Jessé Scarpellini: vem um novo galã por aí?

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No ar em duas produções do Globoplay, Jessé Scarpellini vive os bons moços Samuel de As Five e Pedro de Mar aberto

Em cartaz como mocinhos em As Five e no curta Mar aberto, Jessé Scarpellini acredita que “o amor de verdade faz a gente pagar a língua”. A frase é dele, em entrevista ao Próximo Capítulo, mas poderia ser ou do Samuel de As Five ou do Pedro de Mar aberto, ambas produções do Globoplay.

“Seja com alguém que é muito parecido com a gente ou muito diferente, acho que primeiro vem o sentimento e depois a decisão diária de como esses dois universos estão dispostos a se acompanharem e se a relação é feliz e vale a pena”, continua o ator.

Samuel e Pedro vivem o amor de maneiras diferentes. Samuel entra na trama para conquistar Keyla (Gabriela Medvedovski) e fazer o coração da menina sossegar. Estudante de agronomia, o rapaz, até então um agroboy fechado para o que é distinto do mundo dele, “descobre ser um cara sensível e aberto para aprender com as diferenças e pessoas com que ele jamais teve contato. As pessoas querem que os personagens sejam felizes, e no nosso caso, o romance acontece tão sem querer que acho que as pessoas vão se identificar.”

Já Pedro é definido por Jessé como “um cara que sonha em fazer cinema, mas ainda é muito molecão, ele se apaixona por Anna (Carla Diaz), que já está anos luz mais madura do que ele. Eles vivem um amor em todas as fases”.

Nos dois casos, o ator ressalta que a identificação entre os personagens e o público vai ser muito fácil, especialmente pela abertura ao amor e à evolução. “Eu comparo os personagens como pessoas que têm uma curva evolutiva nas suas vidas e que não resistem a mudanças.”

Assim como os personagens, Jessé também não teme mudanças. Apaixonado por teatro e por música desde a adolescência, a arte nem sempre foi a opção profissional do rapaz. “Na verdade fiz muitas outras coisas: fui office boy, tive um bar de espetos, depois me formei em administração, fui estagiário, bancário, trabalhei até em um hospital indígena na Amazônia como consultor financeiro”, conta, aos risos. Somente depois é que Jessé se entregou à verdadeira paixão: atuar. Depois do primeiro espetáculo ele nunca mais parou. Agora, as mudanças são de personagens, no palco ou nas telas.

Entrevista // Jessé Scarpellini

Foto: Fábio Audi. Jessé Scarpellini tentou várias profissões até encontrar o teatro

O Samuel entra em As Five para fazer par romântico com a Keyla. Em Viva a diferença, ela tinha um casal muito forte com o Tato (Matheus Abreu), o que está gerando alguns lamentos na internet. Como fazer o público torcer pelo Samuel, mesmo o Tato não estando no spin-off?
Isso parece como quando alguém que a gente gosta troca de namorado depois de a gente já ter virado amigo dele ou dela, né? Em geral, quando acontece isso comigo eu tento torcer para que as pessoas sejam felizes de verdade, juntos ou não. Acho que, no caso da Keyla, vai ser assim: as pessoas querem que os personagens sejam felizes, e no nosso caso, o romance acontece tão sem querer que acho que as pessoas vão se identificar sim.

Samuel e Keyla são bem diferentes entre si. Dá para manter um namoro assim? Como eles fazem com essas diferenças?
Se dá para manter um namoro entre pessoas diferentes? Vixxxe se dá! (risos) Quem nunca se apaixonou por um alienígena? (risos) Alguém completamente diferente de você. O amor de verdade faz a gente pagar a língua. Passar por situações que jamais imaginaríamos. Seja com alguém que é muito parecido com a gente ou muito diferente, acho que primeiro vem o sentimento e depois a decisão diária de como esses dois universos estão dispostos a se acompanharem e se a relação é feliz e vale a pena.

O Samuel se divide entre o escritório e a música sertaneja. Você também teve que se dividir para viver de arte?
Eu sempre quis ser ator mas tinha muito medo da instabilidade da profissão. Então fui fazer outras coisas. Na verdade fiz muitas outras coisas: fui office boy, tive um bar de espetos, depois me formei em administração, fui estagiário, bancário, trabalhei até em um hospital indígena na Amazônia como consultor financeiro (risos). Eu tentei ser feliz em tudo que você pode imaginar, mas não consegui. Por fim, estudei teatro e canto escondido por um tempo, por que não queria falar pra ninguém que meu sonho era ser ator. Finalmente eu fiz um teste, na verdade foram 9 testes, para um musical do Miguel Falabella e passei. Essa foi a virada da minha vida, joguei minha carreira de administração para o alto sem olhar pra trás e fui viver meu sonho. Desde esse dia eu nunca deixei de estudar teatro e artes em geral para continuar trabalhando e me alimentando artisticamente. Graças a Deus eu consigo viver de arte há 7 anos. Não é fácil, mas é o que mais me faz feliz.

