“Me meti onde não devia”, brinca Ivo Gandra, de Terra e paixão

Antonio La Selva, Irene, Ágatha, Graça. Em Terra e paixão, são muitos os antagonistas que passam os capítulos praticando maldades contra os mocinhos. Intérpretes desses vilões, atores e atrizes consagrados — excelentes, por sinal — como Tony Ramos, Glória Pires, Eliane Giardini e Ágatha Moreira podem até ser odiados pelo público, mas, certamente, não ganharam tantos haters nas redes sociais como o novato Ivo Gândra. E a explicação é simples: o jovem ator de 30 anos se meteu onde não devia. No caso, entre o casal mais querido do momento na televisão brasileira.

E não estamos falando dos protagonistas Aline (Bárbara Reis) e Caio (Cauã Reymond). O personagem Frank entrou na trama das 21h para tumultuar a relação entre o jagunço Ramiro (Amaury Lorenzo) e o garçom artista Kelvin (Diego Martins). Com isso, ele foi odiado. E a reação popular reverberou para o intérprete do rapaz que tentou separar o adorado casal. 

“Eu confesso que não acompanhava a novela, então não entendia muito bem o que estava rolando. Compreendi, já gravando, o magnetismo do casal em cena, a leveza, o alto astral. A química deles é muito gostosa e o público está muito engajado, torcendo para o casal”, contou Ivo Gandra ao Próximo Capítulo. 

O ator revelou que recebeu ameaça de agressão física e até de morte nas redes sociais. “Me assustei com a forma da abordagem, mas logo entendi que era uma torcida pelo casal que meu personagem estava atrapalhando”. A proporção era tão forte que o perfil de Ivo no Instagram bugou. “Chegou uma hora que eu parei de receber notificações. Mas nem tudo foi negativo. Há também o pessoal que gostou de mim. Ganhei mais de 30 mil seguidores e o engajamento dos stories aumentou muito. A visibilidade de uma novela das 21h é assustadora”, explicou.

O ator diz que responde a todos que tiverem abordagem educada, mas as apelativas ele ignora. Como as nudes, por exemplo. “Recebo muitas”, admitiu, reforçando que costuma ser formal nas interações para não se comprometer. “A internet é terra de ninguém e eu estou engatinhando em uma carreira muito delicada e dura, ao mesmo tempo. A exposição é muito intensa e eu prefiro me preservar”, conta o ex-Mister Tocantins 2015.

Quase médico

Pouca gente sabe, mas Ivo Gandra trocou a medicina pela carreira artística. A história com a arte, entretanto, iniciou quando ele tinha apenas 16 anos e fazia cursinho pré-vestibular, em São José dos Campos (SP). Um colega com quem dividia uma república de estudantes estudava artes cênicas, ia fazer teste para um trabalho e o chamou para acompanhá-lo. Lá, o produtor o viu e fez o convite para também fazer o teste — e ele acabou passando, ao contrário do colega. Porém, o garoto só tinha 16 anos e os pais — que o educaram para ser médico — não autorizaram que ele seguisse no processo. Então, ele passou para medicina e começou a estudar, no Tocantins. 

Nas férias da universidade, entretanto, Ivo fez um curso na Escola Wolf Maya, em São Paulo, com autorização da família. Ali, ele descobriu que atuar era sua paixão. Largou a medicina e decidiu estudar teatro. O pai ajudou no básico (como moradia e comida), mas mandou o rapaz trabalhar. Ele, então, foi chamado para se cadastrar em uma agência após ser visto por um produtor no metrô, na capital paulista. Dali, iniciou fazendo comerciais para tevê. 

Primeiros trabalhos

“Comecei a fazer muito teatro, esse é o foco em SP. Mas decidi passar um tempo no Rio, onde conheci o produtor de elenco Fábio Zambroni, que me chamou para fazer um padeiro em A cara do pai, contracenando com Leandro Hassum. E decidiu investir na televisão”, conta ele, que, logo depois, passou em um teste para uma participação maior em Pega pega (2017), com o diretor Luiz Henrique Rios, o mesmo que comanda Terra e paixão. 

A experiência, porém, foi traumática. A cena era de um evento com aproximadamente 300 figurantes e o desafio era maior. “Aquilo me assustou, me tirou da zona de conforto. Acabei pisando na cauda do vestido de festa da Camila Queiroz, que quase rasgou, fiquei muito nervoso e coisas não positivas rolaram e desencadearam travas. O diretor teve uma péssima impressão”, lembra.

Dois anos depois, surgiu um teste para Verão 90 (2019), como o personagem Cordorna, um fotógrafo sensacionalista parceiro do personagem Murilo, do Marcelo Valle, um jornalista que o corrompia. Ele ficou a novela toda e, depois, atuou em Gênesis (2021), na Record, em que fez um anjo. No ano seguinte, ele fez um teste para Além da ilusão, mas perdeu o personagem para o colega Ricky Tavares. O diretor Luiz Henrique Rios, com quem se reencontrou, o chamou para fazer Carlos, uma participação breve em que contracenou com Larissa Manoela.

Na sequência, Ivo entrou em Reis, novamente na Record, como Otoniel, servo de Iran (Gustavo Machado). Na produção, foram muitas cenas de luta e teve a oportunidade de usar espada, artes marciais, dança da época e morrer em cena. “Teve toda uma preparação histórica, comportamental e física. O suporte da Record é muito bom. Tenho muita gratidão pela emissora, que é como se fosse a casa da avó. Eles cuidam muito da gente. E parte da minha família, que é evangélica e não consome a Globo, acompanha novela bíblica”, comenta o ator.

Quase protagonista

Neste ano, veio um novo convite do produtor de elenco Fábio Zambroni para Terra e paixão. Era um teste para interpretar Daniel, um dos protagonistas. Johnny Massaro ficou com o papel e Ivo admite que ficou frustrado. Afinal, considera que a história do personagem se assemelha à sua. “Parte da minha família é do agro, eu também saí do campo para estudar fora e eu me identificava muito com a história do Daniel”, conta o ator, que tem raízes em Tocantins, Mato Grosso e Goiás. 

Algum tempo depois, veio o convite para fazer Frank, o empresário artístico que tenta separar o casal #kelmiro. “Não foi um teste, mas um convite para apenas duas diárias de gravação. Só que eu tinha um filme para fazer, então conversei com a produtora, ela quis entender se mudaria a caracterização e acabou dando certo. Acabei ficando dois meses e meio na novela. E eu sou muito feliz, porque surfei nessa onda do protagonismo do casal Ramiro e Kevin”, celebra Gandra, que afirma não se parecer em nada com o personagem, mas tinha a vontade de fazer algo mais dúbio e misterioso. “Eu gosto dessa energia, uma característica de ser escorpiano”, acrescenta.

Corpo e mente

Embora tenha largado a medicina, Ivo não abandonou totalmente a área de saúde. Além de artes cênicas, ele também é nutricionista. “Quando estou na entressafra de projetos, estou sempre estudando. Gosto muito de psicologia, também, que é uma ferramenta muito interessante para composição de personagens em todas as camadas possíveis”, resume ele, que, além de fazer atendimentos a pacientes fixos, criou uma marca de granola vegana. “A Grancoc Vegan, que desenvolvi na faculdade, pegou corpo e virou empresa”, finaliza.