Série Impuros eleva o patamar das produções nacionais humanizando a discussão sobre tráfico de drogas e violência
A história parece batida: um jovem cresce numa favela carioca, acaba entrando no mundo do crime e precisa enfrentar a polícia. Mas a trama da série nacional Impuros, que tem direção de René Sampaio e de Tomás Portella, segue um caminho totalmente inesperado. Em vez de só debater o tráfico e a criminalidade no Rio de Janeiro nos anos 1990, a produção, que estreia na próxima sexta-feira nos canais FOX e teve exibição exclusiva na 51ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, é uma narrativa sobre pessoas.
No caso, especificamente, sobre Evandro (Raphael Logam), que sonhava em ser empresário, mas acaba tendo que servir ao Exército quando completa 18 anos e vê a vida mudar completamente quando uma tragédia acomete a família, o que o leva a querer vingança e, consequentemente, entrar no mundo do crime. “Apesar de ser um tema que a gente já viu várias vezes, é feito de uma forma diferente. O crime é um pano de fundo”, classifica o ator Sérgio Malheiros, que vive um dos jovens envolvidos no tráfico do morro da história de Impuros.
O diretor Tomás concorda e completa: “A série não tem como foco principal o crime. Para você ver, a antagonista do Evandro é a mãe dele. Muitas vezes quando a gente aborda esse tema e esse tipo de personagem, a gente esquece que aquele cara tem uma história de vida. Não é que a gente queira limpar a barra dele, mas contextualizar. A série não anda em função da droga, mas das relações”.
Os embates de Impuros
Impuros começa a partir da história de Evandro para depois ser ampliada com o outro protagonista, o policial Victor Morello (Rui Ricardo Diaz), outro personagem controverso, um agente alcoólatra que quer colocar Evandro atrás das grades. O ator conta que a série é uma mistura de estilos e explica como foi a preparação para o personagem: “É uma série de ação e de personagens. É uma história bem construída, muito forte e muito profunda. A gente teve um processo de preparação. Fomos entendendo que universo era esse, eu brinquei um pouco com a ideia de ser um estrangeiro nessa realidade, já que sou um dos poucos atores de São Paulo e não do Rio de Janeiro”.
O diretor brasiliense René Sampaio, conhecido pela trilogia baseada nas músicas da Legião Urbana encabeçada pelo filme Faroeste caboclo, explica a decisão pelo embate entre as figuras de Evandro e Victor: “Não é uma série que faz o coitadismo do criminoso e nem o heroísmo do policial. A gente buscou personagens humanos”. “Costumo dizer que Evandro é o cara certo, na vida errada, tem essa contradição”, completa Portella.
A história de Impuros, que será exibida às sextas às 22h30 nos canais FOX e FOX Premium, foi criada por Alexandre Fraga, policial aposentado que trouxe a experiência nas ruas para as telas. “A história (feita por ele) começa em 1989 e vai até os anos 2000. Tinha material para cinco temporadas. Ele participou do DNA da série, deu consultoria sobre os procedimentos policiais, mas depois eu acabei entrando na equipe do roteiro e fazendo a redação final”, explica Tomás Portella.
A trilha sonora é um dos destaques de Impuros. Para retratar o período dos anos 1990 da forma mais fiel possível, a produção aposta em canções da época, como o Rap da felicidade, que permeia boa parte da história e tem uma relação importante com a narrativa. “Compramos os direitos autorais das músicas dos anos 1990. A música também carrega a série com os personagens. Mas como muitas eram difíceis de comercializar, também criamos músicas originais”, adianta René Sampaio.
Duas perguntas / Zico Goes, diretor de conteúdo da FOX
Depois de 1 contra todos, Me chama de Bruna e Rio heroes, vem aí Impuros. O que pode contar da série?
O Tomás (Portella) e o René (Sampaio) conseguiram dar a uma história pesada, dura, de crime, de sangue, de morte, de violência e de tráfico tintas dramáticas, como se fosse uma história pessoal. É uma coisa de drama humano. Você tanto pode se assustar com as cenas violentas, quanto chorar. Parece que é justamente isso que a audiência quer, ela se engaja com personagens ambíguos e complexos, como os nossos dois protagonistas. Um é um policial que persegue o criminoso e outro é o criminoso. Mas você percebe que, na verdade, não tem muita essa distinção entre o bem e o mal. Os dois estão ali no fio da navalha, fazendo coisas boas e ruins, ao mesmo tempo são muito parecidos entre si. As pessoas querem personagens que sejam mais de verdade. Ninguém é só bonzinho, ou mal, e a série mostra isso.
Esses personagens ambíguos são uma característica de outras séries do canal. Essa é a fórmula que vocês descobriram?
A gente foi percebendo que a audiência se identifica com isso. Ela quer essa complexidade e essa ambiguidade. Isso é muito mais rico e dá ensejo para que a história continue. O conflito dos personagens não deve acabar, senão acaba a história. Aqui quanto mais conflituoso for o personagem, mais a chance desse conflito ser eterno. Já estamos desenvolvendo a segunda temporada. Essa série tem potencial de ir longe.