A trajetória de Juca, personagem de Mikael Marmorato em Malhação – Viva a diferença, é múltipla. O jovem começa inseguro, sendo apenas o nerd geek, passa pelo garoto virgem que tem isso como questão e agora mudou para a escola pública, tendo que enfrentar outro tipo de realidade. Rico e complexo, o personagem foi prato cheio para Mikael se destacar na novela que está sendo reprisada por causa da pandemia.
“É muito bom ter a oportunidade de rever esse trabalho tão querido, mas agora com um distanciamento. É possível ter um olhar analítico, muitas vezes até mais preciso, além de um olhar comparativo maior”, afirma Mikael Marmorato, em entrevista ao Próximo Capítulo.
De todos os conflitos de Juca, talvez a perda da virgindade tenha sido um dos mais emblemáticos, até porque é uma questão geralmente trazida para personagens femininos na teledramaturgia. “A pressão para perder a virgindade é algo que existe e muito na vida dos jovens, tanto meninos, quanto meninas. Poder falar disso sem tratar como tabu, acompanhando a evolução disso na vida do Juca foi muito bonito. Espero que tenha trazido para muitos jovens como ele a reflexão de que isso não é a coisa mais importante do mundo e que essa pressão não precisa existir”, comenta o ator.
Além de ator, Mikael é cantor e compositor. Mas nada de autodidatismo, o rapaz é daqueles que estudam ー e desde cedo. “Comecei a atuar com 5 anos de idade e a estudar música com 8, embora a paixão por ambas as artes venham de muito antes disso. Hoje em dia eu não saberia dizer o que faz meu coração bater mais forte: eu amo tanto a música quanto a atuação e digo seguramente que minha vida sem uma das duas estaria incompleta”, conta o ator de 22 anos.
Ainda sobra espaço para o teatro na vida de Mikael. O ator não vê a hora de voltar aos palcos com a peça Sobre anjos e Ovnis. “A arte é resistência e sempre foi! O teatro existe há mais de 2500 anos e continuará existindo durante e depois do distanciamento, por mais que tenha de se adaptar, pois enquanto houver alguém disposto a apresentar-se e alguém disposto a assistir, haverá teatro; e acredito que isso seja para sempre”, finaliza, otimista e esperançoso.
A temporada Viva a diferença de Malhação está sendo reprisada. Como está sendo esse reencontro com o Juca?
Está sendo maravilhoso. É muito bom ter a oportunidade de rever esse trabalho tão querido, mas agora com um distanciamento. É possível ter um olhar analítico, muitas vezes até mais preciso, além de um olhar comparativo maior. E, claro, as lembranças do que vivemos em frente e atrás das câmeras sempre acariciam a memória conforme os capítulos vão passando.
Quais foram os grande desafios de viver esse personagem?
Desde o começo, tentei evitar os estereótipos; do garoto virgem, do nerd geek, do adolescente inseguro. Ao mesmo tempo, o Juca é tudo isso, porém ele também é muito mais. Então, fazer uma personagem tão fácil de cair no estereótipo sem isso acontecer foi um desafio.
A perda da virgindade é uma questão para Juca. Geralmente a dramaturgia fala dessa pressão sobre meninas. Como foi a repercussão de discutir isso num personagem masculino? Ela vem se repetindo na reprise?
Isso realmente foi muito legal na trama do Juca. A pressão para perder a virgindade é algo que existe e muito na vida dos jovens, tanto meninos, quanto meninas. Poder falar disso sem tratar como tabu, acompanhando a evolução disso na vida do Juca foi muito bonito. Espero que tenha trazido para muitos jovens como ele a reflexão de que isso não é a coisa mais importante do mundo e que essa pressão não precisa existir. Cada coisa no seu tempo, enquanto algo que esperamos não vem, devemos aproveitar o resto que vivemos no momento presente. Na reexibição essa trajetória está podendo ser contada novamente, espero que possa tocar mais e mais gente.
Quando a temporada foi ao ar você e o Juca tinham praticamente a mesma idade. Isso te trouxe mais aprendizado para a vida pessoal?
