Por Pedro Ibarra
“Para minha família e ciclo próximo, eu sou o Batman da vida deles. Mas para quem não me conhece de cara eu já sou o Coringa”, comenta Neymar sobre a própria vida e trajetória. Essa comparação dos personagens dos quadrinhos com o mundo real é muito precisa, afinal este é Neymar, um herói que em uma fração de segundos pode se tornar vilão e é isto que a série Neymar: o caos perfeito mostra na Netflix.
A produção é um seriado documental de 3 episódios de aproximadamente 1h. A história abarca do início da carreira do atacante brasileiro até pouco depois da final da Champions League de 2020, jogo que o Bayern venceu o Paris Saint-Germain liderado por Neymar por 1×0. Durante o documentário, além do craque, são entrevistados amigos, familiares e pessoas que acompanharam o crescimento do jogador, sem contar com a análise de jornalistas e depoimentos de ícones do futebol que de alguma forma se associam com o histórico do camisa 10 da seleção e do PSG.
Como esperado, tudo na série gira em torno da imagem de Neymar. O jogador tem destrinchada toda vida, desde a infância na cidade natal, Praia Grande, com o futebol de rua e futsal, até a relação com a multimilionária empresa que funciona para manter o nome do atacante relevante. É uma conversa entre o Neymar humano e o Neymar famoso, um mergulho profundo na intimidade da figura mais famosa do esporte brasileiro atual e quiçá o mais famoso brasileiro no mundo.
O seriado executa brilhantemente o que se propõe: contar uma história crua, porém não imparcial. Dar a visão dos fatos pelos olhos de quem é criticado, para que os críticos decidam o que fazer com essas informações. Mostrar a verdade, arriscando e ousando como o próprio Neymar faz no campo quando escolhe driblar um marcador em momento em que o passe seria a melhor opção.
O jogador está de verdade ali, para além do midia training que é submetido desde os 14 anos de idade. Ele fala de futebol, mas fala das festas que frequenta. Ele brinca, conversa sério, se emociona e briga. Porém, transborda o Neymar que o público conhece, já que pela primeira vez, adiciona conteúdo para explicar toda plasticidade que envolve a vida dele, tanto nos campos quanto fora.
Neymar dá a cara a tapa, mas, mais do que isso, bate de volta. Questiona as críticas, mas as aceita também. Fala que é só um menino, contudo se posiciona como o adulto que é cobrado de ser. Neymar mostra o caos interno, aquilo que nas quatro linhas ele transforma em genialidade, para que o público possa ver o que se passa em uma pessoa que ao mesmo tempo escolheu viver a vida que vive e também é um fruto de um meio, as vezes tóxico e ganancioso.
Legado
Talvez o maior acerto de Neymar: o caos perfeito seja a forma como ela tratou o legado. A vida de Neymar Jr. começa do termo. Afinal, ele é filho de um jogador com histórico de fracasso que viu nele a esperança de uma vida melhor. o Neymar pai fez com o filho, a clássica história da mãe de miss, uma pessoa que deposita todas as forças, esperanças e expectativas na própria cria. Quando Ney chegou aos 14 anos, a família do craque já era milionária. Com 16, o atacante estreava no profissional, enquanto o pai cuidava de um faturamento de 7 dígitos.
O pai dependeu do filho para ter a vida que sempre sonhou para si, mas fala como se fosse tudo fruto do próprio esforço. O público consegue ver que Neymar vive uma grande sombra, onde guarda todo caos que o transformou no que ele é. O menino que só queria jogar bola, nunca fez só isso da vida, seja por escolha ou pela falta dela. Isso porque o seriado não leva em consideração os escândalos fiscais e de corrupção que o pai do atleta está envolvido.
A relação entre pai e filho exposta no filme mostra que realmente há um lado da história do jogador que só ele poderia contar. Neymar pai assume uma postura de protagonista, não só do documentário como da vida do filho. As conquistas do camisa 10 não são pessoais, são um legado de um nome, de uma imagem que foi construída como a grande esperança do principal esporte de uma nação sedenta por dias melhores. O atacante carrega a expectativa do Brasil nas costas, por conta da expectativa que a família põe sob ele e isso já é mais algo de bastidores Neymar do que jamais revelado.
Em três horas, o documentário utiliza os melhores recursos para contar uma história de amor e ódio. Os fatos todos já sabem, um dos maiores jogadores da história do país do futebol que lida com graves problemas no que diz respeito a ser uma pessoa pública. O que vai além é que interessa, a série dá motivos para idolatrá-lo ou detestá-lo, cabe ao espectador medir na balança se prefere entender Neymar como Batman, ou Coringa
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