“Eu só quero é ser feliz / Andar tranquilamente na favela onde eu nasci / E poder me orgulhar /E ter a consciência de que o pobre tem seu lugar”, cantavam Cidinho & Doca em 1995. O clamor vinha embalado pelo ritmo do funk brasileiro, um gênero que havia conquistado as periferias cariocas e se expandia para todo o Brasil. Atualmente, um dos ritmos mais ouvidos no país, o funk, é destrinchado pelo documentarista Luiz Bolognesi na série Funk.doc: Popular & proibido, estreia da HBO Max na próxima terça-feira.
A história do gênero que começou em bailes que tocavam James Brown nos anos 1970 é construída como uma grande linha do tempo e contada pelos nomes que marcaram época desde os melôs até os dias atuais. De Mr.Catra e Valesca Popozuda, passando por Cidinho, Buchecha, chegando MC Guimé, MC Carol, Rebecca e Ludmilla, Bolognesi abre o livro do gênero que, assim como o título diz, vive na área cinza entre o popular e o proibido.
Antropólogo, Luiz Bolognesi iniciou o projeto há aproximadamente 7 anos, quando decidiu que queria entender o movimento que estava tomando conta da música brasileira. “Musicalmente me agradava, mas algumas letras me assustavam”, conta. Foi dessa curiosidade, que o cineasta decidiu ver o gênero musical por uma outra perspectiva, a de quem fez o funk acontecer. “Queria entender e mostrar de onde ele nasceu, como ele nasceu, por que esse nome”, lembra
Para fazer da ideia uma possibilidade, o documentário decidiu passar o microfone para quem já está habituado a usá-lo no funk. “Ao invés de eu fazer um documentário que eu estudo e explico, quem conta história é quem faz o funk. Os dançarinos, os estudiosos, os MCs e os Djs”, explica. Ele se preparou para fazer a série, mas decidiu que a melhor ótica para contar essa história é a de quem viveu. “Passei mais de 8 meses em pesquisa, lendo e fazendo pré-entrevistas. Porém, o documentário é abrir a câmera e fazer perguntas que eu nunca imaginaria as respostas”, completa.
Esse formato fez com que ele abrisse os olhos e entendesse novas realidades possíveis para além do que vive. Nomes que começaram lá no DJ Marlboro, mas chegam até os atuais MC Don Juan, estouraram a bolha em que Luiz estava. “Quando eu estava fazendo as entrevistas, estes meus preconceitos de homem branco de classe média foram sendo bombardeados pelas narrativas que as pessoas que fazem o funk me proporcionaram e isso tudo foi de câmera ligada”, afirma. “A série é isso, esse processo de escutar o que essa gente tem a dizer. Eles são brilhantes, são grandes artistas, com brilho nos olhos e que contam excelentes histórias”, reflete.
O documentarista acredita que para além da finalidade de reviver a história do funk, o seriado serviu para bons contadores de histórias compartilharem vivências. “Eu gostei demais de fazer. O difícil era cortar a câmera e encerrar a entrevista. Dava uma hora ou uma hora e meia de entrevista e a equipe avisava que acabou, mas eu queria mais”, diz Bolognesi, que já tem a pretensão de continuar. “O funk muda a cada seis meses, então a gente para dar conta do que ele se tornou da pandemia para cá, só se chegarmos à segunda temporada. Que eu quero fazer já já”, conclui.
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