Por Pedro Ibarra
Em 9 de janeiro de 2004, Priscila Belfort saía do escritório em que trabalhava vestindo uma calça cinza e uma blusa quadriculada, às 13h. Desde esse dia, a mulher nunca mais foi vista. Mais de 20 anos depois, Priscila continua desaparecida e a Disney+ destrincha o caso ainda sem solução em uma série documental de quatro episódios.
Priscila é irmã de Vitor Belfort, que ganharia o cinturão dos meio-pesados do Ultimate Fighting Championship (UFC) 22 dias depois do desaparecimento. Por esse motivo, o caso ganhou notoriedade nacional. Porém, as investigações seguiram por anos e nunca chegaram a nenhuma resposta do que possa ter acontecido. “Nossa ferida não foi sarada, nem nunca vai ser, pelo fato de que a Priscila não está com a gente e não sabemos o paradeiro dela”, diz Vitor Belfort.
O seriado traça uma linha cronológica dos acontecimentos e apresenta os erros na investigação, que chegou a ser fechada e foi reaberta recentemente. A ideia é mostrar a história de Priscila e, também, ajudar a dar luz à causa dos desaparecidos. “O documentário retrata muito bem quem a Priscila é. Nele, a Pri vai representar não só a família Belfort, mas também a família Silva, Santos e Correia. Vai representar a família de diversas pessoas mundo afora que tiveram pessoas próximas desaparecidas”, diz Joana Belfort, também conhecida como a Feiticeira de programas famosos da Band nos anos 1990 e 2000.
O caso ficou tão conhecido, que, a partir dele, várias iniciativas em prol de pessoas desaparecidas passaram a ser implementadas — a própria delegacia dos desaparecidos é uma delas. “Aconteceu apenas uma coisa boa nisso tudo, que foi eu entender que, para eu estar perto da minha filha, eu teria que lutar pelos desaparecidos”, lamenta Jovita Belfort, mãe de Priscila. “Todo dia que eu levanto sem vontade de pisar o pé no chão, que não quero sair da cama, eu lembro que, se eu não for, eu não vou estar ajudando a Priscila”, complementa.
Para o documentário, foram levantadas horas de material que vão de entrevistas até filmagens e fotos antigas de períodos da infância e da juventude de Priscila. Jovita lembra de momentos bons, como uma viagem em família para o Havaí, mas sabe que foi muito sofrido ter que voltar esses 20 anos no tempo. “Mexemos e reviramos coisas que têm 20 anos e que, se não fosse pelo documentário, eu não precisava nunca mais estar nesse lugar”, lembra Jovita. “Foram tempos de dor, eu fiquei doente mesmo. Era muita emoção. É muito difícil rever as coisas e escutar a vozinha dela, mas eu tinha um objetivo”, conta a mãe.
A família levanta a máxima de que, quando uma pessoa desaparece, um pouco de cada pessoa que a ama morre diariamente por ficar sem respostas, mas o otimismo ganha o discurso. “Esse documentário chega em um final feliz. Feliz de mostrar a verdadeira Priscila, como ela era amada por nós e pelas amigas, e é até hoje. Foi um parto diário, mas foi muito bom o resultado”, diz Jovita.
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