Poucas coisas aterrorizam mais os fãs de série do que a temporada e o episódio final. O medo de uma história memorável ser perdida para sempre em uma conclusão ruim ronda os admiradores. Isso porque o fim costuma ser um calcanhar de Aquiles no mundo seriado. Em um ano com várias despedidas (em 2019 Game of thrones, The Big Bang Theory e Veep deram adeus), Mr. Robot entregou um final que faz justiça à trajetória da narrativa. Após quatro temporadas de muitas emoções, sustos e lutas contra o império capitalista das corporações bilionárias, a produção do showrunner Sam Esmail deu adeus. E o Próximo Capítulo preparou uma análise da série. Confira!
O conteúdo abaixo contém spoilers
Ainda no meio do longínquo 2015, chegava às telinhas do pequeno canal a cabo norte-americano USA uma série que muito tinha de conteúdo, especialmente no mergulho tecnológico/pós-crise mundial, que propunha. No protagonismo, Elliot (Rami Malek), um personagem com fobia social que, como vários outros jovens do mundo, estava preso no looping de lutar para ser bem-sucedido, enquanto era explorado por corporações que dominavam o mundo.
O sonho do protagonista em roubar do ricos e distribuir aos pobres foi o grande mote da produção, mas definitivamente não foi o único. Um detalhe pequeno, mas chave para a conclusão da série ajudou no sucesso de Mr. Robot: o amigo imaginário de Elliot.
A figura do Mr. Robot entre o pai bondoso e parceiro de brigas na cabeça do garoto passou as quatro temporadas de forma “coadjuvante”, mas sempre presente. E, no final — exibido em dezembro do ano passado —, ajudou o público a entender um pouco mais de que a série tratava bem menos de ação e bem mais de psicologia.
É quase impossível tentar reviver cada plot das quatro temporadas de Mr. Robot. Foram tantos detalhes que ajudaram na composição de trama, que é mais efetivo olhar a conclusão que dezenas de personagens ajudaram a criar.
Nesse sentido, a última temporada da série reviveu alguns “monstros” do passado Elliot, para que o protagonista pudesse chegar ao grande clímax que Mr. Robot sempre prometeu. Entre os destaques, o episódio 7 (Proxy authentication required) dividido em atos, que levou ao público ao primeiro degrau das descobertas.
Intenso, rápido e angustiante, Proxy authentication required trouxe à tona os abusos sexuais que o garoto sofria do próprio pai durante a infância. O Mr. Robot era uma tentativa do jovem em esconder tal sofrimento, que agora estava aberto para o mundo.
Sem tempo para digerir o trauma de Elliot, no brilhante episódio 9 (inclusive um dos melhores do ano), Conflict, a série levou ao público uma das grandes promessas de toda a trajetória: a destruição dos “ricos”. Para os mais atentos, não foi o primeiro golpe realizado por Elliot nesta parcela da sociedade, mas foi o maior.
Elliot e a fiel escudeira Darlene (Carly Chaikin) conseguiram roubar o Deus Group (o 1% do 1% dos mais ricos do mundo) e distribuir o dinheiro para a população — bem, para ser honesto, a irmã de Elliot teve um papel muito mais efetivo nesta ação do que o próprio protagonista. De qualquer forma, foi uma grande alívio para quem acompanhou toda a produção, com uma sensação de que a história cumpriu o que prometeu.
Com 13 episódios na temporada final, o público já tinha ficado atento que existia mais água para rolar além de Conflict. E olha a surpresa: existia coisa muito mais importante do que Elliot destruir os mais ricos.
Os últimos capítulos da produção se dedicaram a um mergulho na cabeça do protagonista. Depois de ir para uma dimensão alternativa, onde tudo ficava bem — no melhor estilo “pílula vermelha e azul de Matrix” —, o público, por fim, entendeu que Elliot, na verdade, nunca foi o protagonista. O jovem era apenas uma das personalidades (de um alguém que nem chegamos a conhecer). O Mr. Robot; a mãe de Elliot, o Elliot garotinho e o próprio Elliot não eram “reais” (mais no sentido de físicos).
De certa forma, a grandeza da série — em aspectos gerais — talvez nem tenha tanto uma relação com a reviravolta. O que mais agradou nessa conclusão foi a forma como, em nenhum momento, a decisão foi forçada.
É difícil colocar toda essa reviravolta em palavras. Contudo, para quem viu a produção é claro: as referências que voltaram desde a primeira temporada a esses últimos quatro episódios foram brilhantes, desde o SUV preto que Elliot dirigia, até o assassinato do “Elliot imaginário”, como tudo o que aquelas imagens no computador significavam.
Nos fim das contas, o recurso usado por Mr. Robot espanta exatamente por mostrar o quão bem pensada a série foi. São quatro anos sem a incômoda sensação de estar sendo enrolado, e no final ainda há uma surpresa. A série não foi fácil ao público, um bom sinal. E não para menos: vai deixar saudades.
No Brasil, Mr. Robot está disponível pelo serviço Amazona Prime Video, entretanto, até o momento, somente as três primeiras temporadas. Ainda não há previsão de lançamento da quarta temporada no país.
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