Lançado em 28 de dezembro, o longa-metragem Bandersnatch é uma produção da antologia Black mirror em que o destaque é a “interatividade”
Como uma forma de criar uma expectativa em torno da quinta temporada de Black mirror, que estreia em 2019, porém, ainda não tem uma data específica, a Netflix lançou em dezembro do ano passado um filme que integra o universo da antologia. É Bandersnatch, de David Slade, que promete uma das grandes inovações do audiovisual ao ser classificado como um filme interativo.
Em Black mirror: Bandersnatch, o longa-metragem acompanha a história de Stefan Butler (Fionn Whitehead), um jovem programador que começa a adaptar a narrativa do livro interativo Bandersnatch, de Jerome F. Davies (um autor fictício), que propõe multi-universos, em formato de jogo de videogame.
Com o projeto em mãos, ele consegue uma entrevista na empresa Tuckersoft — conhecida por desenvolver jogos de Colin Ritman (Will Poulter), um famoso programador –, com a qual fecha o contrato para desenvolver o game para ficar pronto até as vendas do Natal.
No meio disso tudo, o filme apresenta uma narrativa paralela que aborda os dramas pessoais de Stefan Butler, que perdeu a mãe ainda na infância e tem sérios problemas com o pai Peter (Craig Parkinson) desde então. Até por isso, ele faz terapia com a Dra. R. Haynes (Alice Howe).
Ao longo da história, cabe ao espectador tomar decisões no lugar do personagem. A cada escolha, a narrativa segue um rumo diferente, fazendo com que o público chegue a finais completamente distintos.
Metalinguagem e enganação
Por Adriana Izel
Bandersnatch chegou ao serviço de streaming dividindo opiniões. Há quem tenha achado a ideia da produção genial — temos esse ponto de vista aqui –, há quem tenha suas ressalvas. Faço parte desse segundo time.
O meu primeiro problema com o filme é que acredito que Bandersnatch não entrega o que propõe. A Netflix vendeu a produção como um longa-metragem interativo. E, sim, existe a interatividade. Porém, em vários momentos ela pode ser considerada inútil. Por exemplo, não importa quantas vezes você queira “aceitar a proposta” para Stefan trabalhar na empresa Tuckersoft contando com ajuda do time do local. É impossível tomar essa decisão.
Você escolhe e, na primeira vez, a produção deixa você seguir em frente, mas avisando, por meio do personagem Colin que você tomou a decisão errada. Depois, o filme volta e você deve escolher novamente. Caso você escolha a mesma decisão, você é transferido para uma tela de televisão com um comando escrito “voltar”.
Ou seja, nada de livre arbítrio. Os defensores de Bandersnatch podem dizer que o objetivo da produção é exatamente discutir isso, se aproveitando do recurso da metalinguagem: da mesma forma que Stefan percebe não ter livre arbítrio, o espectador descobre isso da pior maneira, não conseguindo tomar de verdade as decisões na produção.
No entanto, discordo. Acho que ao fazer isso, o filme perde a exatamente o que vendeu: a inovação da interatividade. Além disso, no meu caso, tive dificuldade de sentir empatia pela história e pelo protagonista. Achei tudo muito pesado, além de Bandersnatch lembrar os episódios fracos da quarta temporada de Black mirror.
Netflix, eu quero meu tempo de volta!
Por Vinicius Nader
Essa foi minha primeira reação ao terminar de assistir a Bandersnatch. A história até que me pegou: gostei da trama de Stefan (Fionn Whitehead) tentar criar o jogo de computador e, mais ainda, das autorreferências à própria Netflix e ao mundo da interatividade. O drama familiar por trás disso também me agrada.
O tema tem tudo a ver com a franquia de Black mirror, que teve três temporadas muito boas, mas caiu de qualidade na quarta: Temos mesmo livre arbítrio na vida? Pois é… não!
Nem na vida, nem em Black mirror: Bandersnatch. E, no filme, isso é decepcionante, se não enganador. Vou ao Procon hoje mesmo, pois me senti lesado ao não ter o direito de escolha em coisas realmente relevantes do filme — a ideia não era ficar escolhendo o que Stefan vai comer ou ouvir, mas sim, o que ele vai fazer.
As opções até estão ali, mas há alternativas “corretas” e, se você, não as escolhe, o roteiro segue por alguns minutos e volta ao ponto da pergunta que te levou ali. Frustração total. Confesso que algumas vezes repeti a resposta “errada” para ver no que dava — vai que era uma pegadinha esperta. Mas não era.
Se a ideia era apostar na interatividade, a Netflix errou feio. Na minha opinião, não tem jogo para Bandersnatch. É game over. Espero que não para a franquia toda.