The leftovers estreou em 2014 na HBO com um misto de expectativa e receio dos espectadores. Tudo isso porque o seriado unia mistério — uma história sobre o desaparecimento de 2% da população mundial — com roteiro, criação e produção de Damon Lindelof, um dos nomes por trás de Lost (e de seu controverso encerramento).
A produção chegou a ser considerada pelo site The Hollywood Reporter como “a melhor série que ninguém está vendo” e até por isso — não ter audiência — acabou sendo encerrada em três temporadas, essa última com um número menor de episódios: oito em vez dos tradicionais 10 das produções da HBO. O final de The leftovers foi exibido no último domingo pela emissora e reafirma o que o The Hollywood Reporter (outros críticos e nós aqui do Próximo Capítulo) já havia constatado: essa é (foi) uma das melhores séries exibidas na tevê.
Quando The leftovers foi lançada, todo mundo pensou que a produção explicaria o que de fato aconteceu com os “arrebatados”. A série até pincelou isso ao longo das temporadas. Mas The leftovers sempre foi uma história muito mais sobre quem ficou, do que de quem foi. E isso ficou bastante claro em seu encerramento.
Talvez já receoso do que aconteceu no final de Lost, Damon Lindelof avisou que The leftovers não era “uma série sobre encontrar respostas” (e eu até me agarrei a isso para não sofrer, como você pode lembrar aqui). Essa declaração foi uma “meia verdade” (ou um jeito de não ser criticado, caso tudo desse errado de novo, como aconteceu com Lost). O episódio final, que levou o nome de The book of Nora (O livro de Nora, em tradução livre), tinha a seguinte sinopse: “Nada é respondido. Tudo é respondido. E então termina”. E isso sim foi uma verdade.
Ninguém ficou sabendo de fato o motivo pelo qual 2% da população foi retirada do planeta. Também não soubemos direito para onde eles foram (sabemos apenas o que Nora contou que viu: teriam eles sido levados para um outra dimensão?). Mas, novamente, nada disso importava. Porque a resposta que The leftovers nos devia era mostrar como essas pessoas que “sobraram” seguiram em frente. Durante três temporadas, The leftovers teve episódios excepcionais sobre a trajetória desses personagens que, no fim, buscavam apenas paz de espírito.
A série discutiu morte, suicídio, problemas mentais, fé e sentimentos, tudo isso em um cenário misterioso e duvidoso, em muitos momentos. A grande lição de The leftovers é que pode demorar, mas o ser humano consegue se reerguer e seguir em frente. E os melhores exemplos disso são exatamente os personagens da série. Laurie (Amy Brenneman) levou anos para realmente entender e sentir a ausência do filho (até então indesejado) que sumiu de seu útero. Kevin (Justin Theroux) teve que enfrentar os próprios demônios (ele mesmo!) até perceber que estava insatisfeito em sua vida. Enquanto Nora (Carrie Coon) demorou quase uma vida inteira para finalmente se recuperar da perda dos filhos e do marido. No episódio final, a personagem entendeu que foi ela quem foi deixada para trás. Mas tudo bem, ela poderia seguir em frente com Kevin.
Ao tomar essas decisões na trama, o produtor e criador Damon Lindelof foi extremamente inteligente e se safou de responder o que talvez não soubesse. O final de The leftovers é, sem dúvidas, a redenção de Damon Lindelof após Lost, além de ser um perfeito encerramento para os fãs e uma aula de atuação. Alguém por favor dê um Emmy para Carrie Coon e Justin Theroux. E se você ainda não assistiu a essa série, faça um favor: comece!
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