Um dos clássicos da literatura chamada YA, que se refere ao termo jovens adultos, Looking for Alaska (Quem é você Alasca?, em português), de John Green, foi adaptado para a televisão pelo streaming Hulu. A produção, uma minissérie dividida em oito episódios, estreou no último sábado (19/10), e diferentemente de outras tantas adaptações, é assertiva, consegue entreter e trabalha muito bem um dos principais pilares do livro: a tragédia.
A sinopse do enredo é relativamente simples: Miles — apelidado de Gordo (Charlie Plummer) — é um garoto introspectivo, obcecado em decorar as últimas palavras de grandes personalidades da história. Ele passa por uma difícil fase de autodescoberta, e para isso, decide entrar em uma espécie de escola/internato no interior dos Estados Unidos. Lá, o garoto encontra uma grande amizade, o Coronel (Denny Love), e acima de tudo, um grande amor: Alaska (Kristine Froseth).
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Entretanto, o que parecia ter um final piegas, na verdade, apresenta uma grande reviravolta. Incapaz de viver o típico “romance da adolescência”, o período de internato do garoto é permeado de tragédias, como abusos, extrema raiva e o “suicídio” de Alaska.
Esse é o grande trunfo do livro: o impressionante choque entre uma visão idealizada do que é ser adolescente e as tragédias da vida real encarada por personagens que ainda não têm o amadurecimento necessário para lidar com tais problemas. Se nas páginas, essa dualidade prende o público, nas telinhas, ela consegue ser muito bem reciclada e trabalhada, transformando a adaptação em uma daqueles raros casos de sucesso.
Em especial na telinha, é importante destacar um nome fundamental para entender a vibe da minissérie: Josh Schwartz. Para os fãs de TV, o showrunner, um verdadeiro mago das séries teens, já é bem conhecido. Por trás das clássicas The O.C (que no Brasil ganhou o indigesto subtítulo de “Um estranho no paraíso”); Gossip girl (“A garota do blog”), Hart of dixie, The Carrie Diaries e tantas outras, está de volta.
Looking for Alaska é, da melhor forma possível, paciente, mas assertiva. Apresenta diálogos inteligentes, com forte apelo emotivo. Diferentemente da pegada escolhida pela grande maioria das produções, escolhe pelo não sensacionalismo e segue uma linha de narrativa sem tantos baques.
A minissérie é boa, mas bem triste. Em alguns momentos tem tropeços, especialmente em relação a vertente mais infanto-juvenil que precisa praticar. Nada que seja incômodo, ou desconfortável. Se destacam o afiadíssimo elenco. Essencialmente composto por jovens, os atores, entretanto, não decepcionam em nada em comparação a um elenco mais maduro, pelo contrário, talvez sejam até melhores.
Para os fãs mais dedicados, que já tiveram contato com o livro (o aparente público-alvo da produção), vale ressaltar que na telinha o universo é mais expandido. Tem novos personagens, novas situações, novas abordagens. Mas nada que seja desconexo, ou “muito inventado”. A palavra nesse sentido realmente é “expansão”.
Se nas páginas, Gordo é o grande protagonista, na TV ganham espaço, especialmente o Coronel e o Águia (Timothy Simons). Agora Alaska merece uma crítica própria.
Perfeitamente calibrada entre os sonhos apaixonados de Gordo e a menina profundamente abusada pelo “mundo”, Kristine Froseth entrega uma “coadjuvante de centro” tão profunda quanto o livro apontava, e ao mesmo tempo, tão animadora e apaixonante quanto a televisão requer.
Looking for Alaska é definitivamente uma produção que merece um pouco de atenção. Mesmo sem todo os excessos tão tipicamente vistos em outras séries teens atuais (que inclusive, estão rareando), a minissérie dispõe de entretenimento eficaz, e uma mensagem forte. Vale a maratona.
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