felipe1

Felipe Cunha, o Antônio de Topíssima: “Acho que o importante é a busca da felicidade”

Publicado em Entrevista

Ator Felipe Cunha, o Antônio de Topíssima, comemora a leveza dada pela novela a temas importantes e fala ao Próximo Capítulo sobre a carreira

Entre a novela bíblica Jesus e a contemporânea Topíssima, o ator Felipe Cunha passou de um pesado e denso Jairo para um solar e otimista Antônio. Em poucos meses, o ator estava mais leve na fisionomia e no físico, pois ele emagreceu 16kg para o novo papel.

“Eu estava saindo da novela Jesus, na qual interpretei um sacerdote mais velho, pai de uma filha de 12 anos, um personagem mais pesado, mais denso. Já o Antônio é mais jovem, do morro, corpo muito mais adestrado ao movimento. Não é que foi preciso emagrecer, mas foi necessário para a construção da personagem ter uma aptidão física diferente do Jairo da novela Jesus”, explica Felipe, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Estar em uma novela contemporânea permite a Felipe tratar, por meio de Antônio, de temas importantes para a sociedade. “A novela faz isso com muito cuidado e delicadeza. Acho que o público vai gostar de acompanhar e ver essas questões sendo abordadas por outro prisma que não seja uma manchete de jornal, por exemplo”, reflete.

Na entrevista a seguir, Felipe Cunha fala sobre Topíssima, a parceria com Cristiana Oliveira, o processo de criação, teatro e muito mais. Confira!

Entrevista// Felipe Cunha

Ator Felipe Cunha
Felipe Cunha: “A musculatura diz muito sobre o personagem”

Topíssima é uma novela contemporânea que aborda temas como corrupção na polícia e tráfico de drogas. Acha que isso pode assustar um pouco o público acostumado às tramas bíblicas?
Acredito que não. Até porque tratamos dessas causas sociais de forma bem humorada e leve. E nada melhor do que o humor para a gente poder destrinchar as verdades que são necessárias. A novela faz isso com muito cuidado e delicadeza. Acho que o público vai gostar de acompanhar e ver essas questões sendo abordadas por outro prisma que não seja uma manchete de jornal, por exemplo.

O Antônio é taxista e morador do Vidigal. Quando a Sophia (Camila Rodrigues) o encontra nem pensa em se apaixonar por ele porque eles têm classes sociais diferentes. Acha que isso pode realmente ser um impeditivo ou pelo menos um dificultador para um namoro? Você já passou por isso na vida real?
Nunca passei por uma situação dessas, mas acredito, sim, que seja um grande impeditivo. Porque é por esse viés que passa a admiração. Se eu não admiro a pessoa, essa divisão das classes fica muito mais forte, muito mais latente do que a vontade de você construir algo com aquela pessoa. Então eu só construiria algo com aquela pessoa se ela estivesse no mesmo degrau que o meu, logo eu não admiro essa pessoa. Sendo assim eu não tenho o pilar principal de uma relação, seja ela qual for.

Antônio sofre preconceito por ser taxista e morador do morro. Acha que o brasileiro ainda tem que evoluir bastante com relação a isso?
Acho necessário uma evolução muito mais ampla do que simplesmente superar um preconceito de classes sociais, temos que rever nossos conceitos e nossos preconceitos quando se trata de cultura, etnia, sexualidade e religião. O brasileiro é muito fanático e ele expele muito conceitos que não são pertinentes ao berço dele. Eu acho que é aceitar o caminho do próximo, ele tem que ser algo evidente, que não deveria ser discutido. Cada um leva a vida como quer levar. Acho que o importante é a busca da felicidade.

Muita gente diz que é mais desafiador e gostoso viver os vilões. Quais são os encantos de dar vida ao mocinho?
Acho um desafio muito grande representar qualquer vida que não seja a sua. Como aprender, aos 32 anos a falar, andar e se comportar de uma forma diferente da que você está acostumado? Levando em consideração todos apontamentos da direção e da autora… Esse é um universo fascinante e encantador, mas é árduo. Você quer imprimir veracidade e honestidade no que está construindo. Conhecer o ser humano é um caminho árduo. O Antônio tem muito do Felipe, então eu tenho um carinho enorme com ele porque empresto sensações e sentimentos, coisas de um trato pessoal.