Ao lado de Carla Diaz, em Mar aberto

Você está no Globoplay como o Samuel de As Five e o Pedro de Mar aberto. Tem como comparar os dois trabalhos?
O Pedro do Mar aberto é um cara que sonha em fazer cinema, mas ainda é muito molecão, ele se apaixona por Anna (Carla Diaz), que já está anos luz mais madura do que ele. Eles vivem um amor em todas as fases, é muito fácil se identificar com o curta e as músicas de Mar aberto. O Samuel é esse agroboy paulista bem clichê, que tem tudo pra ser um cara cancelado nas redes sociais. Mas como ninguém é uma coisa só, ele implode suas convicções e padrões antigos quando se apaixona por Keyla e por todo o universo que ela traz com ela. Ele descobre ser um cara sensível e aberto para aprender com as diferenças e pessoas que ele jamais teve contato. Isso particularmente me dá até uma esperança de mundo: pensar que as pessoas podem melhorar olhando para o próximo, tendo empatia e se permitindo evoluir socialmente. É óbvio que eu gostaria de ter o melhor dos dois personagens em mim, mas quando eu fiz esses trabalhos, eu emprestei a minha luz e a minha sombra. Então, acho que não sei o quanto eu tenho de cada um deles em mim, e vice-versa. Eu comparo os personagens como pessoas que têm uma curva evolutiva nas suas vidas e que não resistem a mudanças.

Fisicamente você está diferente nos dois trabalhos. Isso ajuda na composição?
Ajuda muito. Existe uma multidão de pessoas por trás de um personagem, além do diretor e da equipe criativa, tem a figurinista, o visagista que escolhe como vai ser seu visual por completo enfim. O fato de alguém usar bigode e não barba revela um mundo de informações e isso muda até a postura dos personagens. Pra mim é fundamental para a composição dos personagens.

Além de ator, você canta e é músico. Qual dessas vertentes apareceu primeiro na sua vida? Consegue ver essas carreiras de modo dissociado uma da outra no seu caso?
Eu sempre amei o ofício do ator. Quando era criança achava que tinha que ser muito rico para poder atuar. Depois que descobri que na verdade isso é uma profissão e se ganha salário pra isso, eu fiquei me questionando o motivo que todo mundo não queria ser ator. (risos) Mas eu cresci com esse sonho secreto, fui ao teatro muito tarde, mas a música já era muito presente na minha família. Somos em quatro irmãos homens e meu pai não tinha grana pra pagar cursos de inglês, informática etc para todos. Então ele dizia: “vou colocar vocês pra estudar música, por que a música vai abrir a cabeça de vocês para serem independentes”. Foi o melhor que ele fez. Eu e meus irmãos somos músicos desde criança. Eu fui o único que segui de fato a carreira artística mas todos tocamos instrumentos. Como ator eu acho ótimo saber outras artes, sempre me agrega ver uma exposição, ouvir uma música ou qualquer outra manifestação artística por que no fundo é a mesma matéria prima, a “expressão da vida”.

Você tem feito muitos musicais na sua carreira. São peças que exigem uma estrutura grande. Como o musical poderá voltar nessa fase pós-pandemia?
Eu espero que o teatro musical e o teatro dramático voltem cheio de saudade para os palcos, que as plateias encham as poltronas com toda a segurança necessária. Eu tenho certeza que cedo ou tarde isso vai acontecer. O teatro é milenar e já passou por muitas guerras e pandemias. Nós percebemos claramente como não conseguimos viver sem os artistas nessa quarentena. Isolados em casa, assistimos às séries, filmes, shows, ouvimos músicas etc. e isso é necessidade básica para a nossa saúde mental e sensação de pertencimento a uma cultura ou a própria expressão de humanidade. O teatro ao vivo é um programa cada vez mais moderno. Nada no nosso dia a dia nos dá a oportunidade de desligar o celular e ser catapultado para um outro universo por algumas horas, tirar férias de nós mesmos e sair embriagado de algum sentimento.

Você tem o projeto de formação O dia dos musicais. Já teve a experiência de atuar ao lado ou de assistir a um ex-aluno num espetáculo? Como é essa sensação?
O dia dos musicais é um projeto que eu toco há cinco anos com meu sócio e amigo Lurryan Nascimento. Esse projeto levou workshops de teatro, dança e canto para mais de 2000 pessoas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Eu estou tendo a oportunidade de trabalhar com uma grande e nova atriz que participou da edição em Recife, é a Dara Galvão, que agora vive em São Paulo e está em um projeto ultra secreto que talvez irá para os palcos depois que esse apocalipse de 2020 passar. (risos) É muito bom ver pessoas novas trabalhando e, principalmente, estudando para serem artistas interessantes. Quanto mais eu estudo mais eu vejo que as pessoas que eu mais admiro nos espetáculos, novelas e filmes também estudam muito, e inclusive são amigos de classe. Fiz um curso de Shakespeare mês passado em que no grupo on-line tinham atrizes consagradas como a Ana Lúcia Torre, a Giulia Gam e tantos outros que seguem investindo na pesquisa da atuação e aperfeiçoando seu trabalho. Isso é uma inspiração para entendermos que ser artista é um sacerdócio, nunca se para de estudar e se exercitar, mas sobretudo, por que estudar o que a gente gosta dá muito prazer!

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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