Mouhamed Harfouch é um cidadão do mundo

Compartilhe

Filho de sírio, ator Mouhamed Harfouch representa muito bem a miscigenação que é base da novela Órfãos da terra

“Um personagem não se encerra em sua origem, somos todos brasileiros e nem por isso somos iguais.” Assim Mouhamed Harfouch defende que a origem árabe é apenas um traço em comum entre vários personagens da carreira dele. Atualmente no ar como o Ali Al Aud de Órfãos da Terra, Mouhamed Harfouch completa: “O fato de ter uma origem parecida ou ter um sotaque não delimita o personagem. Pelo contrário, o exercício até se torna mais rico.”

Na novela das 18h, Ali se apaixona pela judia Sara (Verônica Debom), o que levou Mouhamed a receber muitos relatos de histórias proibidas, como esse. Mas o ator acredita na força do amor: “Acredito no amor como uma força transformadora capaz de promover grandes revoluções.”

Na entrevista a seguir, Mouhamed Harfouch fala sobre Órfãos da terra, tolerância e imigração. Confira!

Leia entrevista com Mouhamed Harfouch!

Foto: Ricardo Penna/Divulgação. Mouhamed Harfouch: “Acredito no amor como uma força transformadora capaz de promover grandes revoluções”

Você já interpretou vários personagens de ascendência árabe na tevê. Como fazer para que um não repita o outro?
Cada um tem uma verdade, cada um tem uma história interessante a ser contada. Um personagem não se encerra em sua origem, somos todos brasileiros e nem por isso somos iguais. O fato de ter uma origem parecida ou ter um sotaque não delimita o personagem. Pelo contrário, o exercício até se torna mais rico. Assim que penso quando componho qualquer personagem, mas sobretudo, personagens que possam parecer repetidos. Esse é meu desafio pessoal quando vou contar qualquer história, achar a verdade.

Órfãos da terra traz à luz um tema muito importante: a tolerância com os imigrantes. Sua família chegou a ter problemas com isso?
Meu pai, quando chegou na década de 1970, passou muitas dificuldades, mas nunca sofreu preconceito. Pelo menos nenhum que o obstasse a lutar pelo seu espaço e construir sua vida. O Brasil nessa época era um país cheio de oportunidades e quem tivesse vontade de trabalhar conseguiria. Meu pai lutou muito e construiu a vida, a família e pôde ajudar nossa família na Síria. Ele tem um carinho enorme pelo Brasil, país que chama de seu também, hoje ele é naturalizado. Fala que nós não entendemos a dimensão da riqueza que este país possui. O Brasil sempre foi uma pátria acolhedora e sempre fez disso seu crescimento. Afinal, fomos colonizados, nos estruturamos como nação, e a imigração sempre ajudou a construir e a fortalecer nossa economia, agricultura, nosso comércio, nossa cultura…esse é o nosso DNA. O mundo hoje mudou, as oportunidades também, mas não será fechando nossos olhos e nossas portas que resolveremos nossos problemas. Precisamos estar atentos para não abraçarmos a intolerância e muito menos o preconceito. Isso, sim, é involuir.

Por ser de ascendência árabe, você acaba sendo uma espécie de consultor de outros atores do elenco da novela?
Não sou um consultor ー até porque estamos bem servidos deles em Órfãos da terra, mas acabo ajudando no sotaque quando algum ator me pergunta. Fiz vários personagens com sotaque. Agora entrou na história o Miguel Nader, por exemplo, e acabei dando uma força maior para ele com relação ao sotaque. Mas o sotaque é algo pessoal, vai da embocadura pessoal e da história de cada personagem.

O amor entre um árabe e uma judia até hoje é visto como tabu?
Aqui no Brasil nem tanto. Mas confesso que já recebi relatos de pessoas que passaram dificuldades com as o Ali na história.

Você é romântico? Acredita que o amor pode vencer barreiras como essa?
Sou romântico, sim. Acredito no amor como uma força transformadora capaz de promover grandes revoluções. Aliás quando construí o Ali, fui mais pela construção verdadeira desse amor com frescor, com leveza, com a alegria do verdadeiro encontro do que pela problematização das sua origens. Sabia que, se o amor dessas personagens fosse verdadeiro, o público poderia comprar a história e entender que eles poderiam superar toda dificuldade. O mundo está carente de afeto e nesses momentos onde cresce a intolerância, a beligerância, a aversão às diferenças constatamos que a única solução é um olhar mais empático, mais solidário, mais afetuoso e para isso é necessário amor ao próximo.

