O documentário da Netflix apresenta os detalhes e questiona o andamento do caso Nardoni e o envolvimento da mídia em todos os passos da investigação
Por Pedro Ibarra
Há 15 anos, um crime tornou-se pauta não apenas em jornais, mas na boca do brasiliero. Em março de 2008, a menina Isabella Nardoni foi arremessada do sexto andar do prédio em que o pai, Alexandre Nardoni, morava. A menina chegou com vida no hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Uma extensa e exaustiva investigação se arrastou até se descobrir que o pai e a madrasta, Ana Carolina Jatobá, eram os responsáveis pelo crime brutal que teve como vítima uma criança de 5 anos. Em 2023, o documentário Isabella: o caso Nardoni revisita o momento que marcou a história recente do Brasil. A estreia está marcada para esta quinta (17/8) na plataforma.
A produção é dirigida por Cláudio Manoel, conhecido como ator do Casseta e planeta, e Micael Langer, documentarista responsável por produções sobre Wilson Simonal e Chacrinha. A intenção é rever totalmente o caso, pensando sobre como foram as atuações da polícia e da mídia e como todo contexto afetou na forma que as investigações e principalmente a culpa foi imposta.
O Próximo Capítulo já assistiu ao documentário e destaca que, apesar do tempo, o caso Nardoni ainda é uma ferida muito aberta no ideário brasileiro. Por mais que na época a cobertura tenha sido ostensiva, ainda há muito a ser respondido e, agora, com certo distanciamento, é possível entender nuances do caso que eram impossíveis há 15 anos.
Nunca será uma questão que o crime brutal foi cometido, mas o documentário questiona como a espetacularização de um caso como esse pode transformá-lo em um grande linchamento público, uma execução a céu aberto dos tempos da idade média. Levanta o ponto que a justiça deve ser justa e não apenas uma vingança para aliviar os ânimos de uma população sedenta por retaliação. Isso não significa que a condenação tenha sido um erro, o crime foi praticado e isso ninguém nega, mas o clamor popular alterou os rumos do processo. O que era dor e sofrimento, foi tratado como uma final de Copa do Mundo.
No final das contas, não houve, nem nunca mais haverá um caso da magnitude do Nardoni no que diz respeito ao envolvimento da sociedade brasileira como um todo. Porém, é necessário assumir os erros do passado para que não se tornem novos tropeços no futuro.