Para quem acompanhou a história de Laura e Andrew sobre um caso de estupro, teve aquela boa sensação de que Liar ofereceu uma conclusão digna
Séries são mais do que entretenimento. Pelo menos é nisso que eu acredito. Assistir um enredo, seja no cinema ou nas telonas, é mais do que um tempo para se divertir. Óbvio, se entreter faz parte da experiência, mas existe mais do que isso, uma mensagem, uma reflexão, um momento para pensar. Pelo menos era isso o que deveria ter. É importante começar pensando nesse objetivo, pois é ele que norteia toda a – breve – existência de Liar.
Todos os dias, em diferentes níveis profissionais e sociais, as mulheres são vítimas de uma cultura que pratica assédio e excessos de várias formas. Laura, a protagonista, poderia ter seguido inúmeros caminhos após o estupro sofrido por Andrew. Poderia ter ficado calada e seguido a vida, como lhe foi contado pela família. Poderia ter aceito uma justiça ineficiente e vazia, como lhe afirmou a polícia. Ou ela poderia ter só aceitado, como lhe contou a sociedade. Entretanto, a grande mensagem de Liar foi mostrar o quanto se levantar e lutar contra esse tipo de crime é possível, e, principalmente, como a mulher tem força para vencer um estuprador.
O penúltimo episódio começou seguindo um caminho já previsto: as dificuldades da protagonista em provar o crime que sofreu. Laura se desespera ao entender que a polícia e as outras vítimas de Andrew não farão nada. Então decide fazer justiça por conta própria. A vítima vai atrás do alucinógeno que permitiu sua incapacidade durante o estupro, e o usa contra Andrew. A princípio, até tive esperanças que Laura planejava se vingar de uma forma literal, também estuprando Andrew numa cena à la Millenium, mas a personagem estava mesmo em busca de uma confissão do homem.
De qualquer forma, não deu certo e tivemos de entrar no último episódio com a amarga sensação de que talvez Andrew nunca fosse ser realmente responsabilizado. O lado bom: Laura não desistiria tão fácil. A grande verdade é que o próprio Andrew se entregou ao ligar para ela e, acidentalmente, deixar escapar que ele havia filmado o estupro. É aí que encaramos uma possibilidade real de finalmente capturar o criminoso, quando a professora decidi roubar o celular do homem e descobrir o local onde as gravações ficavam guardadas.
O caminho da descoberta de Laura e a entrega das filmagens para a polícia até que acontece rápido, sem enrolação. Isso talvez tenha ocorrido pelo real clímax que a série procurava: o assassinato de Andrew.
A última cena mostrou todos afetados pelas ações do criminoso e em seguida seu corpo. O público teve um segundo para pensar em uma satisfatória conclusão com o suicídio de Andrew, mas o close que vem em seguida deixa claro, ele morreu com um corte no pescoço.
Não acho que a ideia era emplacar um cliffhanger, mas só tentar levantar outra discussão, que aborde os efeitos de ação e reação, e como um ato pode ter consequências fatais.
Após seis episódios a produção chegou ao fim se mostrando rápida e de qualidade. Liar deixou uma verdadeira lição de como abordar um enredo que vá além da diversão, e agregue muito mais à vida do telespectador.