Intérprete de Leopoldo em Além da ilusão, Michel Blois comemora a estreia na televisão trazendo uma discussão importante
Michel Blois está feliz da vida. O ator estreia na televisão como Leopoldo Cintra, o radialista de Além da ilusão, depois de 15 anos de carreira nos palcos. Mais do que comemorar a estreia, ele elogia o fato de poder trazer à tona uma discussão importante.
Leopoldo é homossexual e vive um romance fake com Arminda (Caroline Dallarosa) para despistar a sociedade. “A sociedade já entendeu que gays existem, embora não aceitem que você fuja muito do que é ‘normativo’ e se neguem a tratar uma pessoa trans pelo gênero que ela quer, embora resistam a dar emprego e oportunidades”, afirma.
Na entrevista a seguir, ele fala sobre o novo momento da carreira.
Três perguntas // Michel Blois
Como está sendo sua estreia na televisão? Era um passo muito esperado na carreira?
Sempre quis fazer TV, mas até então não tinha acontecido. Confesso que às vezes, solitariamente, pensava “talvez eu seja o pior ator do mundo e os meus amigos estão me poupando ao não me contarem isto”. Pensava isto porque eu batia muito na trave, muitos “quase rolou” ou “na próxima, com certeza”, fora que uma grande parte dos produtores de elenco nem retornam um e-mail, quanto mais dão um feedback do seu teste ou dizem se você foi editado ou se gostaram ao menos do seu trabalho… Me sentia muito desamparado neste meio. Mas pronto! Estreei e estou feliz! É um trabalho muito difícil, exige muito jogo de cintura, rápida e fácil adaptação, uma demanda imensa de estudo junto com uma rotina árdua de gravação. Decorar 20 cenas por dia não é tarefa simples e não é só isso, quero chegar lá e me divertir, jogar e trocar com o elenco.
Você está na série Reunião de pais. O que pode adiantar sobre esse trabalho?
É uma série divertidíssima com o recorte no cotidiano de pais cujos filhos acabaram de ingressar no âmbito escolar. Todo ciúmes, competição, medo e insegurança que seriam inerentes às crianças são vistos como sintomas nos próprios pais. Eu faço par com a maravilhosa Maíra Charkén e somos pais de gêmeos.
Você é fundador dos coletivos de teatro Pequena Orquestra e Invisível Cia e do Coletivo de Dramaturgia Inventário de Mentiras. Como vê o futuro do teatro brasileiro para os coletivos? A pandemia e os governos não têm ajudado muito. Como superar tudo isso?
Hoje em dia a cada trabalho tenho minhas novas parcerias. Precisei abandonar os grupos porque, além dos trabalhos no teatro ficarem mais escassos, sem políticas de incentivo à criação coletiva, sem subsídio para um trabalho continuado, o grupo dispersa porque precisa sobreviver. São muitas pessoas que perdem empregos, para montar meu solo, por exemplo, tive uma ficha técnica de mais de 40 pessoas, fora todo movimento hoteleiro, alimentício, transporte e outros serviços. Eu não sei outra maneira de reerguer os teatros, que não seja no voto. Vemos todos os dias boicotes a projetos de leis voltados pro setor cultural (vide Lei Aldir Blanc ou Lei Paulo Gustavo). E o público pode e deve ajudar indo ao teatro, vá ver peças boas e peças ruins. Debata o bom e argumente, fundamente o ruim, assim a experiência será sempre válida. A maioria dos artistas vive de pequenas bilheterias. Estamos sufocados, porém vivos.