Patrick Selvatti
Sucesso no Globoplay, a novela Todas as flores passa a ser exibida nesta segunda (4/9), na Globo, logo após Terra e paixão. A produção assinada por João Emanuel Carneiro — o pai da Carminha e da Nina de Avenida Brasil — é estrelada por nomes como Regina Casé, Fábio Assunção, Sophie Charlotte, Letícia Colin, Humberto Carrão, Caio Castro, Thalita Carauta e a brasiliense Mariana Nunes.
Em conversa exclusiva com o Próximo Capítulo, Mariana afirma que Todas as flores é sucesso por se tratar de uma novela radical, que vai ao extremo da maldade humana. “Como bom folhetim, tem vilões e mocinhos, mas personagens muito bem construídos”, observa. Segundo a intérprete de Judite, que é uma das protagonistas, as pessoas gostam de ver a luta do bem contra o mal, com os vilões ousados, mas personagens do bem que são humanos e visitam luzes e sombras. “Eles são muito complexos, e é difícil não se identificar”, argumenta.
A própria Judite, uma personagem do time do bem, que faz de tudo para proteger a afilhada, Maíra (Sophie Charlotte), está nesse lugar da ambiguidade. “Ela não revela o segredo da paternidade do Pablo (Caio Castro), mente sobre a origem do filho, e isso prejudica muito a relação deles. Ela também tem essa sombra”, explica a atriz, que destaca o que possui em comum com a personagem.
“Me identifico no lugar do cuidado com o outro, mas sem ser exagerada como ela, que era um pouco obcecada”, assinala. A costureira da Rhodes, inclusive, virou meme nas redes sociais por conta de seu bordão “tem o dedo da Zoé (Regina Casé) nisso”. “Odiei virar meme!”, revela Mariana, aos risos.
Originalmente, Judite seria uma mulher mais velha e branca. Atrizes como Eliane Giardini e Cláudia Abreu foram anunciadas, porém a personagem rejuvenesceu e passou a ser preta, como parte de um movimento necessário da tevê em colocar atores negros no protagonismo. “Esse movimento não tem como regredir, não dá para andar para trás”, conclui a atriz de 42 anos.
Uma novela que tem muitas coisas radicais acontecendo. Ela vai ao extremo do comportamento humano, da maldade humana, na realidade. Como bom folhetim, tem vilões e mocinhos, mas personagens muito bem construídos. Por exemplo, a maior vilã, ao mesmo tempo que comete atrocidades, conhece um amor de mãe que ela nem sabia que existia. E isso compadece quem assiste. Mas, as pessoas gostam de ver a luta do bem contra o mal, com os vilões ousados, mas personagens do bem que são humanos e visitam luzes e sombras. Eles são muito complexos, e é difícil não se identificar.
A Judite tem uma relação muito forte com a Maíra, um pouco codependente, e orbita em torno da afilhada. Como falei, os personagens são ambíguos: a Judite está do lado do bem, mas não revela o segredo da paternidade do Pablo, mente sobre a origem do filho, e isso prejudica muito a relação deles. Ela também tem essa sombra e não cuida da própria vida. É obsessiva com a ideia da felicidade da afilhada.
Odiei virar meme! (risos) Não gostei no começo, mas, depois, eu fui vendo como isso virou uma marca da Judite. Essa incoerência. Então, foi justo.
A novela tem muita coisa mais pesada, mas o formato trazia uma linguagem diferente, de série, até pela forma de assistir. Talvez na tevê aberta, como novela das nove, fosse dado um tratamento diferente, até pelo elenco. Foi uma novela onde o João Emanuel [Carneiro, o autor] deu liberdade aos atores para mexer no texto, construindo as cenas, sem mudar o sentido. E o trabalho do ator é sobre envolvimento.
No lugar do cuidado com o outro, mas sem ser exagerada como ela. Agora, não me identifico com a mentira. Eu preciso explanar a verdade, preciso falar sobre, não esconder. Mas a Judite tem uma fidelidade com a própria ética que eu compartilho. Eu só não mentiria sobre algo tão sério como a origem de um filho. Mas são muitas camadas, não dá pra rotular.
Esse movimento não tem como regredir, não dá pra andar para trás. Vai na fé é um grande exemplo do começo de uma mudança, o mínimo aceitável. De resto, penso que não adianta colocar negros e não dar trama, complexidade. E a Judite é uma mulher do povo, que mora na Gamboa, um lugar que é chamado de Pequena África. Ali, tem a associação com o samba, a Pedra do Sal, é próximo ao porto, onde pessoas escravizadas desembarcaram e muitos passaram a habitar aquele lugar preto. Ela tinha que ser preta.
Não tenho, mas quero ter filho. Estou no climatério, se eu quiser gerar, vou ter que fazer um procedimento. Sendo bissexual, inclusive. É uma ideia que habita, mas não tenho pressa, porque sei que é possível. É quase que curioso, no cinema também rolou esse lance da maternidade. Em Alemão, eu vivi uma mãe que fica presa e deixa o filho sozinho em casa em meio à guerra, já foi namorada do atual dono do morro, deixou esse mundo para viver a maternidade longe do tráfico. Em M8, vivo a mãe tem o filho na faculdade de medicina, enfrentando questões básicas, e ela é a base. Já a Joana, de Quanto mais vida melhor, trouxe um arco muito forte, ela teve uma trama muito bacana na novela: é médica, é preta, não tem namorado e decide, por ela mesmo, ser mãe. Ela tem seu querer e banca.
Amo Brasília! Tenho mãe, pai, madrinha, tias, primos, muitos amigos. Vou pouco, passei a pandemia no Rio, mas fiquei uma semaninha aí, entre São Sebastião e Águas Claras. Fui criada na 305 norte, estudei na Faculdade Dulcina de Moraes. Mas, no DF, raramente me reconhecem. Eu passo despercebida, de boa, até porque eu estou sempre diferente dos personagens. Uma vez, fui almoçar com o meu pai e uma amiga, e um casal ficou olhando muito, mas não sei se associaram meu rosto ao meu nome. Eu costumava ser parada muito por causa do [filme] Alemão, agora com Todas as flores no ar na tevê aberta, acho que vai rolar muito. Ou não, porque o cabelo da Judite era peruca. (risos)
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