Atriz de apenas 14 anos, Julia Svacinna enfrenta o desafio de viver a autista Beta de O mecanismo com ares de veterana
A política dá o tom de O mecanismo, série que chegou à segunda temporada na última sexta-feira (leia aqui a crítica). Mas o lado humano também tem vez com personagens, como a Beta, filha de Marco Ruffo (Selton Mello). A menina é autista e representa um desafio e tanto na carreira da atriz Julia Svacinna.
“Tivemos uma preparação bem intensa com o Tomás Rezende, assisti a vídeos e documentários sobre autismo. Fizemos um laboratório em uma escola para autistas e foi muito interessante perceber como eles se comportam e reagem às interferências externas, o que me ajudou muito a interpretá-la”, conta Julia, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Determinada, a jovem atriz de 14 anos vive uma fase da vida em que os jovens ainda não sabem que carreira seguir. O mesmo acontece com ela, que sabe que seguirá o caminho das artes, mas não exatamente em que ramo.
“Dizer que meu caminho é ser atriz acho que me fecha muitas portas e gosto da liberdade de construir o meu caminho aos poucos. Por exemplo, neste momento estou apaixonada por música, estou estudando canto, instrumentos e compondo”, comenta.
Julia, que pôde ser vista este ano na minissérie da Globo Se eu fechar os olhos agora, fala, na entrevista a seguir, sobre o canal de Youtube que lidera, a relação com a tecnologia, O mecanismo e outros assuntos. Confira!
Leia entrevista com Julia Svacinna!
A Beta de O mecanismo é autista. Quais foram os principais desafios de interpretá-la?
O principal desafio foi entrar no estado “zen” da Beta, pois eu, por natureza, sou bem agitada. Para isso era necessário uma concentração extra antes da cena. Tivemos uma preparação bem intensa com o Tomás Rezende, assisti a vídeos e documentários sobre autismo. Fizemos um laboratório em uma escola para autistas e foi muito interessante perceber como eles se comportam e reagem às interferências externas, o que me ajudou muito a interpretá-la.
Você chega a ter acompanhamento ou consultoria de alguém para não cair na caricatura?
Sim, com o Tomás como disse acima, mas o Selton e os diretores (Padilha, Marcão, Felipe e Daniel) me mostravam o grau de autismo que eles queriam em cena.
O mecanismo é uma série de forte carga política. Vivemos um momento em que as polaridades estão exacerbadas. Teve medo de que isso chegasse a você, de alguma forma?
Não. Quando começamos a gravar a primeira temporada eu tinha acabado de fazer 12 anos e não era muito conectada à política. Hoje tendo uma percepção um pouco mais ampla, acredito que estamos contando uma história inspirada em fatos políticos, que inclui corrupção, e essas histórias já são contadas desde que o mundo é mundo. Falo isso porque leio muito Agatha Christie, Sherlock Holmes e amo assistir a séries de reinados onde sempre existiam brigas por poder político, religioso e corrupção. É apenas uma história do mundo atual.
Você tem 14 anos de idade e muitos trabalhos na tevê e no cinema. Sente que ser atriz é realmente seu caminho?
Sim e não (risos). Desde sempre sou apaixonada por todas as artes. E isso inclui música, história da arte, fotografia, história do teatro… quando estou no set sempre presto atenção na direção, na fotografia, na continuidade, no figurino… mil possibilidades de uma história ser contada. Quero fazer faculdade de cinema para ter um repertório mais amplo. Dizer que meu caminho é ser atriz acho que me fecha muitas portas e gosto da liberdade de construir o meu caminho aos poucos. Por exemplo, neste momento estou apaixonada por música, estou estudando canto, instrumentos e compondo. Estou amando essa liberdade de me expressar e imagino que as pessoas possam se identificar com o que eu estou dizendo e assim posso ajudar a entenderem o que elas estão sentindo.
Você já se sente uma veterana? Chegou a dar dicas aos colegas de Se eu fechar os olhos agora?
Acho que nunca vou me sentir uma veterana. Devemos estar sempre aprendendo, o mundo tem tantas possibilidades. Cada trabalho é sempre tão intenso e esse em especial tive a oportunidade de fazer preparação e contracenar com pessoas como Mariana Ximenes, Jonas Bloch e Débora Falabella e vê-los se doando para a construção do personagem, foi incrível, uma das melhores experiências da minha vida.
Às vezes nos referimos a atrizes e atores da sua faixa etária como “ator mirim” ou “atriz mirim”. Esse rótulo te incomoda?
Não (risos). Na verdade, eu não ligo. A gente é tratado com a mesmo seriedade, respeito e profissionalismo que um ator consagrado e temos a mesma responsabilidade de transmitir a verdade do personagem. Os rótulos vão sempre existir, mas só atingem a quem permite.
Como conciliar as vidas de atriz e estudante? E com suas amizades, como você faz?
Toda vez que algum professor novo descobre que eu sou atriz fala que eu sou uma guerreira, pois eu estudo em uma escola bem puxada (risos). Mas, na verdade, eu nunca tive problema com isso, pois tudo que me proponho a fazer faço o meu melhor até o fim. Como uma boa capricorniana tenho muito foco e responsabilidade. E apesar de ter uma agenda cheia eu vivo cada momento. Então quando estou com meus amigos, estou 100%. E nesses 7 anos de carreira tive a sorte de fazer muitos bons amigos dentro do set de filmagem, existe coisa melhor?
Seu canal no YouTube tem quase 300 mil inscritos. Como é sua interatividade com os seguidores?
Comecei o canal há menos de dois anos com vídeos em que me divertia com meus amigos, mas nesta nova fase estou feliz em mostrar um pouquinho mais da Júlia cantora. Aos poucos o público vai identificar essa mudança. Me comunico com meus seguidores através do Instagram, pois o YouTube bloqueou comentário de várias contas de menores. Mas amo interagir pelo insta, estou sempre lendo, respondendo os comentários e querendo saber o que eles pensam. Amo receber e dar esse carinho.
Sua geração já nasceu com a internet sendo uma realidade. Imagina-se vivendo desconectada?
Ah e como!! Esse assunto comigo dá o que falar. Sempre falei para minha mãe que deveria ter nascido na década de 1980, onde as crianças brincavam na rua. Acho que a vida era mais saudável. A tecnologia desconecta a gente da gente mesmo. Reclamo muito pois volta e meia todos os meus amigos estão olhando para o celular e não estão vivendo o momento. Ninguém mais lê livros… Sempre adorei analisar as pessoas e seus comportamentos e percebo que muitas usam os celulares como fuga. No recreio, por exemplo, pegam o celular para não se sentirem deslocados ao invés de enfrentar e tentar fazer novos amigos e crescer com suas atitudes, com os erros e acertos. Só assim podemos entender quem somos de verdade, quais são nossos limites, nossos pontos fortes e nossos pontos fracos. Vejo uma geração com muitos problemas emocionais, muitos mesmo, por fuga, por não enfrentarem, não assumirem ou sequer saberem quem realmente são. Amo tecnologia, mas como tudo acho que deve ser usada com equilíbrio. Nada em excesso faz bem.