Por Adriana Izel E Vinicius Nader
Maio de 2017 e parecia que a Globo estava prestes a estrear mais uma temporada de Malhação, desta vez intitulada Viva a diferença. Mas de cara uma coisa já estava destoando: pela primeira vez a novelinha seria ambientada em São Paulo e teria cinco meninas como protagonistas, tendo a amizade entre elas como motor da trama no lugar dos triângulos amorosos ou de disputas escolares aos quais o público estava acostumado.
A estratégia deu certo. A temporada escrita por Cao Hamburguer e dirigida por Paulo Silvestrini ganhou o Emmy kids no ano seguinte ao término do programa; virou o spin-off As Five, com estreia prevista para o segundo semestre no Globoplay; e está de volta à tela da Globo, na mesma faixa em que reinou há três anos, a partir de segunda-feira (6/4). Isso porque, com o fim da temporada Toda forma de amar, a emissora vai esperar o término da pandemia de coronavírus para estrear a próxima, que tem o título provisório de Transformação.
Enquanto isso, a gente reencontra Lica (Manoela Aliperti), Ellen (Heslaine Vieira), Tina (Ana Hikari), Benê (Daphne Bozaski) e Keyla (Gabi Medvedovski). As meninas se conhecem por acaso no metrô, quando uma pane faz o vagão onde elas estão parar. Apavorada, Keyla entra em trabalho de parto e, com a ajuda, das então desconhecidas, nasce Tonico. Também é daí que nasce uma grande amizade entre as meninas, que acompanha toda a temporada.
Foi interessante em Viva a diferença ver como os opostos podem conviver: enquanto Lica e Tina eram de família rica e estudavam num colégio particular, as outras três eram pobres e frequentavam uma escola pública. Além disso, o mundo particular de Benê, que tinha um grau de autismo, era outro diferencial. As meninas, em vez de se afastar, acabaram tentando entender e se incluir naquele mundo.
Embates pelo investimento na educação — com a necessária e combativa professora Dóris (Ana Flávia Cavalcanti) —, dificuldades em assumir a homossexualidade e ainda preconceitos racial e social foram temas tratados na temporada.
Intérprete de Tina, Ana Hikari lembra ao Correio a importância de cinco mulheres jovens e com discursos distintos, mas fortes guiarem a história da temporada: “Foi muito importante abordar essa questão social, do lugar de fala da mulher. Tanto na Malhação quanto na série (As Five) conseguimos fazer isso de uma maneira muito boa.”
Daphne Bozaski, a Benê, enumera fatores que, para ela, levaram Viva a diferença ao reconhecimento que culminou na vitória no Emmy. “Pelo texto do Cao, começando pelo protagonismo feminino. Abordamos temas de diferenças de classes, cor, raça… Entre outros temas que precisavam ser ditos, vistos, debatidos… E também por toda equipe que se doou ao máximo para fazer cada cena. Desde o elenco à equipe técnica”, explica a atriz, em entrevista ao Correio.
Tanto Tina como Benê poderiam trazer a Ana e a Daphne ao perigo da caricatura. A primeira, por ser uma menina oriental, ali retratada sem o estigma da nerd ou da menina que só quer saber de matemática e dos livros. “Tenho muito orgulho, porque é uma personagem fora do estereótipo, uma personagem asiática. Tem uma série de fatores que me fazem ter muito orgulho de viver essa personagem de novo”, comenta Ana.
Viver uma autista também é um perigo para o ator, mas, para Daphne, o texto de Cao Hamburguer foi fundamental para que a personagem escapasse de estereótipos. “Cao criou a história de uma personagem que está no espectro autista sem tabus e sem caricaturas. Por isso, acho que as pessoas se identificaram, independentemente se eram autistas ou não. Todo mundo se viu um pouco na Benê em alguma fase da vida”, explica.
O sucesso de Viva a diferença foi tão grande que logo se falou em estender a temporada, que durou menos de um ano, ou em transformá-la numa série em outra faixa de horário. A solução foi criar o spin-off As Five, em que Cao Hamburguer conta o reencontro dessas amigas depois de seis anos em que a vida as separou. A previsão é que a série estreie no segundo semestre no Globoplay.
Animação para ver o trabalho na telinha não falta a Ana Hikari. “Podem esperar em As Five um texto muito bem escrito, como foi a nossa Malhação. Todo mundo sabe da genialidade de Cao. Ele consegue falar sobre assuntos delicados de uma maneira inteligente e dialogar sempre. É sempre bom pontuar que vão ser assuntos mais densos do que a novela”, adianta, ao Correio.
Para Daphne, a grande questão foi entender como seria a vida da Benê morando longe da mãe, Josefina (Aline Fanju), e ao lado do namorado, Guto (Bruno Gadiol). “É um desafio poder interpretá-la com mais maturidade sem perder a essência do que eu já havia criado na novela. Na novela, a Benê era mais ingênua, não tinha passado por tantas experiências. Agora na série, ela mora com o Guto, longe da mãe. Já terminou a faculdade, onde provavelmente conheceu muita coisa sobre ela e sobre o mundo. O que a faz entender certas coisas com as quais na época de Malhação não saberia lidar”, comenta.
Sobre o romance de Guto e Benê, que arrancou suspiros e ganhou fãs no Brasil inteiro, Daphne adianta que eles começam As Five juntos, mas ressalta que “as personagens estão entrando na vida adulta, buscando a sua independência e tentando lidar com os desafios que essa fase da vida traz” e que isso pode vir acompanhado de muitos questionamentos com relação ao namoro.
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