Entre as várias coisas que encantam Lucas Drummond na profissão de ator está a possibilidade de ser muitos em um só. Lucas pode ser visto como um soldado alemão em Além da ilusão e como um jovem envolvido numa confusão com o pai em Depois daquela festa, curta-metragem que entrou no catálogo do Telecine e do Globoplay.
“Uma das coisas mais interessantes na profissão do ator é que um dia você está interpretando um jovem que descobre que o pai é gay em um filme contemporâneo e, no dia seguinte, você volta 80 anos no tempo para interpretar um soldado nazista. Em Além da ilusão, eu faço um soldado alemão que participa do núcleo da guerra, no qual estão inseridos os personagens Bento (Matheus Dias), Silvana (Thayla Luz) e Lorenzo (Guilherme Prates). As minhas cenas são em alemão. Eu estudei em uma escola alemã desde o jardim de infância e sempre quis usar isso no meu trabalho”, afirma Lucas, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Lucas viveu o ex-senador Aécio Neves nas telonas em O paciente, de Sérgio Rezende. Mas só com Além da ilusão teve a experiência de compor um personagem relacionado a guerras. “Eu nunca tinha nem pegado numa arma. Acho que a novela está trazendo reflexões muito importantes sobre o absurdo que é a guerra. A violência, na minha opinião, nunca é a melhor solução”, reflete o ator.
Em Depois daquela festa, Léo (o personagem de Lucas) vai a uma festa a acaba descobrindo que o pai dele, que é separado da mãe, é gay. “Nessa comédia-dramática o Léo quer encontrar a melhor maneira de contar para o pai que já sabe sobre a sua sexualidade. É um filme doce, leve e divertido para toda a família. Em nenhum momento o Léo rejeita o pai. Pelo contrário, ele o aceita desde o início. A grande questão dele é como contar para o pai que já sabe sem invadir a sua privacidade. E o plano que ele cria para fazer isso – e que naturalmente não sai exatamente como planejado – resulta em uma das cenas mais engraçadas do filme”, define. Lucas, que além de atuar assina o roteiro e produz Depois daquela festa.
“A caminhada do ator é muito dura e pode ser muito frustrante. É uma carreira instável, pouco valorizada, às vezes você tem trabalho, às vezes não. Às vezes você faz muito bem um personagem e passa a só ser chamado para fazer esse mesmo tipo de papel. Hoje, eu percebo que ser um ator realizador, que empreende, que se produz, além de me dar independência, me traz justamente a autonomia para decidir o rumo da minha carreira. Ao mesmo tempo, aumentam também as responsabilidades, principalmente se eu acumular além de ator, a função de produtor que é quem coordena toda a engrenagem”, completa.
Você fez a série Todxs nós, da HBO. A TV aberta ainda é restrita à temática gay?
Eu acho que nós temos feito avanços consideráveis na TV aberta em relação a essa temática. Em 2016, eu escrevi o livro 50 anos de novelas, publicado pela editora Appris, que fala sobre a representação de personagens gays nas novelas. À época, celebrávamos o beijo entre os personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), no último capítulo de Amor à vida. De lá para cá, tivemos conquistas muito significativas no que envolve tramas LGBTQIA+ nas novelas. Apesar de não ter sido veiculada na TV aberta, Todxs nós é a prova disso. Além de ser a primeira série brasileira a falar sobre não binariedade, trouxe um elenco em que 35% dos atores, atrizes e atuantes eram trans e não binários. Isso é um grande avanço em um curto espaço de tempo. Prova que as plataformas estão pensando sobre essa temática e buscando oferecer ao público produtos que reflitam a diversidade da nossa população. Isso acaba refletindo também na TV aberta.
Costuma-se dizer que isso acontece por causa do público, que não estaria preparado. Não cabe à própria televisão aberta o preparar?
Eu não sei se existe essa história de o público não estar preparado. As novelas não são um espelho da realidade? As tramas não refletem histórias que acontecem todos os dias, na vida real? A diversidade sexual e de gênero está aí, é uma realidade. As pessoas podem até não querer ver nas novelas, mas na vida elas não vão poder apagar a existência de personagens LGBTQIA+.
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