Para viver o Antônio você emagreceu 16kg. Porque isso foi preciso? Como foi esse processo para você?
Eu estava saindo da novela Jesus, na qual interpretei um sacerdote mais velho, pai de uma filha de 12 anos, um personagem mais pesado, mais denso. Já o Antônio é mais jovem, do morro, corpo muito mais adestrado ao movimento. Não é que foi preciso, mas foi necessário para a construção da personagem ter uma aptidão física diferente do Jairo da novela Jesus. Foi um processo intenso porque, pra você administrar o final das gravações de Jesus com o início da preparação de Topíssima, mais a atividade física intensa, realmente foram muitas informações em pouco tempo. Eu fico feliz, minha construção é sempre de fora para dentro, alguns preferem entender os sentimentos e amarguras do personagem e eu não. Prefiro desenvolver o estilo desse personagem, como ele se veste, como ele se movimenta, e aí o que vem interior que vai ser me apresentado aos poucos, eu acho que a musculatura diz muito sobre o personagem.

Você praticamente emendou Jesus e Topíssima. Como foi o processo de passagem do Jairo para o Antônio?
Deixar de pensar como Jairo e como Felipe, começar a pensar como Antônio. Realmente é um processo que demanda muito trabalho. Eu acho que a gente sempre carrega um pouco de cada personagem, assim como a gente empresta um pouco de si. Foi um prazo bem apertado, mas eu acho que assim como o ser humano, o personagem também está em evolução constante. Ainda estou entendendo e aprendendo a lidar com o Antônio, assim como estou aprendendo a lidar com o Felipe. No primeiro momento a minha maior dificuldade era eu me afastar da voz do Jairo, da sua densidade. A novela bíblica acaba sendo mais dilatada, no Vidigal a gente tem um ritmo diferente, é tudo mais imediato, então é por isso que o corpo é importante, dá o clique que muda a atmosfera.

No teatro você esteve ao lado de Cristiana Oliveira, sua colega de elenco em Topíssima. Vocês vão se encontrar na novela também, já que a personagem dela é mãe da Sophia?
Eu sou apaixonado pela Cris e pelo seu trabalho. Eu tive a sorte de ter esse encontro com ela no Feliz por nada, espetáculo de Martha Medeiros, dirigido pelo Ernesto Picolo. Nós viajamos cerca de dois anos pelo país, meu primeiro trabalho no Rio de Janeiro. Aprendi muito com ela e com a Luisa Thiré que eram as duas atrizes com quem eu dividia o palco. Acho que vai ser uma delícia encontrá-la em Topíssima e torço para que se repita em outros trabalhos futuros.

Como é a parceria entre vocês? Facilita contracenar com alguém de quem você já esteve ao lado?
Facilita sim, porque você já se conhecem, entendem o olhar, o tempo do outro, as deixas. Esse entrosamento reverbera nos personagens e ajuda a gente a conduzir e a descobrir juntos que tipo de relação é essa que a gente vai ter, que é diferente da que já tivemos em outros trabalhos e por aí vai.

Você também repete a parceria com o Sidney Sampaio, com quem esteve no teatro em As sereias da Zona Sul. Neste espetáculo vocês interpretavam duas mulheres. Como foi essa experiência?
As sereias é um texto delicioso, os precursores do besteirol no Brasil, texto de Vicente Pereira e do Miguel Falabella. Então, foi mais um corpo, mais uma voz, mais um tônus muscular que foi sendo concebido ao longo de um processo de ensaio de dois meses. A minha personagem, Dinha Marmelo Baby, era completamente distante de todos os registros do Antônio. Uma personagem eu de que tenho muita saudade, os maiores absurdos eram ditos por ela. E tem uma coisa em comum com essa novela, a gente usava o humor para falar de várias questões que nos afligem, são as possibilidades da comédia. O Antônio não traz todo o humor da Dinha, mas também é um personagem tão apaixonante quanto ela.

Viver uma mulher te ensinou alguma coisa sobre o universo feminino?
Me ensinou mais coisas sobre o universo masculino, sobre a sensibilidade, o zelo. Isso realçou meus cuidados com a figura da mulher.

Na minissérie Lia seu personagem era muito violento e abusava sexualmente de uma mulher. Como deixava a carga dele no set quando ia para casa?
É um grande desafio pro ator ter esse botão de liga e desliga. Você ter acesso ao personagem quando for necessário, e se desligar dele quando você tira o figurino. Esse personagem tinha uma energia muito pesada, muito intenso. A minha construção sobre ele foi 100% física, até pelo meu raciocínio, pelo meu emocional.  Porque eu acredito que um cara que chega a violentar uma mulher, não é um cara racional, ele é levado pela impulsividade. Ele era um personagem que eu tive muito cuidado para manter ele longe do Felipe, até porque o Felipe repudia ele.