O orgulho de ser um candango. É isso que a minissérie Mil dias — A saga da construção de Brasília pretende mostrar por meio da história de quatro protagonistas fictícios. “O objetivo maior da minissérie é retratar essas histórias pelo olhar das pessoas que contribuíram muito para a cidade se tornar um lugar legal”, conta Luciana Pires, produtora-executiva.
O projeto começou há um ano por iniciativa da produtora Cine Group, que o apresentou ao canal History. Durante a negociação, a própria emissora sugeriu que a história tivesse como foco o ponto de vista dos pioneiros que realmente participaram da construção de Brasília. A produção terminou de ser gravada na capital na semana passada e ainda não tem previsão de lançamento.
Produzida pelo canal History em coprodução com a Cine Group e dirigida por Fernando Honesko (Meninos da vila — A magia dos Santos), a minissérie acompanhará em quatro episódios Heitor (Bruno Bellarmino), Mauro (Rodrigo Garcia), Domingos (Paulo Roque) e Gilda (Renata Calmon). A cada capítulo, a trama retratará uma etapa da construção de Brasília, desde a ideia até a inauguração, passando por duas linhas narrativas: dramatúrgica e documental. A produção teve cenas gravadas em pontos como o Catetinho, a 308 Sul, o Congresso Nacional e o Museu Vivo da Memória Candanga.
Essa é a segunda parceria entre o History e Honesko, que já haviam unido forças em Gigantes do Brasil. A produção foi a primeira minissérie nacional do canal e retratou as histórias de Francesco Matarazzo, Percival Farquhar, Giuseppe Martinelli e Guilherme Guinle, quatro empreendedores que se destacaram na virada do século 19.
A produção começa apresentando o personagem Heitor, um topógrafo que deixa o Rio de Janeiro acreditando no sonho de Juscelino Kubitschek — por isso, o episódio leva o nome de O sonho. Cabe a ele demarcar a área da nova capital. “Ele foi para Brasília saturado e depressivo de trabalhar num departamento no Rio de Janeiro. Ele agarra essa oportunidade de sair da repartição e construir uma vida nova deixando para trás toda essa infelicidade”, revela o intérprete do personagem, o ator pernambucano Bruno Bellarmino (Supermax).
O segundo capítulo, intitulado O Plano Piloto, gira em torno de Mauro, engenheiro pernambucano e amigo de Heitor, que, ao chegar à cidade, de início, não gosta da futura capital. É de Mauro a missão de iniciar as obras que dariam origem ao Plano Piloto, um dos mais complexos projetos do século 20.
Em O nascimento da cidade utópica, a minissérie mostra uma parcela dos candangos ainda mais desprezados na história: as mulheres. O capítulo apresenta Gilda, uma arquiteta da equipe de Oscar Niemeyer que se une na batalha da construção e precisa enfrentar as faltas de recurso, além do machismo da época. “A Gilda é baseada em várias mulheres que foram para Brasília buscando um espaço na construção. Para me preparar, vi um documentário interessante sobre as mulheres que participaram, desde lavadeiras a calculistas, e admirei muito a história dessas mulheres”, conta Renata Calmon (Cúmplices de um resgate).
O quarto e derradeiro episódio leva o nome da capital, Brasília, e apresenta Domingos, um pioneiro que veio à cidade em busca de um sonho. “Ele tinha poucas oportunidades e ir para Brasília o fez sonhar com uma vida melhor para ele e para a família. Ele vivencia toda uma parte difícil da construção de Brasília. Ele é realmente um daqueles que construiu Brasília com as próprias mãos”, explica o ator Paulo Roque, que defende o papel do candango.
Além do quarteto de protagonistas, Mil dias — A saga da construção de Brasília tem vários outros personagens, entre eles, Tércio, papel do ator Iuri Saraiva (O outro lado do paraíso), um funcionário público do Rio de Janeiro tomado por um sentimento de revanchismo quando surge a notícia da construção da nova capital federal. “Ele é carioca e se torna correspondente para a Tribuna da Imprensa, em Brasília. Ele começa a fazer um trabalho de imprensa marrom em Brasília. Ele utiliza um espaço para criar esse ciclo de vergonha da capital. Ele é uma espécie de antagonista na história, estando ali para atrapalhar tudo”, completa Saraiva.
Mais conhecida nas telinhas e telonas por sua histórica arquitetônica e até por escândalos políticos, a minissérie Mil dias tem como principal objetivo mostrar uma Brasília que o restante do Brasil muitas vezes não é capaz de ver. “Gravando a série conheci uma Brasília que tocou meu coração, que é superpoderosa. A cidade recebeu pessoas de diferentes estados, viveu a ditadura, um caldeirão de emoções. Os candangos que construíram a capital transformar Brasília no que ela é hoje”, afirma Paulo Roque.
A atriz Renata Calmon conta que quando chegou à capital para gravar a minissérie ainda tinha uma impressão errada da cidade. “Pra mim, era uma passagem para a Chapada dos Veadeiros. Gravamos em vários lugares históricos da cidade. Eu passei a admirar muito a beleza daí, apesar da falta de transporte público”, completa. Já Iuri Saraiva, um dos poucos brasilienses do elenco, diz que foi muito prazeroso poder trabalhar novamente em Brasília. “É muito bacana fazer uma série sobre pessoas que vieram para suar pela construção da capital”, diz.
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