Por Patrick Selvatti
Na novela Vai na fé, o personagem Antônio teve uma passagem meteórica, porém carregou uma trama importante, sendo o instrumento da troca do exame de DNA de Jennifer Daiane (Bella Campos), filha da protagonista Sol (Sheron Menezes). Para o intérprete, Vandré Silveira, foi um presente. “Fiquei muito feliz e grato pela oportunidade de fazer uma novela que traz um frescor à teledramaturgia ao contemplar uma diversidade de personagens que espelha o mundo em que vivemos, nossa pluralidade. Muito bonito e revolucionário o que essa novela vem construindo no imaginário nacional em termos de representatividade”, contou o ator, de 42 anos.
Esta é a terceira obra de maior projeção na qual Vandré atua e, por coincidência — ou seria destino? —, todas trazem a fé como tema. Na primeira, a bíblica Jesus (2018), na Record, o mineiro de Belo Horizonte deu vida a Lázaro, o melhor amigo de Cristo. Logo em seguida, ele girou 180 graus para encarnar, na Globo, “o advogado do diabo”: Tibério, o criminalista que defende a demoníaca Josiane (Agatha Moreira), em A dona do pedaço (2019) — novela que abordou a positividade e perseverança de Maria da Paz (Juliana Paes) e trazia como tema de abertura a música Tá escrito, na voz de Xande de Pilares, que traz no refrão o verso: “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé”.
“Sou um homem de fé”, define-se Vandré Silveira. “Acredito numa força superior que rege todo o Universo. Penso que somos energia e atraímos aquilo que vibramos. Procuro sempre analisar minhas ações para que estejam de acordo com minhas convicções”, explica o taurino, que traz a palavra fé tatuada na mão esquerda. “Fiz no ano passado como uma lembrança constante da importância da fé. Sem fé, a gente não levanta da cama. Fé em si mesmo e na sua capacidade de transformação. Fé num propósito superior de comunhão e evolução espiritual de todos os seres”, conclui Silveira.
Para Vandré, ter fé foi essencial para superar o período da pandemia, em que ficou desempregado. “Foi um período desafiador, triste e sombrio. Mas, também, uma oportunidade de avaliarmos nossas escolhas, de nós atentarmos sobre a importância da coletividade. Todos enfrentamos desafios em nossas vidas e acredito na fé como uma poderosa força de transmutação e cura. A fé nunca te deixa desistir. Porque existir é uma benção”, finaliza.
Confira o bate-papo com o Próximo Capítulo.
Em Vai na fé, seu personagem é um instrumento utilizado para um delito que é cometido em nome do amor. Você acredita que por amor vale tudo??
Não vejo Antônio como um mau caráter. Difícil ficar ao lado do Theo (Emílio Dantas) depois de tamanha crueldade, o estupro da Sol. Mas não se pode desconsiderar que Antônio adulterou um exame de paternidade. É crime. Fez porque precisava de dinheiro. É malandro, mas também um pai de família. Enfim, há uma complexidade. Não podemos simplificar nenhum personagem, porque o ser humano é feito de muitas camadas. Não sei se vale tudo por amor. Me soa um pouco egoísta. Por amor vale ir até o limite em que não se prejudique uma outra pessoa. Melhor analisar caso a caso (risos).
A novela fala de fé, em uma temática evangélica que marcou também seu outro trabalho de maior destaque, a novela bíblica Jesus, na Record. E o Vandré, é um homem de fé? Como é a sua relação com a espiritualidade?
Sou um homem de fé. Acredito numa força superior que rege todo o Universo. Penso que somos energia e atraímos aquilo que vibramos. Procuro sempre analisar minhas ações para que estejam de acordo com minhas convicções. Espiritualidade para mim é ação. É amor e caridade. É estar em comunhão com o outro. Somos um. Aquilo que fere um irmão, também te fere. Respeito as religiões que se expressam na via do amor, como possibilidade de conexão com o sagrado. O amor é o verdadeiro milagre.
Já em A dona do pedaço, que também abordava a questão da fé por meio da positividade da protagonista Maria da Paz, você viveu o advogado que defendia a vilã Josiane. Como foi esse trânsito entre o amigo de Jesus para o advogado do diabo?
Foi um exercício maravilhoso de atuação. Havia feito Lázaro na novela Jesus, da RecordTV. Um homem cordial e empático que conviveu na sua infância com Jesus. Busquei exprimir amor na minha atuação. Logo depois, precisei dar vida ao advogado Tibério em A dona do pedaço. Apesar de defender uma vilã que havia cometido crimes horríveis, como assassinato, humanizei o personagem para que não fosse achatado como um cúmplice vilanesco. Ele estava cumprindo seu papel como advogado. Defendeu a vilã, mas na intimidade com sua cliente, ele discordou das ações da ré.
A fé te ajudou a superar a pandemia?
Tenho a palavra fé tatuada na minha mão esquerda. Fiz no ano passado como uma lembrança constante da importância da fé. Sem fé, a gente não levanta da cama. Fé em si mesmo e na sua capacidade de transformação. Fé num propósito superior de comunhão e evolução espiritual de todos os seres. A pandemia foi um período desafiador, triste e sombrio. Também uma oportunidade de avaliarmos nossas escolhas, de nós atentarmos sobre a importância da coletividade. Todos enfrentamos desafios em nossas vidas e acredito na fé como uma poderosa força de transmutação e cura. A fé nunca te deixa desistir. Porque existir é uma benção.
Esse foi um período em que você se dedicou às lives. Pode contar como foi esse momento?
