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Marcos Oli vive uma drag queen em As Five e defende representatividade nas novelas

Publicado em Entrevista

Marcos Oli chegou causando em As Five, como o ator Miguel, que tem a drag queen Michelle Esmeralda. Leia entrevista com o ator!

“Não é pelo personagem ser negro e gay que esses fatores devem ser discutidos a todo momento”. A reflexão é trazida pelo ator Marcos Oli, que vive Miguel e Michelle Esmeralda na série As Five da Globoplay.

Marcos comemora que o autor Cao Hambúrguer tenha seguido o caminho de naturalizar Miguel/ Michelle ao não levantar uma bandeira, deixando a discussão acontecer naturalmente: “Na série temos temas importantíssimos que estão sendo apresentados, mas que não são estereotipados ou apelativos. Admiro ainda mais o Cao Hamburguer em criar Miguel/Michelle não estando diretamente atrelados a estas discussões. O que naturaliza ainda mais esse personagem.”

Na entrevista a seguir. Marcos conta mais sobre A Five, fala sobre falta de negros escrevendo na tevê e sobre o filme Antes que seja tarde. Confira!

Entrevista // Marcos Oli

Como Miguel/ Michelle entra no universo da série As Five?
Miguel conhece Keyla (uma das Five) em uma audição para um musical. Eles se estranham de início, mas, mesmo com seu jeito debochado e prepotente, Miguel percebe em Keyla um grande potencial em que ela mesmo não acredita. A partir daí, eles se tornam amigos, mas o que Keyla não sabe é que Miguel tem uma drag, a Michelle Esmeralda, que chega de surpresa montadíssima em uma festa das Five. Miguel/Michelle se torna(m) a fada madrinha de Keyla e a leva para os palcos para viver e enfrentar o tão sonhado mundo dos musicais.

Houve alguma preparação especial para esse personagem?
Sim. Participei da preparação com o elenco, onde pude construir e explorar pontos de Miguel/Michelle, e também pude criar um vínculo durante esse processo com Gabi Medvedovski (atriz que vive a Keyla). Além disso, para desenvolver e explorar o corpo de Michelle, fiz aulas de stilleto com Gustavo Siqueira, um professor muito conhecido deste estilo. Fui até uma casa de show em São Paulo e fiz uma preparação extra com a drag Regina Schazzitt para conhecer mais do universo drag de perto. Estudei filmes, personagens e artistas drags, como a Gloria Groove, que durante anos trabalhou com teatro musical e hoje é uma das drags mais importantes do país.

As Five tem tratado de temas sociais importantes. Miguel/ Michelle será usado para discutir o preconceito de alguma forma?
Não. Na série temos temas importantíssimos que estão sendo apresentados, mas que não são estereotipados ou apelativos. Admiro ainda mais o Cao Hamburguer (autor da série) em criar Miguel/Michelle não estando diretamente atrelados a estas discussões. O que naturaliza ainda mais esse personagem. Não é pelo personagem ser negro e gay que esses fatores devem ser discutidos a todo momento.

O que seu tem no personagem? As experiências de vocês são parecidas?
Eu e Miguel somos recém-formados em teatro musical. Acho que possuímos a mesma vontade de vencer na carreira, de ajudar os amigos e carregar conosco um senso de humor irônico. Nesses quesitos somos quase a mesma pessoa (risos)!

Recentemente, passamos pelo Mês da Consciência Negra. Você, além de ator, é autor. Falta espaço para os artistas negros exporem as próprias ideias no audiovisual brasileiro? Como reverter esse quadro?
Faltam oportunidades. Precisamos de criadores, produtores e diretores pretos. Não adianta uma produção apresentar um elenco preto na tela se a história for escrita e dirigida por um ponto de vista branco. O ponto inicial é reconhecer que não estamos pedindo por esse espaço ー ele foi tomado sem nossa permissão, então ele é nosso, também!

Você também está no filme Antes que seja tarde, de Leandro Goddinho. O que pode dizer sobre esse projeto?
Não é porque eu fiz parte, mas o filme é incrível! Ele apresenta questões políticas, psicológicas e sexuais que fazem parte do nosso cotidiano. Nós rodamos esse projeto há dois anos e ele parece estar cada vez mais atual. Sempre recebo mensagens nas minhas redes sociais de pessoas que se sentiram muito tocadas pela história e que passaram (ou passam) pelos mesmos processos e conflitos dos personagens (sem spoilers – risos!). Estou muito feliz porque o filme tem viajado para diversos países, como Índia, Canadá, México e EUA, e tem sido muito bem recebido. Em Los Angeles, por exemplo, os espectadores se emocionaram e ficaram impressionados com a inteligência do roteiro em retratar, sem formalidades, a política brasileira.

O filme tem uma pegada LGBT e tem feito um caminho extenso por festivais. Ainda há resistência para obras com essa temática no circuito comercial dos cinemas?
Sim. Quando falamos sobre representatividade isso também inclui outros grupos, como o LGBTQIA+. Isto também precisa ser apresentado no audiovisual, pois ainda existe uma resistência, já que o cinema comercial produz buscando público e, para eles, abordar e discutir sobre esse assunto é uma “indisposição” que eles não querem criar. Por isso fiquei muito animado em fazer Antes que seja tarde. O Leandro Goddinho escolheu abordar assuntos que o cinema comercial esconde ou até repudia.