Representatividade importa, sim! Presença de Juliana Caldas em O outro lado do paraíso dá visibilidade a pessoas com nanismo
A novela O outro lado do paraíso estreou há algumas semanas dando visibilidade a uma parcela da população que costuma ser ignorada na telinha: as pessoas com nanismo. Apesar de representarem mais de 20 mil indivíduos no Brasil, é raro ver anões retratados na televisão. E, nas poucas vezes em que ocorre, a representação costuma cair no estereótipo, a exemplo de casos de programas humorísticos.
Felizmente não foi isso que aconteceu no folhetim de Walcyr Carrasco. O autor, que já tem histórico de inclusão em suas novelas — retratou autistas em Amor à vida (2013) e contou com uma atriz cega, Danieli Haloten, em Caras & bocas (2009) —, tem conseguido fazer um bom trabalho ao incluir a personagem Estela, interpretada pela atriz Juliana Caldas, com destaque na história.
O papel é extremamente carismático, Juliana tem mostrado boas atuações ao lado de Marieta Severo, que vive Sophia, a mãe (megera) de Estela, e, o mais importante, o enredo debate o preconceito sofrido por essas pessoas. Em O outro lado do paraíso, Estela sofre a rejeição da mãe Sophia, que a mandou para a Suíça como uma forma de mantê-la longe. De volta ao Brasil, Estela precisa lidar com o desprezo da matriarca e com os problemas do dia a dia, que, muitas vezes, passam despercebidos.
A novela revela, por exemplo, as dificuldades de Estela ao viver em uma casa comum e sem qualquer adaptação, o que a impede de executar tarefas simples, como sentar-se à mesa e abrir sozinha o chuveiro do banheiro. Nos últimos dias, a Sociedade Brasileira de Genética Médica apontou a importância da personagem em comunicado oficial: “Outro ponto importante é gerar conhecimento sobre as dificuldades como forma de combate ao preconceito com esse grupo, que, geralmente, sofre com uma visão estereotipada, caricata e vitimizada pela população em geral.”
Trazer o debate e a representatividade é algo inédito para a televisão aberta brasileira e por isso deve ser comemorado, afinal de contas, representatividade importa, sim (e muito!). Desde 2011, a série Game of thrones também tem discutido o tema mesmo que indiretamente por meio do personagem Tyrion, papel do ator Peter Dinklage. Assim como Estela, o Lannister é rejeito pelo pai Tywin (Charles Dance). Mas se é odiado pelo patriarca e pela irmã Cersei (Lena Headey), Tyrion conquista todos ao seu redor na série — inclusive quem está de fora da tela, a audiência e a crítica. No papel, Dinklage conquistou prêmios importantes como o Globo de Ouro em 2012 e o Emmy Awards em 2015 e em 2011.