Fiquei quase um ano sem trabalhar. Foi muito difícil. O que me trouxe alento, inclusive do ponto de vista artístico, foram as lives que criei nesse momento. A Live de Quinta abordava assuntos diversos, como arte, cultura, atualidades, estética, espiritualidade, etc. Também fazia a live Embalos imberbes de quarta à noite, com meu amigo e ator Rodolfo Mesquita. Um dia, numa dessas lives iniciais e aleatórias, brinquei dizendo que faria uma live que abordaria a sexualidade e que se chamaria Sexta Sexy. O nome é em homenagem a um extinto programa erótico da TV Bandeirantes que fazia a alegria dos adolescentes (risos). E a brincadeira ficou séria e fez sucesso. Conversei com vários especialistas da área, a psicanalista Regina Navarro Lins, que participava do programa Amor e Sexo, da TV Globo, com a sexóloga Dra. Paula Milena, com o terapeuta sexual Mahmoud Baydoun e com a sexóloga Érika Penha. Mas também convidei artistas, como a atriz Bárbara Reis, meu par romântico na novela Jesus, o ator Zéu Britto e a figurinista Cris Quaresma.
Nessas lives, o sexo foi um assunto que teve um certo protagonismo. De que forma você encara a sexualidade?
A intenção da live era uma abordagem leve, divertida e sem tabus da sexualidade e suas múltiplas possibilidades. Sempre com muita informação e respeito. Encaro a sexualidade com naturalidade e respeito pela diversidade.
Você é um homem muito bonito. Considera-se um galã? Enxerga algum problema em estar nesse lugar da sexualização do seu corpo?
Agradeço o elogio. Estou em paz com o espelho. Acho até que a maturidade vai lapidando a beleza. Me acho mais bonito hoje, aos 42 anos, do que aos 20. Quanto à sexualização… quem não gosta de ser desejado? Só não me atrai ser objetificado, mas o olhar é do outro, então não tenho esse controle. Busco nas minhas escolhas ser diverso, acho mais interessante.
O que mudou na sua vida após os 40?
Tenho notado uma mudança na percepção da vida e das relações que me cercam. Como se o olhar ficasse apurado para relações que não somam e que só subtraem. Quando o castelo de ilusões desmorona, o luto é importante, mas a clareza e a certeza de relações e caminhos mais sólidos e reais traz confiança e independência. Sinto que agora aos 42 anos, estou conquistando uma relação de amor próprio inegociável que não tem haver com auto referência egóica. Mas de auto cuidado, de escolher viver a vida com pessoas que agregam e comungam de princípios como o amor e o respeito.
Como cuida do corpo e da mente?
Faço análise há muitos anos. Saúde mental e física são fundamentais. Malho diariamente e estou com planos de aprender piano, voltar à aula de canto e quem sabe aprender cerâmica. A Arte e a Música são companheiras lúcidas nessa loucura que é viver.
Está solteiro? O que busca em uma pessoa para se relacionar?
Estou solteiro. Busco escuta. As relações são imediatistas e, muitas vezes, há pouca troca e escuta. Claro que o avanço tecnológico tem contribuído para isso. Só pensarmos em como diminuímos o hábito de falar ao telefone. Falamos pelo WhatsApp com seguidos monólogos de cada interlocutor. O ruído, a fala “encavalada”, o respiro, são fundamentais nessa comunicação. O saber silenciar quando o outro fala. Estamos enferrujando nossa capacidade de escuta. Percebo pessoas cada vez mais isoladas, com alta demanda de expressão e que não conseguem escutar e perceber o outro. Fico encantado quando conheço alguém que se interessa pelo universo do outro.
Você é vegetariano. Fale um pouco da sua relação com os animais.
Estive em cartaz, este ano, em duas temporadas do espetáculo A hora do boi. O monólogo aborda a história de um capataz de fazenda que mata bois e que se afeiçoa a um bezerrinho que ele passa a cuidar e que, por força da profissão, ele precisa abater. Um conflito que questiona o pensamento antropocêntrico de “superioridade” do homem em relação aos animais. Partimos dos ensinamentos de Francisco de Assis, um homem que acreditava e praticava a igualdade entre todos os seres. Busco exercer essa igualdade na minha vida. Me tornei vegetariano. Convivo com um cachorro (Chico) e três gatos (Ayin, Pingo e Luna). Seres que fazem parte da minha vida e que me trazem muita alegria e amor. Importante lembrarmos da Senciência, a capacidade que estes seres possuem de sentir e terem percepções de forma consciente. Chega de tanta exploração e crueldade!
Qual personagem você ainda não fez e gostaria muito?
Não tenho um personagem específico. Me atrai personagens complexos e que me possibilitam conhecer outros universos. Sou um ator de composição, de construção de personagem. Me encanta pesquisar as emoções e o histórico de cada personagem. Seu modo de falar e gesticular. Parece óbvio dizer isso, mas sinto que às vezes esse lugar é combatido, como se tirasse o frescor de uma atuação e a tornasse representativa. A arte do ator está nessa composição que não se deixa ver, no meu entendimento. Quando saímos de casa vestimos uma persona social. Parece contraditório, mas me sinto mais próximo de mim em cena, dando passagem a outras subjetividades. Em um tempo onde a Inteligência Artificial ameaça a criatividade humana, me dá um alívio pensar no caráter analógico do Teatro, da presença física, psíquica, emocional e espiritual insubstituíveis do ator em cena. Me encanta pensar na artesania da arte do ator. A arte da transformação, da capacidade de ser veículo, “cavalo”, de outras subjetividades.
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