Mar do sertão traz a fábula ingênua de volta às 18h

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Com elenco afiado e direção ligada no otimismo, Mar do sertão encanta em sua primeira semana no ar

O tom de fábula visto e aprovado em Meu pedacinho de chão (2014), de Benedito Ruy Barbosa, e no mega sucesso Êta mundo bom (2016), de Walcyr Carrasco, está de volta em Mar do sertão, novela de Mário Teixeira que acaba de estrear na faixa das 18h na Globo. A fictícia Canta Pedra é cenário, ainda, para o folhetim flertar com O Auto da Compadecida.

Numa cidade assolada pela seca, a luta por água e as falsas promessas de políticos e coronéis de levar água para a população ganham ares de comédia. O humor é prato cheio para os vilões da novela, o casal formado pelo coronel Tertúlio (José de Abreu) e Deodora (Débora Bloch), e o prefeito Saba Bodó (Welder Rodrigues). O ingênuo Timbó, parente próximo de Mazzaropi e do Chicó d’o Auto da Compadecida, também tem intérprete à altura e é mais um personagem na galeria do sempre ótimo Enrique Diaz.

Mas novela das 18h tem que ter romance para ser das boas. E Mar do sertão tem! E mais: tem uma mocinha como não vemos no horário há um tempo. Pois Candoca é das clássicas: sofre por amor, faz escolhas erradas tomadas pela emoção, é ingênua (mas essa não é boba). E ainda encontra uma estreante com força de veterana: na segunda novela, Isadora Cruz enfrenta com garra a primeira protagonista. Ao lado dela, dois bons galãs: Renato Góes é o vilão-sedutor (e engraçado, claro) Tertulinho; e Sérgio Guizé, o herói meio abobado José Paulino. Ele vai ter que se esforçar um bocadinho mais para se afastar do fantasma de Candinho.

Renato Góes, José de Abreu e Debora Bloch

O elenco de Mar do sertão ainda tem bom time de coadjuvantes à serviço da trama. Cyria Coentro (Dodôca, mãe de Candoca) e Titina Medeiros (a primeira dama Nivalda) são dois bons exemplos.

Canta Pedra é uma cidade fictícia ambientada no sertão nordestino. Contrariando o nordeste que (não) vimos em Segundo sol (2018) e o oriente (não) representado em Sol nascente (2016), Mar do sertão traz a representatividade de contar com elenco nordestino em papéis de destaque. Além disso, a linda trilha sonora traz nomes consagrados, como a baiana Gal Costa (Tuareg) e o paraibano Chico César (Sobradinho) ao lado de revelações como o trio Mana Flor (Xote das meninas). Chamam a atenção, ainda, uma versão instrumental para Asa Branca e uma pungente releitura de Carcará assinada pelo pessoal do Barbatuques.

Importante traço cultural do Nordeste, os repentistas são uma grata surpresa em Mar do sertão. Cabe à dupla Lukete e Juzé a tarefa de, com música e humor, apresentar as cenas dos próximos capítulos. O convite é feito com muita graça e o telespectador sente vontade de voltar a Canta Pedra na noite seguinte.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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