Pegue uma pitadinha de Estrelas, um naco de Caldeirão do Huck e coloque tudo numa enorme forma já preenchida com Brasil legal. O resultado dessa mistura toda é Lazinho com você, programa de entretenimento que a Globo estreou domingo (10/12), num horário ingrato e esquisito: imprensado entre A cara do pai e o filme do Temperatura máxima por volta das 13h30. A atração merecia uma faixa mais “privilegiada”.
A intimidade entre apresentador e público aparece desde o título. Lazinho é como amigos chamam o ator Lázaro Ramos. “Cheguei, não. Chegamos!”, diz Lázaro, na primeira frase do episódio de estreia. Essa interação com o público dá o tom de Lazinho com você. Lázaro sai às ruas, conversa com as pessoas (é impressionante como ele deixa os anônimos à vontade ao lado dele), entrevista famosos, volta pros anônimos. Numa espécie de Regina Casé do século 21, Lázaro convoca o público a participar do programa pelas redes sociais. Convite feito há tempos proporcionou que a estreia já contasse com vinhetas, ilustrações, música de abertura, vídeos com depoimentos e coreografias ー tudo isso produzido pelo público e, em grande parte, de produção coletiva.
O que parece ser o grande trunfo de Lazinho com você pode também ser a maior armadilha. A produção coletiva é irregular. Temos boa música para coreografias batidas, ilustrações que funcionam seguidas de traços infantilizados. A edição, rápida no gatilho, ajuda a minimizar isso e a simpatia de Lázaro salva muita coisa que não é tão boa assim.
Os episódios de Lazinho com você partem de uma pergunta. A da estreia foi “o que você quer perguntar?”. A próxima será “qual é a gíria para dinheiro em sua cidade?”. A minha é: será que isso vai dar certo?
Bem, a primeira até que deu. Com a pergunta na cabeça e a câmera nas mãos (como balança a câmera de Lazinho!), o ator/apresentador extraiu perguntas interessantes, bobinhas, divertidas… enfim, passou por vários estados brasileiros (posso estar enganado, mas senti falta do Norte do país) e conversou com um tanto de gente. Mas foi de Lázaro a provocação que valeu o programa. Ao ouvir um rapaz dizer que o que o mais o faria feliz naquele momento era ajudar o outro, lançou a provocação. Até quando a solidariedade do brasileiro desaparece quando as câmeras são desligadas e não há luz sobre o solidário? Garantiu o momento reflexão do almoço de domingo.
Um dos quadros da estreia foi o Me representa?, em que Lázaro recebe o pedido de um telespectador para representá-lo em uma situação difícil. Ele explica que pode ser desde pedir aumento (pra onde manda o vídeo, Lazinho?) até mediar uma conversa difícil.
Era esse o desejo de Ana Maria Gomes, que conversou com Lázaro no Parque de Águas Claras. Quase num divã, ela falou sobre as dificuldades que o casamento dela atravessa. Ficou acertado que Lázaro se vestiria como ela e iria ao encontro do marido com um ponto eletrônico no ouvido falar para ele o que ela não tinha coragem de dizer. Lázaro arrasou como terapeuta de casal e, mais ainda, como ator, nos dando uma palhinha do processo criativo dele. Depois da conversa, ficou a dúvida: o casal se acertou? Lazinho com você ficou devendo a resposta. Quem sabe virá em outros episódios.
Outras histórias foram contadas na estreia ー uma que caberia perfeitamente no Caldeirão do Huck. Lázaro já havia provado no Espelho, ótimo programa que comanda no Canal Brasil, que é bom entrevistador. Só me pergunto se o horário escolhido para o programa não poderia ser revisto. Domingo merece um programa bom e que gere reflexões, sim. Mas recheio de sanduíche de pão dormido não dá!
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