O ator uruguaio radicado no Brasil Roberto Birindelli está entre os queridinhos do mundo das séries e também dos cinemas. Só neste ano, ele esteve no ar nos seriados Um contra todos e Conselho tutelar. Nas telonas, o artista está em cartaz no longa-metragem Teu mundo não cabe nos olhos e estreia em breve com O olho e faca.
Esse ano ainda é um ano de gravações. Birindelli retorna para as novas temporadas de Um contra todos e A vida secreta dos casais e estreia a novata Irmãos Freitas, que é inspirada na história do ex-atleta Acelino Popó de Freitas. Ao mesmo tempo, ele está envolvido em outros dois longas-metragens. Tudo isso enquanto ainda está no ar na novela Apocalipse, da Record.
Ao Próximo Capítulo, o ator falou sobre a agenda lotada de projetos, as experiências ao longo da carreira, projetos futuros e até o início na carreira e também do Brasil. Confira!
Você estará em Irmãos Freitas, do canal Space. O que pode contar sobre esse projeto e sobre o seu personagem?
É muito legal, a história de Popó (Daniel Rocha), o boxeador, e seu irmão Cláudio (Rômulo Braga). Faço o olheiro argentino que descobre o Popó e o leva a lutar nos EUA. É um prazer trabalhar com os dois diretores, Sérgio Machado (Cidade baixa) e Aly Muritiba (Para minha amada morta), e ver a dedicação com que se jogaram sobre o projeto, que tem supervisão artística de Walter Salles.
Recentemente, você esteve em A vida secreta dos casais, Um contra todos e Conselho tutelar. Como tem sido para você a experiência em séries nacionais e em fazer tantos personagens tão diferentes?
Trabalhar em séries é relativamente novo para gente. E é muito diferente das novelas. O roteiro está pronto antes de começar a gravar, então podemos preparar com mais cuidado todo o arco do personagem, ensaiar mais, e desenvolver mais cada cena. Nesse sentido é mais parecido com o cinema. O mais surpreendente são as temporadas seguintes. Cada nova temporada, apesar de estarmos atuando sobre o mesmo personagem, é como uma estreia. E é uma maneira diferente de programar o trabalho do ano. Já sei que vou estar cinco meses do ano envolvido nesses trabalhos.
Você está em um momento em que está envolvido em vários projetos na televisão e no cinema. Como é conciliar tantos trabalhos?
Realmente é complicado. Tem pela frente dois longas, (que são) coproduções: Águas selvagens (Brasil e Argentina), que vai rodar em Buenos Aires e em Curitiba, e Two shots of tequila (Colômbia, USA e Brasil) que roda em Los Angeles. Tem três séries que vão rodar as temporadas seguintes, Um contra todos (FOX), A vida secreta dos casais (HBO), Irmãos Freitas (Canal SPACE), e um projeto de novela. Sempre tentamos equilibrar agendas. Já teve dia que gravei em Cuiabá de manhã (o longa LOOP, de Bruno Bini), voei para São Paulo gravar a série Irmãos Freitas, e no dia seguinte de volta para o Rio de Janeiro para gravar Apocalipse, na Record. Afff (risos).
Esse também será um ano bacana para você no cinema. O que pode contar sobre os seus personagens em O olho e faca e Teu mundo não cabe nos olhos?
O olho e a faca, além de um filme, foi uma experiência de vida. Conta um drama na vida dos petroleiros. Escolhas em situações limites. Para rodar este longa, ficamos embarcados 12 dias numa plataforma de petróleo em alto mar, vivendo a vida off shore de petroleiros. A grandeza do alto mar, baleias passando embaixo da gente o tempo todo, o risco presente a cada momento e a parceria e dedicação de Paulo Sacramento e toda a equipe. Faço o engenheiro responsável pela segurança da plataforma, e o amigo mais próximo do Engenheiro de produção e protagonista do filme (Rodrigo Lombardi). Teu mundo não cabe nos olhos, acabou de ser lançado. Edson Celulari faz o papel de um pizzaiolo cego. Soledad Villamil (O segredo de seus olhos) é a mulher dele. Faço o Dr. Jantzen, cirurgião que desenvolveu um tratamento que pode devolver a visão. Um drama sobre como podemos ver o mundo
Desde 2008, você tem feito uma novela atrás da outra. Como tem sido a experiência agora em Apocalipse?
