Os novos episódios do seriado chegaram na última sexta-feira (19/7) à Netflix. Apesar da empolgação dos fãs, La casa de papel Parte 3 é, de certa forma, uma repetição do que já foi explorado anteriormente na produção
Quando La casa de papel foi renovada pela Netflix, o sinal de alerta — pelo menos em mim — apitou. A produção, que agora é original do serviço de streaming, foi concebida como uma minissérie pela rede televisiva espanhola Antena 3, com 16 episódios e uma trama fechada, que deixava gancho, mas não necessariamente precisaria continuar. O sucesso estrondoso do seriado que entrou no catálogo da Netflix em dezembro de 2017, um mês após o fim da exibição na tevê da Espanha, fez com que a plataforma crescesse o olho e renovasse a história para uma terceira parte.
La casa de papel Parte 3, como está sendo chamada a sequência, estreou na última sexta-feira (19/7) no streaming com oito episódios. A produção começa três anos após o golpe na Casa da Moeda da Espanha. Cada um dos assaltantes sobreviventes vive uma nova vida divididos em casais e espalhados pelo mundo: Rio (Miguel Herrán) e Tóquio (Úrsula Corberó); Nairóbi (Alba Flores) e Helsinki (Darko Peric); Denver (Jaime Lorente) e Estocolmo — a nova identidade de Mónica — (Esther Acebo); e Professor (Álvaro Morte) e Lisboa — apelido adotado pela inspetora Raquel Murillo (Itziar Ituño).
Tudo parece bem, até que Tóquio decide que aquela vida pacata ao lado de Rio em uma ilha isolada, não lhe basta. Ela termina com o amado e segue para mais uma aventura. O problema é que o apaixonado Rio não consegue superá-la e entrega um comunicador para que eles possam conversar. No primeiro momento em que o ex-casal consegue se falar pelo aparelho, a Europol recepta a ligação e identifica a localização dos dois. Não demora para a polícia encontrar Rio. Avisada pelo ex-amado, Tóquio consegue fugir. A personagem se vê obrigada a contactar o Professor para sobreviver e, mais do que isso, para começar uma missão em busca de salvar Rio.
Isso gera uma convocação dos outros assaltantes para a execução de um novo plano. Mas resgatar Rio não é invadir uma prisão. Sem sequer saber onde ele está, o time terá que fazer um novo “roubo” para forçar a Espanha a devolvê-lo. O Professor decide, então, executar um plano já pronto, mas que estava engavetado pelo inúmeros riscos: o assalto ao Banco da Espanha, que havia sido planejado anos antes por Berlim (Pedro Alonso) — por isso a aparição do personagem na Parte 3 mesmo após ter morrido no final da Parte 2. Em um roubo bem mais complexo, o time precisa de novos integrantes, assim chegam Palermo (Rodrigo de la Serna), amigo de Berlim — que rende momentos de discussão sobre machismo e homossexualidade; Bogotá (Hovik Keuchkerian); Marselha (Luka Peros); e Gandía (José Manuel Poga).
Crítica de La casa de papel Parte 3
La casa de papel começa bem, estabelecendo como está cada um dos personagens pelos quais o espectador se apaixonou. É interessante ver o clima de romance entre Rio e Tóquio; a vida em família criada por Dever e Estocolmo com Cincinnati (filho deles) e do Professor com Lisboa, que está acompanhada também da filha e da mãe; e a bela amizade criada entre Nairóbi e Helsinki. Até ver (a chata da) Tóquio cometendo os mesmos erros é bacana para a narrativa.
O início da terceira parte consegue ter um bom ritmo. É ágil, sem enrolação e até tem um desenvolvimento diferente das demais partes. O problema começa a aparecer conforme a trama ganha corpo. Ver o time novamente em um assalto é um déjà vú. Muito do que acontece durante o roubo é muito semelhante à narrativa anterior: os reféns de macacão e máscara; Nairóbi comandando as operações — se antes ela mandava na impressão do dinheiro, aqui ela fica à frente do derretimento das barras de ouro –; o Professor em contato com a polícia e seus joguinhos; os erros de Tóquio; e até a presença de Palermo fazendo as vezes de Berlim com o comando do assalto e comentários machistas, logo rebatidos pelas personagens que estão ainda mais empoderadas.
Talvez fosse mais interessante que a missão do time se centrasse de fato em resgatar Rio de alguma prisão ou até mesmo do esconderijo em que ele foi mantido enquanto era torturado. Assim, a série poderia explorar outras narrativas. Mesmo assim, La casa de papel Parte 3 entrega bons momentos. Como dito, é ótimo rever os personagens e seus desenvolvimentos. Helsinki ganha mais tempo de tela, com boas discussões, e até Arturo Román (Enrique Arce), o Arturito, está de volta dando um ar nostálgico à série.
Apesar dos caminhos serem muito parecidos com o das partes anteriores, La casa de papel consegue ter outra motivação, o que faz com que a série tenha outras nuances. Agora, os assaltantes da Casa da Moeda são adorados pelo mundo. Se antes eles queriam a grana para mudar de vida, dessa vez, o time quer quebrar o sistema mais do que nunca. Nessa hora, inclusive, a série segue um caminho desenhado em Mr. Robot com a FSociety. Uma pena que a série não saiba explorar tanto por essa trajetória, que poderia sim entregar uma grande inovação. A outra novidade é o maior número de cenas de ação, demonstrando que o orçamento cresceu.
A Parte 3, assim como a Parte 1, termina abruptamente, o que indica que uma Parte 4 está certa e provavelmente já gravada. Basta saber se La casa de papel continuará em alta e fidelizando o público como fez antes. Para isso, precisa sair desse sensação de “replay”, ou logo logo se torna uma How to get away with murder, refém de um formato que não costuma ter sucesso quando usado exaustivamente. La casa de papel Parte 3 entretém, mas não entrega novidades.