O público está acostumado a ver o Mouhamed “escondido” por um personagem. No Popstar era mais você, apesar da música escolhida para você defender. Como foi essa exposição?
O Popstar foi um dos maiores desafios da minha vida. Algo que realmente exigiu uma atenção enorme e um grande exercício de autoconhecimento e superação. Mas foi também um momento de muitas alegrias e vitórias pessoais. Foi um momento lindo em que pude celebrar o amor que tenho pela música e pude crescer como artista. É um programa no qual é preciso perder para poder ganhar. Parece louco, mas faz muito sentido. Quando saímos da nossa zona de conforto e perdemos nossa segurança ou perdemos nossa certeza, vem o pânico, o medo, a vontade de sair correndo e desistir. Mas vem também uma força que não conhecemos e, nesse verdadeiro estado de necessidade, aprendemos a nos reinventar e aprendemos a crescer. Conquistamos novos limite e por fim ganhamos. Foi assim que me senti nessa competição, saí mais seguro, saí mais forte e saí com vontade de explorar cada vez mais os meus limites. Isso para um artista é um caminho lindo.

Você acabou indo bem no reality. Vem um disco por aí?
O carinho do público que me abraçou me fez ir até a final, algo que nunca imaginei. Cheguei a parar na repescagem, poderia ter sido o primeiro eliminado do programa. Quando acabou o programa decidi agradecer ao rock, aos amigos que me ajudaram tanto, ao público que me abraçou, torceu e votou e falei com o Marcelo Sussekind, um dos meus produtores do programa, para produzir uma música autoral minha. Acabamos fazendo três. A primeira delas será lançada em agosto pelo selo Fluve, da Som Livre. Chama Volta. Minha pretensão? Agradecer e celebrar!

Você está no elenco de Pitada de sorte, ao lado de Fabiana Karla. O que pode adiantar do projeto?
É uma comédia divertidíssima, na qual repito uma parceria linda com a Fabiana Karla. A primeira foi no teatro numa peça do Neil Labute chamada Gorda. No filme, faço o Lugão, um amigo de infância apaixonado pela personagem da Fabiana. Um cara que está sempre ao seu lado e faz tudo para ajudá-la. Ele é taxista e fã de Velozes e furiosos. (risos) Seu sonho é ter uma academia e, entre suas excentricidades, só escuta Mozart e conversa com os bíceps aos quais chama de Lugones! O filme vai ser lançado em novembro deste ano e espero que todos vocês se divirtam tanto quanto eu.

O público da televisão não está tão acostumado a te ver em comédias. È uma questão de preferência sua ou simplesmente não aconteceu?
Isso é muito curioso. Fui formado na comédia, foi o gênero que mais fiz na minha carreira no teatro e onde comecei na TV. O árabe Hussein, de Pé na jaca, era muito divertido. Assim como o Farid, libanês em Cordel encantado. Mas depois acabei pegando uma série de papéis mais densos e que acabaram me distanciando do gênero. Mas a comédia é um lugar de conforto para mim. Adoro estar nela, mas não só nela. Gosto da comédia que vem da situação, do risível da condição humana. Acho que em todas as comédias há espaço também para a dor e suas verdades. E aí, que que pegamos o contrapé e puxamos o tapete do público no bom sentido. Osmar Prado faz isso magistralmente. não somos uma coisa só. Nunca.

Você tem alguns trabalhos no teatro infantil. O gênero ainda sofre preconceito? Como fazer para que as crianças queiram ir ao teatro? E como fazer com que elas voltem?
Quando contamos uma boa história não interessa para qual público ela se destina. Ela é capaz de nos tocar e nos prender. É assim que muitos filmes para crianças hoje estão abarrotados de adultos. É assim que podemos formar novas plateias no teatro. O teatro dito infantil tem um papel fundamental na formação dos novos públicos. É um erro olharmos como algo menor ou menos importante. Para mim, é teatro de gente grande e é preciso ser encarado dessa forma.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

Posts recentes

Irmão do Jorel comemora 10 anos com lançamento da quinta temporada

Ao Próximo Capítulo, os responsáveis pela série falam sobre o fato de ter se tornado…

1 mês atrás

Acabou o mistério! Globo anuncia elenco de “Vale tudo”

Emissora apresentou os principais nomes do remake da obra icônica de 1988 que será lançada…

1 mês atrás

Montada para o mundo, Miranda Lebrão fala sobre experiência no RuPaul’s Drag Race Global All Stars

Ao Próximo Capítulo, a drag queen carioca fala sobre o sentimento de representar o Brasil…

1 mês atrás

Rita von Hunty comenta sobre experiência em série gravada em Brasília

Como nascem os heróis tem previsão de estreia no primeiro semestre de 2025, na TV…

2 meses atrás

A franquia faz sátira humana sobre Hollywood na Max

Sam Mendes, Daniel Brühl, Jessica Heynes, Armando Ianoucci e Jon Brown comentam sobre a nova…

2 meses atrás

Família Belfort fala sobre a saudade de Priscila 20 anos após o desaparecimento

Volta Priscila estreou na última quarta-feira (25/9) e mostra um novo ponto de vista sobre…

2 meses atrás