Maria Casadevall volta às telas como a Julia de Ilha de ferro

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A Globo exibe a primeira temporada de Ilha de ferro a partir desta segunda-feira. Na série, Maria Casadevall vive Julia, a intempestiva protagonista

Afastada das novelas desde 2015, quando fez I love Paraisópolis, a atriz Maria Casadevall se entregou às séries. Entre outras, brilhou em Os dias eram assim (2017) e em Coisa mais linda (2019), da Globo e da Netflix, respectivamente. Outro destaque da carreira dela é Julia, a protagonista feminina de Ilha de ferro, série cuja a primeira temporada a Globo começa a exibir nesta segunda-feira (9/8), após Império.

Julia chega à plataforma de petróleo B-137 para ser gerente, cargo que o experiente Dante (Cauã Reymond) exercia informalmente e que todos achavam que seria dele. Por ser filha do Ministro de Minas e Energia, Horácio Bravo (Herbert Richers Jr.), e mulher, Julia acaba tendo muito trabalho para provar as próprias qualidades.

É claro que o clima entre ela e Dante se desenvolve para um amor, meio gata e rato, com muitas brigas e reconciliações. Mas o verdadeiro amor dos dois é a B-137. A série tem boas atuações da dupla e d Sophie Charlotte e texto afiado (leia a crítica da primeira temporada) e a segunda temporada já está no Globoplay.

Abaixo, Maria Casadevall fala sobre Julia, pandemia e o sucesso de Coisa mais linda. Confira!

Entrevista // Maria Casadevall

A arte, de uma certa forma, foi um escape durante a pandemia pra muita gente, seja consumindo, seja produzindo. Qual foi o papel da arte nesse período para você?
O resgate do estado absoluto de presença, seja numa leitura, ouvindo música, vivendo como espectadora a experiência do teatro virtual, escrevendo ou cantando pra mim mesma. Esse período de isolamento (e o privilégio de poder vivenciar ele em casa) tem sido um momento de resgates, de relembrar quem sou e para onde quero ir, e, pra mim, a arte tem um papel fundamental neste processo.

Em Ilha de ferro você tem muitas cenas sensuais. Como lida com isso?
Lido como lido com todas as outras cenas, com respeito, responsabilidade e atenção.

Sua personagem de Ilha de ferro é bem politizada e se posiciona, enfrentando quem quer que seja. Você também é assim? Acha que o ator tem o dever de se posicionar política e socialmente?
Acredito que qualquer pessoa, independentemente de ser artista e/ou figura pública, deveria considerar a hipótese de se envolver e engajar com temas que considere relevantes (de acordo com seus próprios valores) e que necessitem do engajamento coletivo para ganhar visibilidade.

Na sua carreira você tem mais séries e filmes do que novelas. É uma opção sua ou foi acontecendo?
Uma opção consciente sobre em quais meios e com quais linguagens me identifico mais trabalhando dentro do audiovisual.

Estar em produções mais curtas te proporciona diversificar mais os personagens?
Com certeza. Acredito que uma obra fechada tem mais espaço para a criação em perspectiva, na construção e desenvolvimento da personagem.

Coisa mais linda se passa num período em que a mulher brasileira está começando a buscar os direitos dela. Sua personagem, Maria Luísa, é uma precursora, inclusive. O quanto esse cenário realmente evolui no Brasil?
As mulheres estão há muito tempo rompendo paradigmas impostos (a divisão sexual do trabalho, sua condição de objeto e não de sujeito desejante, os diferentes tipos de violência contra a mulher e etc) e é por isso que os diferentes feminismos existem dentro da luta feminista e que estamos neste momento assistindo a mais um levante histórico dessa luta, porque a construção coletiva para outras realidades possíveis de organização social precisam ser pensados, imaginados, descolonizados e construídos. Nós estamos dispostas a isso, nós mulheridades plurais: mulheres negras, mulheres não-brancas de diferentes origens, mulheres trans, mulheres brancas, mulheres cisgênero, mulheres ciganas e mulheres indígenas.

A pandemia aumentou a violência contra a mulher ainda mais. Quais são as armas que você, como atriz, tem para lutar contra isso?
Minha voz enquanto figura pública de visibilidade e a permanente atualização da consciência sobre meu privilégio na hora de escolher me envolver com algum projeto, refletindo sobre suas narrativas, perspectivas e inclusão da diversidade humana, sexual e de gênero na frente e atrás das câmeras.

Coisa mais linda tem toda uma atmosfera musical. Qual é a importância da música na sua vida?
A música é uma das minhas ferramentas de transcendência e criação, seja na hora de deixar meu corpo dançar e se movimentar de forma intuitiva ou na hora de criar a história e a memória afetiva e emocional de uma personagem, de ouvi-la no camarim ou no set, a música está sempre presente.

A série fez uma boa carreira internacional. Isso acaba abrindo portas para você tentar uma carreira lá fora? Isso faz parte dos seus planos?
Existe interesse em trabalhar com diferentes culturas, enfrentar o desafio de atuar em outro idioma, conhecer profissionais independentes, autorais e corajosas que estejam querendo contar histórias em que eu acredite, sob novas perspectivas diferentes das minhas, e que queiram abordar temas que considero importantes e urgentes.

O título da série em inglês faz menção à canção Garota de Ipanema (Girl of Ipanema). Não teve receio de isso levar o público a achar que veria uma produção mais “água com açúcar”?
Acho que a série flerta com essa forma, porém subverte no conteúdo. Acredito que esse tenha sido um trunfo da produção, que não se anuncia feminista nem revolucionária mas que chega até um público grande abordando de forma “despretensiosa” assuntos importantes e urgentes, expondo as estruturas opressoras que se reproduzem de forma coletiva através de relações pessoais e carismáticas estabelecidas entre as personagens da série.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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