A atriz Françoise Forton nasceu no Rio de Janeiro, mas 17 anos de sua vida foram em Brasília. Esse é um período que ela guarda com muito carinho no coração: foi na capital federal que Françoise se apaixonou pelas artes cênicas e deu os primeiros passos na profissão. “Foi onde fiz balé, teatro… A minha primeira peça profissional foi aos 11 anos em Brasília. Foi Édipo rei. No final, entravam duas meninas que eram as filhas do Paulo Autran e eu era uma delas. Logo depois eu fiz a estreia no espetáculo Os pais abstratos, na Martins Pena, com Glauce Rocha e Jorge Dória”, lembra.
A experiência a levou para a estreia na televisão em A última valsa, com 12 anos, onde atuou, desde então, em mais de 20 produções. A mais recente é a novela Tempo de amar, em que dá vida a Emília, uma mulher solteira e à frente do seu tempo. Na reta final, a trama chega ao fim amanhã para ser substituída por Orgulho e paixão. “Foi maravilhoso. A única coisa que posso dizer é que teremos boas surpresas para o final da novela”, define.
Assim que o folhetim se encerrar, Françoise Forton trocará as telinhas pelos palcos. Em abril, ela estreia no Rio de Janeiro o musical Estúpido cupido, uma referência à novela de 1976, em que viveu Maria Tereza Oliveira, a Tetê, papel que lhe deu maior projeção no início da carreira. “Eu quero muito levar esse musical para Brasília porque foi feito em comemoração aos meus 50 anos de carreira. Eu queria fazer uma forma que eu pudesse falar ou passar por todas as coisas da minha vida, que eu fiz”, conta.
Foi em Brasília que você começou a se interessar pela atuação?
Comecei a fazer teatro amador com o Teatro Equipe de Brasília, do diretor Donato Donati. Eu tinha 7 anos e a gente fazia na Escola Parque teatro infantil e também um auto de Natal nas cidades satélites. Na Festa dos Estados, eu desfilava pela barraca de Brasília. Mas nunca fui modelo ou manequim, sempre fui atriz. Essa vontade começou em Brasília. Fiz balé com a Norma Lillia, que foi madrinha do meu primeiro casamento. Estudei canto coral na UnB. Tudo começou em Brasília. Meu primeiro filme foi um curta para a BBC de Londres chamado Françoise dream, que era eu meio que bailando por Brasília para mostrar a cidade. Eu sou fruto da Brasília de uma época em que a cultura fervilhava e ainda fervilha. Mas, na minha época, tivemos muitos privilégios, como ver o Teatro Bolshoi na Concha Acústica.
Por que deixou Brasília?
Eu comecei a fazer testes e tive que sair de Brasília porque nessa época não tinha nenhum curso. A UnB não tinha artes cênicas, não tinha como estudar, fazer e viver como atriz. Mas eu adoro Brasília e tenho uma saudade imensa. Tenho dois títulos brasilienses que tenho muito orgulho. Sou Cidadã Brasília Honra ao Mérito e tenho outro título que se chama Embaixador Brasília, somos 19 pessoas que falam de Brasília mundo afora. Então eu tenho um orgulho imenso. Só não moro em Brasília, porque não teria como. Mas sempre que eu posso eu vou, agora, por exemplo, estou com muita saudade.
Como foi dar vida a Emília em Tempo de amar e o que você tem em comum com a personagem?
Emília é uma personagem muito sensível, digna e generosa. É uma mulher que tem uma cabeça um pouco mais avançada para a época. Ela é uma personagem muito rica. Essa sensibilidade e a maneira dela ser me propõe um exercício de sentir muito, que é muito bacana. Acho que tenho essa coisa da dignidade e no sentido de odiar a mentira. É algo que não suporto. Como para ela, para mim, os amigos são importantíssimos. Tenho amigos de Brasília que foram do colégio, da infância e da faculdade que são muito queridos.
Emília é uma personagem forte. Existe uma preocupação sua em buscar personagens assim?
Eu as prefiro, porque acho que quando a gente tem uma profissão que tem uma importância de modificar um país, a gente tem que fazer história. Sinto que enquanto artista somos visados, exemplos e despertamos esse toque no público. Mesmo o vilão serve de alerta. Eu gosto de personagens com cunho social ou que tenham uma mensagem sobre ser mulher porque gosto de ser mulher e quero que a gente seja vista como cidadã.
Qual balanço que você faz de Tempo de amar?
A novela é um sucesso e acho isso maravilhoso, não só por conta do trabalho, mas é porque a gente gosta de contar essa história de amor e desamor e de humanos em suas diferentes formas e sentimentos. Uma coisa que achei maravilhosa foi ter um elenco mais experiente e um mais jovem. Eu olho para a Vitória (Strada), ela é um amor, quer aprender, a gente troca muito mesmo não gravando junto. Também é bom reencontrar os amigos, como o Tony (Ramos) e Nívea Maria.
Além de Tempo de amar, você está no ar simultaneamente nas reprises do Viva. Como é para você rever as novelas?
Tem sido maravilhoso, porque no ano passado tive a chance de rever Tieta, que foi um grande sucesso na época e teve um sucesso tão grande ou maior de audiência. É uma novela maravilhosa. Também passou Por amor, que era uma novela que eu amava fazer. Agora vem Bebê a bordo e está passando Explode coração, a estreia do Projac. São todas novelas lindas. É gostoso ver os colegas, ver o que a gente caminhou, ver uma parte da história da televisão brasileira.
Depois da novela, quais são seus planos?
Acabo a novela e começo a ensaiar o espetáculo Estúpido cupido. É um texto do Flavio Marinho que conta a história de um grupo de amigos de infância que se reúne para fazer uma festa dos anos 1960. Isso para mim é a cara de Brasília. Na minha volta, eu estudei na Faculdade Dulcina e a gente fazia muitas festas temáticas para se divertir ou conseguir dinheiro. O espetáculo é desse encontro de amigos que não se vêem a tempos. O Flavio fez esse texto brincando com a minha vida, tirando sarro de coisas que eu fiz. A direção é de Gilberto Gawronski e a produção de Barata Produções. São 11 atores e três músicos. É um espetáculo que é uma grande festa. Acho que seria muito bom chegar a Brasília porque o teatro é como um acalanto, ainda mais no momento em que vivemos. Vamos estrear na primeira semana de abril, conta ainda com meu filho (Guilherme), que toca bateria, e minha sobrinha que faz a minha personagem mais jovem. Também quero fazer um projeto de Alcides Nogueira, que é A ponte e a água da piscina, um texto muito bonito. Também quero fazer um texto do Artur Xexéo, que ele escreveu sobre mim, Minha vida daria um bolero. E ainda estou tocando o projeto que chama Cena aberta, que tenho com o brasiliense Delson Antunes, que é um curso de teatro em Niterói para novos atores.
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