Embora eu fosse apenas alguns anos mais velho do que o Juca na época, o momento em que eu me encontrava na vida era já bastante diferente do dele. Minhas questões eram outras e a forma de ver o mundo já não era a mesma daquela idade. Ainda assim, pude aprender muito com essa personagem (e com todas as outras da novela também, ainda que de outra forma), parar para refletir sobre o texto o qual eu estava defendendo sempre me trouxe aprendizados que pretendo levar para a vida.
Quais as melhores lembranças você traz de Viva a diferença?
São tantas lembranças maravilhosas que eu poderia passar semanas falando. Mas a lembrança de como estivemos JUNTOS em tantos momentos é belíssima. E não só juntos fisicamente, mas unidos de coração e alma durante todo o processo. Essa união gerou momentos lindos e inesquecíveis.
Você é músico, cantor e compositor, além de ator. O que aparece primeiro na sua vida: a música ou a atuação? Qual delas é mais forte atualmente?
A atuação surgiu antes. Comecei a atuar com 5 anos de idade e a estudar música com 8, embora a paixão por ambas as artes venham de muito antes disso. Hoje em dia eu não saberia dizer o que faz meu coração bater mais forte: eu amo tanto a música quanto a atuação e digo seguramente que minha vida sem uma das duas estaria incompleta.
O que te inspira a compor?
Tudo (risos). Mas é verdade, quase tudo pode ser inspiração para eu compor. Eu sempre digo que ali está a minha visão do mundo, então uma notícia, uma vivência, uma história que se cria na minha cabeça ou até mesmo uma conversa podem ser inspiração em uma composição. Geralmente as minhas músicas nascem da necessidade de expressar a forma como vejo algum assunto como os encontros, a morte, as relações, o amor, a sorte, a arte, etc., e eu sempre prefiro expressar isso de forma poética e musicada.
Assuntos atuais, como a pandemia e a situação do país, aparecem em suas letras?
Sim, como disse, a inspiração vem das mais variadas fontes. Mas eu não costumo dizer em minhas músicas “a política é isso”, “a pandemia é aquilo”, eu prefiro fazer uma análise poetizada da situação e deixar a conclusão clara e enigmática (citando Drummond, risos) dentro da música.
Você fez a peça O Mágico Di Ó – O clássico em forma de cordel, que teve três temporadas bem sucedidas. Como foi essa experiência?
Foi uma experiência ótima. Eu nunca havia acompanhado o processo de uma peça de fora, como foi dessa vez. Eu aprendi muito com essa diferença de perspectiva. Além disso, essa é uma peça linda e não vejo a hora de podermos apresentá-la novamente.
Em 2018, você teve a leitura da peça Sobre anjos e Ovnis transmitida pelas redes sociais. Hoje, com a pandemia, muitos atores optaram por essa forma para continuar trabalhando. Como as redes sociais podem ser aliadas do teatro, uma arte que tem na interação, no olho no olho, um dos seus diferenciais?
Acredito que nada nunca substituirá a sensação de se assistir e fazer uma peça ao vivo, o artista cara-a-cara com o público e vice-versa. Nessa leitura mesmo, para darmos a oportunidade de mais gente assistir, ela foi transmitida ao vivo pelas redes sociais, mas, ao mesmo tempo, tínhamos à nossa frente um teatro lotado. É muito triste ver as produções paradas e esperando esperançosamente o dia em que estaremos todos de volta às apresentações presenciais, mas também é muito bonito ver artistas se renovando e reinventando para não deixar que o teatro fique em coma nesse período em que a arte se faz TÃO necessária. Não é a mesma coisa, claro, mas antes existir assim do que não existir, e nisso as redes sociais são fortes aliadas. A arte é resistência e sempre foi! O teatro existe há mais de 2500 anos e continuará existindo durante e depois do distanciamento, por mais que tenha de se adaptar, pois enquanto houver alguém disposto a apresentar-se e alguém disposto a assistir, haverá teatro; e acredito que isso seja para sempre.
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