Bem, tenho me dedicado bem mais a cinema e séries, mas participo de algumas novelas também. Apocalipse acaba se inserindo na série de novelas de temática religiosa, então é mais focada na mensagem do que propriamente numa narrativa ou estudo psicológico dos personagens. Foi muito bom encontrar velhos amigos, Samara Felippo e Fernando Pavão, e novos parceiros, Igor Cosso!
O que te atrai na hora de escolher um personagem?
Ah, desafio, a complexidade, uma curva dramática instigante. Olha por exemplo Pepe, o chefe do tráfico de Um contra todos, da FOX. Não é um presente pra qualquer ator? Ainda mais na mão do Breno Silveira!!!
Você tem alguma preferência por algum formato específico entre cinema tevê e teatro?
Uia, pergunta difícil. Sushi, churrasco ou fondue? São experiências tão diferentes e prazeirosas… Comecei em 1986 no teatro. Nos anos 1990 começou o cinema. Em 2008 foi a vez das novelas, e recentemente as séries. Ultimamente tenho focado mais em cinema e séries, mas tô doido pra voltar pro teatro. Difícil é conciliar agendas.
Você e sua família se mudaram para o Brasil por conta do regime militar no Uruguai. Como foi para vocês o início no país?
Nada fácil mesmo, vida de imigrante é um eterno não-pertencer. Novas línguas, idiossincrasias, modos de vida, padrões, maneiras de ver o mundo, sofrer bullying, não conviver com os amigos de infância. Mas por outro lado, o que não te mata, te torna mais resistente. Vem uma sensação de calma, de que você pode se virar em qualquer situação.
E como foi o seu início como ator? O que, lá atrás, te atraiu nessa profissão?
O ator surgiu bem depois. Comecei tendo aulas de pintura e desenho aos 5 anos, no Ateneu de Montevidéu. Mudei com meus pais aos 15 anos para Porto Alegre. Fiz faculdade de arquitetura. Na faculdade tive um colega mímico, e comecei a trabalhar com ele. Me interessei também por dança moderna e contemporânea, e fazia aula direto. Escrevi livros de poesia marginal nos anos 1980. Depois em rodas de poesia dramatizada. Daí pro teatro foi um pulo. Em Porto Alegre surgiu o Cinema, e também curtas para passar na TV local. A mudança era projetada para SP, para trabalhar com teatro. E aos 45 do segundo tempo surgiram convites de atuar em cinema e TV no Rio, e cá estamos.
Você é formado em arquitetura. Você usa os seus conhecimentos da graduação de alguma forma? Gosta, por exemplo, de fazer projetos para a sua própria casa ou de amigos?
Fiquei 9 anos na faculdade (risos). É que trabalhava na indústria – empreendedor – para garantir meu sustento e pesquisava e atuava em grupos de teatro ao mesmo tempo. Arquitetura me permitiu o estudo aprofundado da história da arte. Como em cada época os artistas reagiam a seu tempo, e assim ter subsídios para entender nosso tempo, e como reagir a ele. Depois me formei em artes cênicas, e fui estudar na França, Itália, Dinamarca, e trabalhar em grupos de lá. Bagagem, um dia a gente usa. Dentro da Arquitetura, sempre me dediquei mais a urbanismo e, mais precisamente, a mobilidade urbana. Cheguei a fazer parte de mesas de discussão e fiz palestras na ECO92 e na RIO+20 sobre o tema.
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