“Ainda vai levar um tempo pra fechar o que feriu por dentro.” Os versos de Assim caminha a humanidade, de Lulu Santos, embalaram a vinheta de abertura das primeiras temporadas de Malhação, lá em 1995. Pois é assim: com uma ferida aberta por dentro que estão os fãs da novelinha diante o anúncio (não oficial, diga-se) de que a Globo não vai produzir mais temporadas da novela.
Atualmente, vai ao ar a reprise da temporada Sonhos, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm em 2014. A ideia era que ela desse lugar a uma temporada que prometia ser histórica, por ser escrita por negros e ter mais de 80% do elenco de atores pretos.
Não seria a primeira vez que Malhação marcaria história na televisão brasileira. Claro, em 27 temporadas, houve fracassos (a última, por exemplo), mas eles são esquecíveis. Marcante, foi a primeira vez que a teledramaturgia procurou falar de igual para igual com jovens.
Não faltaram assuntos sérios a passar pela novela teen. Doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo, estiveram presentes nas temporadas Seu lugar no mundo (2015), com Henrique (Thales Cavalcanti), e em 2000, com Érica (Samara Felippo), ambos portadores do HIV. Violência urbana, gravidez na adolescência, aceitação, preconceito racial, homofobia, virgindade, início da vida profissional, relação com os pais. Foram vários os momentos em que Malhação pôde abrir espaço para a garotada se informar.
Em 2017, a cereja do bolo: a temporada Viva a diferença, de Cao Hambúrguer, ganhou o Emmy kids como melhor novela. A trama de Benê (Daphne Bozaski), Ellen (Heslaine Vieira), Lica (Manoela Aliperti), Tina (Ana Hikari) e Keyla (Gabriela Medvedovski) se passava em São Paulo e mostrava a força da amizade dessas meninas de realidades diferentes. Além disso, trouxe uma importante discussão sobre a qualidade do ensino público no país. O sucesso foi tanto que a temporada deu origem ao spin off As five, no Globoplay. A série tem uma temporada em cartaz e outras duas garantidas.
Além de todos esses temas importantes, Malhação serviu como trampolim para a carreira de muitos atores hoje consagrados. A gente se acostumou a chamar Malhação de novelinha, com carinho. Mas, na verdade, ela foi quase sempre um novelão. Fica a torcida para que a Globo reveja a decisão.
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