nome diz, era dominado por homens e plantou o machismo estrutural que vivenciamos por séculos e vem sendo desconstruído agora, após muita luta. Como você enxerga o movimento feminista e o empoderamento feminino?

As mulheres estão, a cada dia, conquistando mais espaços e acho isso necessário, justo e válido. Sabemos que ainda vivemos em uma sociedade com uma mentalidade machista e arcaica em vários aspectos, no entanto, é visível a amplitude do empoderamento feminino. Toda mulher deve expor seus pensamentos e vontades se assim quiser, defender aquilo que acredita, ser o que ela quiser, vestir o que quiser, agir da forma que achar melhor e ocupar os lugares que desejar.

Naquele tempo, os negros ocupavam uma posição servil que também se perdurou por séculos. Hoje, a narrativa está sendo reescrita, com os negros assumindo mais espaço de protagonismo. Você tem acompanhado de perto esse movimento e celebrado a conquista de colegas que estão sendo prestigiados com melhores papéis na TV?

Ainda estamos dando os primeiros passos. Mas hoje, nós pretos, já podemos nos ver em uma produção dramatúrgica, sem ser apenas em papéis de ancestrais escravizados, empregados domésticos, presidiários ou criminosos. Nos conteúdos oferecidos estamos vendo atrizes e atores pretos interpretando professores, pais de família, juízes, advogados, médicos, empresários, engenheiros, milionários, reis, rainhas, príncipes, princesas, guerreiros etc. Vemos, inclusive, profissionais pretos como protagonistas em alguns desses conteúdos. Representatividade importa. E muito. Mas repito: ainda estamos dando os primeiros passos. Espero ver também mais autores, diretores e produtores de elenco pretos nas produções audiovisuais brasileiras.