Patrick Selvatti
No ar na série Novela, atração do Amazon Prime, Gabriela Loran vê ecoar a sua voz, que já é uma das mais relevantes na internet quando o assunto é diversidade. Na atração protagonizada por Mônica Iozzi, Miguel Falabella e Maria Bopp, a atriz e influenciadora, de 30 anos, dá vida a uma personagem que escapa ao fato de sua intérprete ser uma pessoa que passou por uma transição de gênero. “O mais importante nisso tudo é mostrar a nossa capacidade, porque o que nos diferencia de atores cis é justamente a oportunidade. Então, quanto mais oportunidades nós tivermos, mais provaremos que somos capazes de viver qualquer tipo de personagem, não personagens só limitados à temática trans, mas muito além”, defende.
Gabriela foi a primeira e única pessoa transgênero a atuar em Malhação, da Rede Globo, em 2018. Para ela, esse foi, sem dúvidas, um divisor de águas. “Cresci assistindo Malhação e pude ser a primeira referência de pessoa trans dentro do folhetim. Isso foi maravilhoso porque me abriu portas, não só para mim, mas para outras meninas também”, afirma ela, que, na mesma emissora, deu vida a Luana, em Cara e coragem, no ano passado. Assim como em Novela, nessa produção, a transgeneridade também não foi abordada. “Quando a gente fala sobre a pauta trans na teledramaturgia, muitos roteiristas ainda estão muito atrasados porque a gente não debate mais sobre coisas tão pequenas. Nosso debate está muito mais a frente”, avalia.
O remake de Elas por elas, que estreia na Globo agora em setembro, terá como protagonista, pela primeira vez, uma atriz que passou pela transição de gênero, Maria Clara Spinelli. Gabriela Loran comemora o marco histórico. “Fazer personagens secundários acaba cansando a gente, sabe? Eu sou sempre a amiga de beltrano, a colega de fulano… Quando eu vou ser a protagonista? O questionamento é esse. E podendo ver esse protagonismo agora, a Maria Clara ocupando esse espaço tão importante e tão revolucionário para a gente, é de ficar muito feliz mesmo”, comemora ela, que incrementa o debate com a proposta de maior avanço na escalação dos artistas que são transgêneros para papeis que fogem a essa temática de transição. “A gente tem a capacidade de viver qualquer tipo de personagem, mas a gente só vai ter essa possibilidade, se tivermos oportunidade”, destaca.
A cena em que Juliana Paes, em Pantanal, morre é um exemplo que Gabriela costuma usar. “Eu fico me perguntando se um dia algum diretor, algum roteirista, vai escrever uma personagem para mim e vai permitir que eu viva algo tão intenso quanto essa personagem, algo tão intenso quanto essas possibilidades. Porque bagagem eu tenho, experiência eu tenho, estudo eu tenho. Eu não sou uma atriz que tem tantos mil seguidores no Instagram e que consegue oportunidade através de seguidores. Eu sou estudada, eu tenho diploma, eu tenho bagagem e muito mais”, desabafa ela, que está, ainda, em Arcanjo renegado, no Globoplay. Nessa trama, com terceira temporada gravada e mais duas confirmadas, ela interpreta Giovana, chefe de gabinete da presidente da Alerj, interpretada por Cris Vianna.
Em Novela, produzida pela Porta dos Fundos, Gabriela vive, pela primeira vez na ficção, uma narrativa de humor — gênero que ela já aborda em seus conteúdos na internet. “Quando você está rodeada de um elenco que já trabalha com humor, você se sente mais solta. E eu tive a chance de contracenar com pessoas maravilhosas: Miguel Falabella, Mônica Iozzi, Maria Bopp, entre muitos outros. Eles me deixaram muito à vontade para construir a minha personagem e os meus bordões”, pontua ela, que encarna Lucrécia, uma jornalista especializada em fofoca e que comenta as cenas que estão no ar na tal novela do título.
Na vida real, a atriz e influenciadora conta que nunca foi alvo desse tipo de reportagem mais invasiva. “Eu acho que é bem complexo porque, querendo ou não, deve existir uma responsabilidade desses canais de comunicação quando o assunto é a vida das pessoas. Porque por mais que eu seja uma figura pública, nem tudo na minha vida eu mostro na internet ou quero que o mundo saiba. Mas, em contrapartida, eu entendo qual é a importância de um jornalismo sério e por mais que seja uma fofoca, que tenha embasamento. Que possam entrar em contato comigo, que possam permitir que eu dê a minha versão dos fatos”, argumenta.
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