O BBB 19 é um flashback piorado da 17ª edição e um retrato da intolerância no Brasil

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Quem acompanha BBB, sabe que a 17ª edição, vencida por Emilly, foi uma das temporadas mais pesadas do reality show. As constantes brigas entre a vencedora e o participante Marcos, com quem ela tinha um relacionamento dentro da casa, expuseram uma relação bastante abusiva. Porém, na época, a Globo até se movimentou — depois de muitas críticas e denúncias na internet — e expulsou Marcos sob acusação de agressão, em uma cena lembrada até hoje.

Esse clima pesado do BBB 17 tem reaparecido na 19ª edição. Primeiramente com um participante eliminado para lidar com acusações no lado de fora de agressão e assédio sexual. E depois com outros participantes destilando comentários de intolerância religiosa, de preconceito racial e social e de misoginia, que a edição do programa faz de tudo para esconder, mesmo depois da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do Rio de Janeiro ter feito a abertura de um inquérito para apurar as situações de racismo.

Inclusive, a edição tem feito de tudo para que uma das participantes, envolvidas na polêmica seja vista apenas como uma jovem engraçada, sem filtros e sem noção do que fala. Paula tem recebido um tratamento totalmente diferenciado da produção do BBB — ela não precisou sair para prestar depoimento, como aconteceu com Vanderson e será ouvida apenas após o fim do reality show — e conta com uma base de fãs que desesperadamente “passa pano” para as atitudes da loira, arranjando sempre uma desculpa para os comentários ofensivos de Paula, que disse ter medo dos “oxums” de Rodrigo, classificou uma pessoa negra como “carvão” e justificou a agressão a uma mulher ao fato de ela ser “favelada”.

Crédito: TV Globo/Reprodução

Mesmo com todos esses comentários e depois da hashtag #ForaPaula ter figurado nos trending topics durante o paredão em que Paulinha enfrentou Carol Peixinho e Danrley, a participante contou apenas com 23,52% dos votos para ser eliminada contra os 61,21% que colocaram o morador da Rocinha para fora da casa do BBB na última terça-feira.

Esse percentual, que assustou parte do público do Big brother Brasil, demonstra que a onda crescente de intolerância nos últimos meses no país migrou para o reality show ao lado da constante impunidade em relação a esse tipo de crime: o público — ou até a edição, muita gente acredita em manipulação do resultado –, não se incomoda com os comentários racistas da participante, pelo contrário, ainda apoia o que ela fala e as atitudes, como a “queimação do Judas” feita no Jogo da discórdia na última segunda-feira, em que Paula e Carol, com apoio da edição, queimaram o filme de Danrley, fazendo de tudo para que ele fosse eliminado.

Crédito: TV Globo/Reprodução. Carol, Paula e Danrley no Jogo da discórdia antes do resultado do paredão

Todo esse caminho que o BBB 19 tem percorrido é uma grande pena para o formato — que sim serve para entreter e ainda pode ser uma experiência e análise antropológica. Mas essa trajetória, no fundo, não é uma surpresa. Desde o início da temporada ficou claro que a produção do Big brother Brasil quis retratar o momento atual da sociedade na seleção dos participantes: os militantes x os privilegiados. No entanto, em vez de trazer um debate saudável, a atração tem propagado preconceito.

Por isso, neste momento sou, abaixo ao BBB. Esse programa já morreu, só falta enterrar!

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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