O sertão nordestino é capaz de mudar as pessoas. Assim foi com Amélia, personagem defendido por Mariana Costa na série O cangaceiro do futuro (Netflix). Antes de ir para o sertão, ela é “uma garota cheia de sonhos, atenta e conectada com a natureza”, na definição da própria atriz. “Amélia é de um coração puro, que não vê maldade nas coisas. Ela vive em uma realidade de coronelismo patriarcal de 1927 no sertão do Ceará, mas não absorve as atrocidades do pai e trata tudo de forma natural, seus sentimentos, sua relação com os outros e seu mundinho próprio”, completa.
Por influência da irmã, Amália (Monique Hortolani), e de Mariah (Chandelly Brás), Amélia acaba entrando para o cangaço, o que, para ela, por causa de histórias contadas pelas amigas representa “um ato de coragem para o contexto social e patriarcal do papel das mulheres nos anos 1927”.
É aí que entra em cena Miss Delay, espécie de persona de Amélia. “Miss Delay mantém a essência pura e doce de ver a vida de Amélia, mas se tornou bem mais corajosa, autoconfiante, inteligente à sua maneira. Ela se sentiu pertencente e importante em um ambiente pela primeira vez na vida. Foi acolhida do jeitinho que é, e útil para aquele cangaço ficcional. Isso fez toda a diferença na personalidade e amadurecimento da personagem”, explica Mariana.
Para Miss Delay e para Mariana, o cangaço tem um lugar de libertação. “Como diz Virguley (protagonista de O cangaceiro do futuro): ‘Onde existe um coronel oprimindo o povo, sempre existirá um espírito de cangaço lutando pela liberdade’. Dentro desse contexto, sabemos que vivemos durante alguns anos em momentos políticos sombrios, em que era necessário lutar por alguns direitos básicos. Essa sempre foi uma luta ainda maior para mulheres pretas. Me identificando nesse lugar, sinto já ter dentro de mim esse espírito de liberdade e luta.”
Além de atuar, Mariana Costa é autora. O outro lado profissional começou devagar, como um hobby mesmo. Até que Mariana entende que poderia, na escrita, dar vazão às próprias questões. “A partir disso, comecei a escrever meus primeiros argumentos e roteiros sobre vivências, sobre o cotidiano na minha cidade de Fortaleza, sobre sentimentos e pertencimento ancestral”, afirma.
Levar Fortaleza ao audiovisual não é por acaso para Mariana. Ela sabe que o Nordeste vem sendo cada vez mais retratado nas telas e na cultura, porém não basta. “Ainda sinto falta de espaço para atores nordestinos com seus próprios sotaques, produções com nossas histórias e representações de diferentes tipos de Nordeste. Somos uma região enorme, com tanta cultura e riqueza. Acredito muito que isso vem se fortificando e a tendência é só crescer cada vez mais”, comemora. Isso quer dizer que teremos cada vez mais Nordeste nas telas. Ainda bem!
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